A cultura invisível

Conhecimento indígena e patrimônio imaterial

Autores

  • Marcela Stockler Coelho Souza

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.813

Palavras-chave:

Cultura, patrimônio imaterial, conhecimento indígena, criatividade

Resumo

A cultura (imaterial) indígena vive apenas em suas materializações, visíveis ou invisíveis. Dar a ver, revelar ”” assim como ocultar ”” essa ‘cultura’ é parte da vida (“social”) indígena ”” é toda ela, se esta vida deve ser vivida em termos de conhecimentos, práticas, discursos, interpretações, expectativas e significados específicos cuja relativa coerência os antropólogos constroem como cultura. Pois é por meio dos efeitos produzidos por essas revelações e esses ocultamentos que são tecidas as relações (“sociais”) de que se faz a vida dos humanos ”” relações com outros humanos, animais, espíritos, brancos. Tecidas de uma maneira específica, porque do que se trata é de relações específicas (entre pessoas, humanas ou não, determinadas), cuja qualidade se reconhece por certas formas específicas (a beleza do padrão; a quantidade de enfeites; a eficácia do remédio). Por meio de alguns exemplos pinçados na literatura recente, relativos a saberes xamânicos, ornamentação e pintura corporal, este artigo procura tematizar os possíveis efeitos da constituição de contextos revelatórios que determinam esses conhecimentos como “cultura”, no bojo do debate recente sobre patrimônio imaterial e conhecimentos tradicionais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ARANTES, Antonio A. 2001. “Patrimônio imaterial e referências culturais”. In: LONDRES, C. (org.). “Patrimônio Imaterial”. Revista Tempo Brasileiro, 147:129-149.
ÁVILA, Thiago A. M. 2004. “Não é do jeito que eles quer, é do jeito que nós quer”. Dissertação de Mestrado. DAN/UnB, Brasília.
_________. 2005. “Há luz no fim do túnel? Conhecimento tradicional e perspectivas de mudanças na política indigenista brasileira”. ComCiência. Data de publicação online: 10/04/2005: http://www.comciencia.br/reportagens/2005/04/09.shtml
_________. 2006. “’Não é do jeito que eles quer, é do jeito que nós quer’: biotecnologia e o acesso aos conhecimentos tradicionais dos Krahô”. In: GROSSI, M.P.; HEILBORN, M.L. & MACHADO, L.Z. (orgs.). Antropologia e Direitos Humanos 4. Florianópolis: ABA / Nova Letra.
AZANHA, Gilberto. 2005. “Os intelectuais indígenas e a proteção do ‘conhecimento tradicional’”. Comunicação apresentada no GT Apropriações indígenas: os regimes de subjetivação ameríndios e a objetivação da cultura. XXIX Encontro Anual da
ANPOCS (Caxambu, 25 a 29 de outubro de 2005).
CALÁVIA SAEZ, Oscar; CARID NAVEIRA, Miguel & PEREZ GIL, Laura. 2003. “O saber é estranho e amargo. Sociologia e mitologia do conhecimento entre os
Yaminawa”. Campos, 4:9-28.
CARID NAVEIRA, Miguel. 2005. “A ‘cultura’ como identidade: reflexões indígenas sobre um velho conceito antropológico”. Comunicação apresentada no GT Apropriações indígenas: os regimes de subjetivação ameríndios e a objetivação da cultura. XXIX Encontro Anual da ANPOCS (Caxambu, 25 a 29 de outubro de 2005).
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1998. “Pontos de Vista sobre a Floresta Amazônica: Xamanismo e Tradução”. Mana. Estudos de Antropologia Social, 4(1):7-22.
_________. 2009. “‘Cultura’ e cultura: conhecimentos tradicionais e direitos intelectuais”. In: _____. Cultura com aspas. São Paulo: Cosac & Naify. pp. 311-373.
Marcela Stockler Coelho de Souza 171
COELHO DE SOUZA, Marcela S. 2002. O traço e o círculo: o conceito de parentesco entre os Jê e seus antropólogos. Tese de Doutorado, Museu Nacional/ UFRJ, Rio de Janeiro.
_________. 2005. “As propriedades da cultura no Brasil Central indígena”. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 32 (Patrimônio imaterial e
biodiversidade):316-335.
FALCÃO, Joaquim. 2001. “Patrimônio imaterial: um sistema sustentável de proteção”. In: LONDRES, C. (org.). “Patrimônio Imaterial”. Revista Tempo Brasileiro, 147:163-179.
GALLOIS, Dominique. 2005. “Os Wajãpi em frente de sua cultura”. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 32:110-129 (Patrimônio imaterial e biodiversidade).
GOW, Peter. 1991. Of Mixed Blood: kinship and history in Peruvian Amazonia. Oxford: Clarendon Press.
_________. 1999. “Piro designs: painting as meaningful action in an Amazonian lived world”. The Journal of the Royal Anthropological Institute 5(2):229-240.
HANDLER, Richard. 1985. “On having a culture: nationalism and the preservation of Quebec’s patrimoine”. In: STOCKING JR., G.W. (ed.). Objects and others: essays on museums and material culture. Madison: University of Wisconsin Press.
HIRSCH, Eric & STRATHERN, Marilyn. 2004. “Introduction”. In: ____ (orgs.). Transactions and creations: property debates and the stimulus of Melanesia. New York: Berghahn Books. pp. 1-18.
IPHAN. 2006. O Registro do Patrimônio Imaterial: dossiê final das atividades da Comissão e do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial. Brasília: Ministério da Cultura/IPHAN/FUNARTE.
JACKSON, Jean. 1995. “Preserving Indian culture: shaman schools and ethnoeducation in the Vaupés, Colombia”. Cultural Anthropology, 10(3):302-329.
LAGROU, Elsje. 2002. “O que nos diz a arte kaxinawa sobre a relação entre identidade e alteridade?”. Mana. Estudos de Antropologia Social, 8(1):29-61.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1975[1958]. “O feiticeiro e sua magia”. In: ____. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. pp. 193-213.
LIMA, André & BENSUSAN, Nurit (orgs.). 2003. Quem cala consente? Subsídios para a proteção aos conhecimentos tradicionais. (Documentos ISA, 8). São Paulo: ISA.
LONDRES, Cecília. 2001a. “Introdução”. In: ____. (org.). “Patrimônio Imaterial”. Revista Tempo Brasileiro, 147:11-22.
_________. 2001b. “Para além da ‘pedra e cal’: por uma concepção ampla de patrimônio”. In: LONDRES, C. (org.). “Patrimônio Imaterial”. Revista Tempo
Brasileiro, 147:185-204.
MELATTI, Julio Cezar. 1963. “O mito e o xamã.” Revista do Museu Paulista, 14:60-70.
MILLER, Joana. 2005. “Os enfeites corporais dos Mamaindê (Nambiquara) e a noção de cultura”. Comunicação apresentada no GT Apropriações indígenas: os
regimes de subjetivação ameríndios e a objetivação da cultura. XXIX Encontro Anual da ANPOCS (Caxambu, 25 a 29 de outubro de 2005).
_________. 2009. “Things as persons: body ornaments and alterity among the Mamaindê (Nambikwara)”. In: GRANERO, F. Santos (ed.). The occult life of things.
Native Amazonian theories of materiality and personhood. Tucson: University of Arizona Press. pp. 60-80.
OLIVEIRA, Ana Gita. 2005. “Salvaguarda do patrimônio cultural: bases para constituição de direitos”. In: MOREIRA, E.; BELAS, C.A.; BARROS, B. & PINHEIRO, A. (orgs.). Propriedade intelectual e patrimônio cultural: proteção do conhecimento e das expressões culturais tradicionais. Belém: CESUPA / MPEG. pp. 27-31.
SANT’ANNA, Márcia. 2001. “Patrimônio imaterial: do conceito ao problema da proteção”. In: LONDRES, C. (org.). “Patrimônio Imaterial”. Revista Tempo Brasileiro,
147:151-161.
SEEGER, Anthony. 1981. Nature and society in Central Brazil: the Suyá Indians of Mato Grosso. Cambridge, MS: Harvard University Press.
STRATHERN, Marilyn. 1992. Reproducing the Future: Anthropology, Kinship and the New Reproductive Technologies. New York: Routledge.
_________. 1999. Property, substance and effect: anthropological essays on persons and things. London: The Athlone Press.
_________. 2001. “The patent and the Malanggan”. Theory, Culture and Society, 18(4):1-26.
SZTUTMAN, Renato. 2005. “Da ação xamânica”. In: GALLOIS, D.T. (org.). Redes de relações nas Guianas. São Paulo: Humanitas.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 2002. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify.

Downloads

Publicado

2018-02-23

Como Citar

Souza, Marcela Stockler Coelho. 2018. “A Cultura invisível: Conhecimento indígena E patrimônio Imaterial”. Anuário Antropológico 35 (1):149-74. https://doi.org/10.4000/aa.813.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.