A abertura de Timor Português à antropologia social no colonialismo tardio
o papel de Ruy Cinatti
DOI:
https://doi.org/10.4000/aa.1926Palavras-chave:
antropologia social, colonialismo português, Ruy Cinatti, Timor-LesteResumo
Neste artigo, seguimos a história de vida de Ruy Cinatti, poeta, agrónomo e (a partir de 1958) etnólogo, que viveu alguns anos em Timor Português e contribuiu para a abertura do território à antropologia moderna. Como naturalista e colector amador, foi tecendo uma rede científica internacional e construindo um estatuto de autoridade, que lhe permitiria aceder ao campo científico. Para esse facto, também contribuiu a rede de relações privilegiadas que mantinha no campo político. O artigo destaca a influência do antropólogo australiano A. P. Elkin no interesse de Cinatti por uma antropologia aplicada ao desenvolvimento e promoção cultural dos timorenses. A debilidade da antropologia cultural e social em Portugal (ausência de institucionalização e escassez de profissionais) e o descrédito que lhe merece o trabalho do antropólogo físico António de Almeida levam Cinatti a promover ou favorecer a entrada e o trabalho de campo intensivo de antropólogos franceses e anglosaxónicos no território, sob uma suposta tutela da Junta de Investigações do Ultramar. O Estado-império português, acossado pela crescente contestação ao colonialismo e pelas guerras de libertação em África, subscreveu a sua estratégia como forma de garantir a “ocupação científica” de Timor, a prioridade nacional e a credibilidade do país na cena internacional.
Downloads
Métricas
Referências
ANDERSON, Warwick. 2006. The cultivation of whiteness: science, health, and racial destiny in Australia. Durham: Duke University Press.
BOURDIEU, Pierre. 2003. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Unesp. Publicado originalmente em 1997.
CALLON, Michel, LASCOUMES, Pierre & BARTHE, Yannick. 2001. Agir dans un monde incertain: essai sur la démocratie technique. Paris: Seuil.
CINATTI, Ruy. 1985. “Conversas inacabadas [III] ”“ Há tanta maluqueira na nossa História!”. Grande Reportagem, 20: 40-41.
DIAS, Jorge. 1996. “Prefácio”. In: Ruy Cinatti, Um cancioneiro para Timor. Lisboa: Editorial Presença. pp. 9-11.
ELKIN, A. P. 1938. The Australian aborigines: how to understand them. Sydney: Angus & Robertson.
______. 1953. Social anthropology in Melanesia: a review of research. London: Oxford University Press.
GOMES, Ruy Cinatti Vaz Monteiro. 1949. De Timor. Lisboa: [s.n.]. Relatório apresentado à Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais.
______. 1950a. Esboço histórico do sá‚ndalo no Timor português. Lisboa: Junta de Investigaçõ es Coloniais.
GOMES, Ruy Cinatti Vaz Monteiro. 1950b. Exploraçõ es botá‚nicas em Timor. Lisboa: Junta de Investigaçõ es Coloniais.
______. 1950c. Reconhecimento preliminar das formaçõ es florestais no Timor Português. Lisboa: Junta de Investigaçõ es Coloniais.
______. 1956. “Em favor dos timorenses”. Cidade Nova, IV série, (5):306-310.
GUNN, Geoffrey C. 2009. “Timor-Leste (former Portuguese East Timor): from colonial anthropology to an anthropology of colonialism”. Review (Fernand Braudel Center), 32(3):289-337.
HICKS, David. 2011a. “A pesquisa etnográfica no Timor português”. In: Kelly Silva & Lúcio Sousa (eds.). Ita maun alin… O livro do irmão mais novo: afinidades antropológicas em torno de Timor-Leste. Lisboa: Colibri. pp. 31-45.
______. 2011b. Depoimento sobre Ruy Cinatti, Lisboa, 28.06.2011. Entrevista de áudio concedida a Cláudia Castelo.
______. 2017. “Research past and research present: doing fieldwork in Portuguese Timor and Timor-Leste”, In: Maj Nygaard-Christian & Angie Bexley (ed.). Doing fieldwork in Timor-Leste. Copenhaga: NIAS Press. pp. 32-57.
HODGE, Joseph M. 2007. The triumph of the experts: agrarian doctrines of development and the legacies of British colonialism. Athens: Ohio.
______. 2011. “Science and empire: an overview of the historical scholarship”. In: Brett M. Bennett e Joseph M. Hodge (eds.). Science and empire: knowledge and networks of science across the British Empire, 1800-1970. Basingstoke: Palgrave Macmillan. pp. 3-29.
JERÓNIMO, Miguel Bandeira & PINTO, António Costa (eds.). 2014. Portugal e o fim do colonialismo: dimensões internacionais. Lisboa: Edições 70.
LEAL, João. 2006. Antropologia em Portugal: mestres, percursos, tradições. Lisboa: Livros Horizonte.
LEVI, Giovanni. 1989. “Les usages de la biographie”, Annales: Économies, Societés, Civilisations, 44(6) : 1325-1336.
KOHLER, Robert E. 2007. “Finders, keepers: collecting sciences and collecting practice Robert E. Kohler”. History of Science, 45(4):428-454.
KUKLICK, Henrika & KOHLER, Robert E. 1996. Science in the field. Ithaca, N.Y.: Cornell University.
MATOS, Patrícia Ferraz de. 2012. “Mendes Correia e a Escola de Antropologia do Porto.” Lisboa: Tese de doutoramento em Ciências Sociais, Antropologia Social e Cultural, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa.
MEHOS, Donna C. & MOON, Suzanne M. 2011. “The uses of portability: circulating experts in the technopolitics of cold war and decolonization”. In: Gabrielle Hecht (ed.). Entangled geographies: empire and technopolitics in the global Cold War. Cambridge, Mass. e Londres: MIT Press. pp. 43-74.
O MUNDO PORTUGUÊS (org.). 1935. Roteiro do 1.º Cruzeiro de Férias à s Colónias de Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe e Angola: iniciativa do “Mundo Português” 1935. Lisboa: [Sociedade Industrial de Tipografia Ltda.].
OLIVEIRA, Alexandre. 2006. “Olhares sobre Timor: contextos e processos da antropologia de Timor”, Lisboa: Tese de mestrado em Antropologia: Patrimónios e Identidades, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa”ISCTE.
RAJ, Kapil. 2016. “Go-betweens, travelers and cultural translators”. In: Bernard V. Lightman (ed.). A companion to the history of science. Chichester (UK): Wiley Blackwell. pp. 39-57.
ROQUE, Ricardo. 2010. Headhunting and colonialism: anthropology and the circulation of human skulls in the Portuguese empire, 1870-1930. New York: Palgrave Macmillan.
SCHOUTEN, Maria Johanna. 2001. “Antropologia e colonialismo em Timor português?” Lusotopie, 157-171.
SHEPHERD, Christopher J. 2013. Development and environmental politics unmasked: authority, participation and equity in East Timor. Abingdon, Oxon: Routledge.
SHEPHERD, Christopher & McWilliam, Andrew. 2014. “Divide and cultivate: plantations, militarism and environment in Portuguese Timor, 1860-1975”. In: Frank Uekotter (ed.). Comparing apples, oranges, and cotton: environmental histories of the global plantation. Frankfurt/New York: Campus. pp. 139-166.
SILVA, Hélder Lains e. 1956. Timor e a cultura do café. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar.
SILVA, Maria Cardeira da & OLIVEIRA, Sara. 2013. “Cruzeiros de soberania: o primeiro Cruzeiro de Féras à s Colónias”. In: Maria Cardeira da Silva. Castelos a bombordo: etnografias de patrimónios africanos e memórias portuguesas. Lisboa: CRIA. pp. 261-284.
STILWELL, Peter. 1995. A condição humana em Ruy Cinatti. Lisboa: Presença. WISE, Tigger. 1985. The self-made anthropologist: a life of A. P. Elkin. Sydney: Allan & Unwin.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2017 Anuário Antropológico

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
DECLARAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS E DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO
ANUÁRIO ANTROPOLÓGICO
ISSN 0102-4302
ISSN ONLINE 2357-738X
Declaro que o mesmo foi apresentado somente ao Anuário Antropológico, periódico do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, e a nenhum outro tipo de publicação (em papel ou eletrônica, no Brasil ou no estrangeiro, em português ou em qualquer outra língua). Além do mais, esse texto não está sendo considerado para publicação em nenhum outro periódico.
Também declaro que autorizo a transferência dos direitos de edição, publicação, distribuição e reprodução ao referido periódico (inclusive dos elementos que possam conter, como fotografias, desenhos, tabelas, ficheiros de dados, etc.). A autorização abrange a edição, publicação, distribuição e reprodução do texto em suporte eletrônico, incluindo a divulgação através de plataformas indexadoras.
Por fim, declaro que reconheço expressamente ter conhecimento das “normas para apresentação e publicação de artigos” do periódico. Inclusive, tenho conhecimento de que todo o conteúdo do Anuário Antropológico está licenciado pelo Creative Commons, tipo CC-BY.