O funeral do caçador

caça e perigo na Amazônia

Autores

  • Uirá F. Garcia

Palavras-chave:

Awá-Guajá, caça, queixada, ha’aera, pãnéƒmũhũm

Resumo

O artigo a seguir discute o paralelismo entre caça, guerra e saúde, enfatizando as atividades de um pequeno grupo de caçadores, habitantes da porção noroeste do estado do Maranhão, os Awá-Guajá. Partindo de um episódio ocorrido no ano de 2008 na aldeia Juriti ”“ que revelou aspectos importantes para a presente discussão ”“ a caça e suas implicações guerreiras serão exploradas aqui segundo a etiologia das doenças e através das noções de ha’aera e pãnéƒmũhũm, elementos que regem boa parte da relação entre caçadores e presas. Apresento um universo de agressões morais sofridas por caçadores e discuto uma sintomatologia particular só passível de entendimento quando são reveladas as concepções awá-guajá sobre a pessoa humana e as relacionamos com o universo da floresta, em geral, e a zoologia das presas, em particular. Argumento que as agressões físicas e morais dos animais à vida humana são centrais para o entendimento do que se configura como a “caça awá-guajá”, sendo o conhecimento sobre a origem de tais agressões (que acarretam sorte e azar; saúde e doença) parte importante do conjunto de saberes que regem a relação entre humanos e animais.

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Publicado

2018-03-13

Como Citar

Garcia, Uirá F. 2018. “O Funeral Do caçador: Caça E Perigo Na Amazônia”. Anuário Antropológico 37 (2):33-55. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/7229.