Eleições na aldeia ou o Alto Xingu contra o Estado?

Autores

  • Marina Vanzolini

Palavras-chave:

Aweti, Alto Xingu, política ameríndia, chefia, Pierre Clastres

Resumo

O artigo propõe uma releitura da noção de sociedade contra o Estado, de Pierre Clastres, a partir da análise de algumas dinâmicas observadas na vida política dos Aweti, povo tupi do Alto Xingu (MT). A história de uma eleição municipal na qual concorreram ao cargo de vereador alguns candidatos indígenas, bem como a saga de um chefe aweti “nomeado” e “deposto” num intervalo de quinze anos, servem de ponto de partida para a descrição de aspectos centrais da chefia xinguana, que dizem respeito a como se faz um chefe, o que ele faz, e como pode ser desfeito. Num primeiro momento, é problematizada a questão da transmissão hereditária de posto ou status, aspecto que tem sido usado como indicativo de que o Alto Xingu apresenta uma estrutura política que poderia ter evoluído para formas “complexas” (internamente diferenciada em termos de classes), fato que invalidaria a tese de Clastres sobre uma lógica indígena anticentralização. Em seguida, são enfocados tantos o processo de constituição mútua entre um chefe e sua comunidade, quanto os mecanismos internos à chefia que marcariam o limite do poder de um líder representativo. O argumento central do trabalho é que devemos seguir as oposições internas aos grupos locais ”“ e não entre grupos locais, como por vezes insistia Clastres ”“ para identificar o mecanismo (ou um mecanismo) contra o Estado na vida política xinguana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BARBOSA, Gustavo B. 2005. “A socialidade contra o Estado: a antropologia de Pierre Clastres”. Revista de Antropologia, 47(2).
BARCELOS NETO, Aristóteles. 2008. Apapaatai: rituais de máscaras no Alto Xingu. São Paulo: Fapesp.
BASSO [Becker Ellen R.], 1969. Xingu Society. Tese de Doutorado, The University of Chicago, Chicago.
BASTOS, Rafael José de Menezes. 1989. A festa da Jaguatirica: uma partitura crítico-interpretativa. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo.
CLASTRES, Pierre. 2003 [1962]. “Troca e poder: filosofia da chefia indígena”. In: A Sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac & Naify. pp 43-64.
____________. 2003 [1963]. “Independência e exogamia”. In: A Sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac & Naify. pp 65-94.
____________. 2003 [1974]. “A Sociedade contra o Estado”. In: A Sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac & Naify. pp 205-234.
____________. 2004 [1976]. “A economia primitiva”. In: Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify. pp 173-196.
____________. 2004 [1977]. “Arqueologia da violência: a guerra nas sociedades primitivas”. In: Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify. pp 229-270.
DESCOLA, Philippe. 1988. “La Chefferie Amerindienne dans l’anthropologie politique”. Revue Française de Science Politique, 38(5):818-827.
DOLE, Gertrude. 1964. “Shamanism and Political Control among the Kuikuro”. In: Hans Becker (ed.), Beiträge zur Völkerkunde Südamerikas. Hannover, Druck: Munstermann-Druck GMBH. pp. 53-62.
____________. 1976. “Anarchy without chaos: alternatives to political control among the Kuikuro”. In: M.J. Swartz (ed.), Political Anthropology. Chicago: Aldine. pp. 73-88.
FAUSTO, Carlos. 2008. “Donos demais: maestria e domínio na Amazônia”. Mana [online], v.14, n. 2:329-366.
FIGUEIREDO, Marina Vanzolini. 2008. “Imagens do poder: a política xinguana na etnografia”. Cadernos de Campo, v. 17 n. 17.
____________. 2010. A flecha do ciúme: o parentesco e seu avesso segundo os Aweti do Alto Xingu. Tese de Doutorado, PPGAS/Museu Nacional, UFRJ.
FRANCHETTO, Bruna. 1986. Falar Kuikuro: estudo etnolinguístico de um grupo karíbe do Alto Xingu. Tese de Doutorado, PPGAS/Museu Nacional, UFRJ.
GALVÃO, Eduardo. 1979 [1953]. “Cultura e sistema de parentesco das tribos do alto rio Xingu”. In: Encontro de Sociedades. Índios e brancos no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra. pp. 73-119.
HECKENBERGER, Michael. 1996. War and peace in the shadow of empire: sociopolitical change in the Upper Xingu of Southeastern Amazonia, A.D. 1400-2000. Pittsburgh: Univ. of Pittsburgh.
____________. 2004. “The Wars Within: Xinguano Witchcraft and Balance of Power”. In: Neil L. Whitehead & Robin Wright (eds.), In Darkness and Secrecy. The Anthropology of Assault Sorcery and Dark Shamanism in Amazonia. Durham & London: Duke University Press. pp 179-201.
____________. 2005. The Ecology of Power. Culture, Place and Personhood in the Southern Amazon A.D. 1000-2000. Nova York: Routledge.
LIMA, Tânia Stolze. 2005. Um Peixe Olhou para Mim. O PovoY udjá e a Perspectiva. São Paulo: Editora Unesp: ISA; Rio de Janeiro: Nuti/ISA.
LIMA, Tânia & GOLDMAN, Márcio. 2003. “Prefácio”. In: P. Clastres, A Sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac & Naify. pp 7-20.
OVERING KAPLAN, J. 1977. “Orientation for paper topics” e “Comments” ao simpósio “Social Time and Social Space in Lowland South America”. In: Actes du XLII Congrés International des Américanistes, v. II: 9-10 e 387-394.
SAHLINS, Marshall D. 1977 [1963]. “Poor man, rich man, big-man, chief: political types in Melanesia and Polynesia”. In: L. Guasti; C.H. Landé; S.W. Chmidt & J.C. Scott (eds.), Friends, Followers and Factions. A Reader in Political Clientelism. Berkeley e Los Angeles: University of California Press. p. 220- 231.
SANTOS-GRANERO, Fernando. 1993. “From prisioner of the group to darling of the gods: an approach to the issue of power in Lowland South America”. L´Homme, 126-128:213-230.
STEINEN, Karl von den.1940 [1894]. Entre os aborígenes do Brasil Central. Separata renumerada da Revista do Arquivo. n. XXXIV a LVIII, São Paulo, Departamento de Cultura.
STEWARD J. (org). 1948. Handbook of South American Indians. Vol. 3: The Tropical Forest Tribes. Washington: Bureau of American Ethnology, Smithsonian Institution.
STRATHERN, M. 1988. The gender of the gift. Berkley: University of California Press.
SZTUTMAN, Renato. 2005. O profeta e o principal. A ação política ameríndia e seus personagens.Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 1977. Indivíduo e sociedade no Alto Xingu. Os Yawalapití. Dissertação de Mestrado, PPGAS/Museu Nacional, UFRJ.
____________. 1986. Araweté, os Deuses Canibais. Rio de Janeiro: Zahar/Anpocs.
____________. 2011. “Posfácio: O intespetivo, ainda. Aprendendo a reler Pierre Clastres”. In: P. Clastres, Arqueologia da Violência. São Paulo: Cosac & Naify. (no prelo).

Downloads

Publicado

2018-02-22

Como Citar

Vanzolini, Marina. 2018. “Eleições Na Aldeia Ou O Alto Xingu Contra O Estado?”. Anuário Antropológico 36 (1):31-54. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/7004.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.