Encantamento e disciplina na União do Vegetal

Autores

  • Rosa Virgínia Melo

Palavras-chave:

ayahuasca, ritual, transe, religiões mágicas, comportamento individual

Resumo

O artigo discute a elaboração simbólica do efeito da ayahuasca na União do Vegetal, denominado burracheira, um transe cuja dinâmica é guiada pelo espírito do Mestre fundador da doutrina, consubstancializado na bebida. A constituição dessa entidade, no sacramento, é interpretada na leitura do mito e do rito udevista por meio de metáforas e metonímias expressivas dos processos orgânico, emotivo e moral que revelam a relação hierárquica entre encantamento e disciplina, elementos eficazes e legitimadores da institucionalização da prática religiosa. Busco problematizar as relações hierarquizadas entre encantamento e disciplina na noção de pessoa, simbolicamente construída, enquanto potencial de transformação do comportamento individual.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AMARAL, Leila. 2000. Carnaval da alma. Comunidade, essência e sincretismo na Nova Era. Petrópolis: Editora Vozes.
ASSUNÇÃO, Luiz. 2006. O reino dos mestres: a tradição da jurema na umbanda nordestina. Rio de Janeiro: Pallas.
ANDRADE, Afrânio P. de.1995. O fenômeno do Chá e a Religiosidade Cabocla: um estudo centrado na União do Vegetal. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião, São Bernado do Campo, Instituto Metodista de Ensino Superior.
BASTIDE, Roger.1961. O candomblé da Bahia. São Paulo. Companhia Editora Nacional.
_____. 1971. Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira.
_____. 2006. “O sagrado selvagem”. In: ___. O sagrado selvagem e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras.
BATESON, Gregory.1999.“Form, substance and difference”. In: ___.Steps to an ecology of mind. Chicago: University of Chicago Press.
BÍBLIA SAGRADA. 1982. Cântico dos Cânticos; Eclesiastes; Sabedoria. São Paulo: Ed. Ave Maria.
BLACKING, John.1995. How musical is man? Seattle: University of Washington Press.
BRISSAC, Sérgio. 1999. A estrela do norte iluminando até o sul: uma etnografia da União do Vegetal em um contexto urbano. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, PPGASMuseu Nacional/UFRJ.
CALVINO, Italo. 1983. “The written and the unwritten words”. New York Review of Books, 12 de maio.
CARNEIRO DA CUNHA. 1998. Manuela. “Pontos de vista sobre a floresta amazônica: xamanismo e tradução”. Mana, 4 (1):7-22.
CEBUDV.1989. União do Vegetal Hoasca Fundamentos e Objetivos. Centro de Memória e Documentação, Sede Geral-Brasília, DF.
DANTAS, Beatriz G. 1988. Vovó nagô e papai branco. Usos e abusos da África no Brasil. Rio de Janeiro: Graal.
DIAS DUARTE, Luiz. F. 1986. “Classificação e valor na reflexão sobre identidade social”. In: Ruth. Cardoso (org.). A aventura antropológica. Teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
DIAS DUARTE, Luiz. F. & GIUMBELLI, Emerson. 1995. “As concepções cristã e moderna da pessoa: paradoxos de uma continuidade”. Anuário Antropológico, 93.
DOBKIN DE RIOS, Marlene. 1972. The Visionary Vine: Psychedelic Healing in the Peruvian Amazon. San Francisco: Chandler Publishing Company.
DUMONT, Louis.2000. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco.
DURKHEIM, Émile. 1996. As formas elementares da vida religiosa. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes.
DURKHEIM, Emile & MAUSS, Marcel. 1999. “Algumas formas primitivas de classificação”. In: Marcel Mauss, Ensaios de Sociologia. São Paulo: Ed. Perspectiva.
ELIADE, Mircea. 2002. O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes.
ESTRADA, Álvaro. 1984. Vida de María Sabina: la sabia de los hongos. 1..ed. São Paulo: Martins Fontes.
FREUD, Sigmund. 1997. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago Editora.
FRY, Peter. 1986. “Gallus africanus est, ou, como Roger Bastide se tornou africano no Brasil”. In: VonSimson (org.). Revisitando a terra de contrastes: a atualidade da obra de Roger Bastide. 19. ed. São Paulo: FFLCH/CERU. pp. 31-45.
FURST, Peter T. 1976. Alucinógenos e Cultura. México, DF. Fondo de Cultura Econômica.
GABRIEL, Chester. 1985. Comunicações dos espíritos. São Paulo: Ed. Loyola.
GALVÃO, Eduardo. 1955. Santos e Visagens. São Paulo: Companhia Editora Nacional.
GIDDENS, Anthony. 2002. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
GIUMBELLI, Emerson. 2003. “O ‘baixo espiritismo’ e a história dos cultos mediúnicos”. Horizontes Antropológicos, 9 (19):247-28.
_____. 1997. O cuidado dos mortos: acusação e legitimação do espiritismo. Rio de Janeiro:Arquivo Nacional.
GOULART, Sandra. 2004. Contrastes e continuidades em uma tradição amazônica: as religiões da ayahuasca.Tese de Doutorado, Unicamp.
HERTZ, Robert.1980.“A preeminência da mão direita”. Religião e Sociedade, 6:99-128.
KJELLGREN, Anette.; ERIKSSON, Anders. & NORLANDER, Torsten. 2009. “Experiences of encounters with ayahuasca ”“ the vine of the soul”. Journal of Psychoactive Drugs, 41(4):309-315.
LA BARRE, Weston. 1971. The Peyote Cult. New York: Schocken Books.
LABATE, Beatriz. 2004. A reinvenção do uso da ayahuasca nos centros urbanos. Campinas, SP: Mercado das Letras; São Paulo, SP: Fapesp.
LABATE, Beatriz & JUNGABERLE, Henrik (eds.). 2011. The Internationalization of Ayahuasca. Zurich: Lit.
LABATE, Beatriz & MELO, Rosa. 2013. “The UDV religion, science, and academic research”. Anthropology of Consciousness, no prelo.
LABATE, Beatriz & PACHECO, Gustavo. 2009. Música brasileira de ayahuasca. Campinas, SP: Mercado de Letras.
LÉVI-BRUHL, Lucien. 1963. L’âme primitive. Paris: Galimard.
LUNA, Luis. 1986. Vegetalismo: Shamanism among the Mestizo Population of the Peruvian Amazon. Estocolmo: Almquist and Wiksell International.
LANGDON, Esther, J. 2005. “Prefácio”. In: Beatriz Labate & Sandra Goulart (orgs.). O uso ritual das plantas de poder. Campinas, SP: Mercado das Letras.
LEACH, Edmund. The Essential Edmund Leach. Vol II. Culture and Human Nature. New Haven and London: Yale University Press.
LEARY, Thimothy. 1999. Flashbacks, “surfando no caos”: uma autobiografia. São Paulo. Beca Produções Culturais.
LE GOFF, Jacques. 1999. São Luís. Rio de Janeiro: Record.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1991. “A eficácia simbólica”. In:___. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
_____. 1989. “Os cogumelos na cultura”. In: ___.Antropologia Estrutural Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
LOSONCZY, Anne-M. & MESTURINI, Silvia. 2011.“Por que a ayahuasca? Da internacionalização de uma prática ritual ameríndia”. Anuário Antropológico, 2010/11: 9-30.
MAGGIE, Yvonne. 1977. Guerra de orixá: um estudo de ritual e conflito. Rio de Janeiro: Zahar.
MAGNANI, José G. C. 1999. Mystica Urbe. Um estudo antropológico sobre o circuito neo esotérico na metrópole. São Paulo: Nobel.
MAUSS, Marcel. 2003. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify.
MELO, Rosa V.A. de A. 2010. Beber na fonte: adesão e transformação na União do Vegetal. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília.
_____. 2011. “A União do Vegetal e o transe mediúnico no Brasil”. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(2):130-153.
MELO, Rosa & LABATE, Beatriz. 2012 “Hoasca, ciência, sociedade e meio ambiente. Campos, 13(1).
MILANEZ, Luiz F. 2011. “Objetivos e Procedimentos da Comissão Científica da UDV”. In: Joaze Bernardino Costa (org.). Hoasca: ciência, sociedade e meio ambiente. Campinas: Mercado de Letras. pp. 69-73
ORTIZ, Renato. 1978. A morte branca do feiticeiro negro: umbanda, integração de uma religião numa sociedade de classes. Petrópolis: Vozes.
PIMENTEL ALVES, Luiz C. 2009. A Amazônia misteriosa de Mestre Gabriel. Goiânia: Kelps.
RABELO, Miriam. C. 2008. “Religião, ritual e cura”. In: Paulo C. Alves& Maria. C .S. Minayo (orgs.). Saúde e Doença: um olhar antropológico. Rio de Janeiro: Fiocruz. pp.47-56.
SACHS, Viola. 1988. “As Escrituras Sagradas e as Escrituras da Nova Cosmologia”. In: Rubem Fernandes & Roberto Da Matta (orgs.). Brasil & EUA. Religião e identidade nacional. Rio de Janeiro: Graal. pp. 159-189.
TURNER, Victor. 2005. Floresta de Símbolos ”“ aspectos do ritual Ndembu. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense.
VILAÇA, Aparecida.2002. “‘Missions et conversions chez les Wari’’. Entre protestantisme et catholicisme”. L’Homme, 164:57-79.
WEBER, Max. 2004. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras.
_____. 1999. Economia e Sociedade.Vols. 1 e 2. Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília.
_____. 1974. Ensaios de sociologia. Edit. por Hans Gerth & C. Wright Mills. Rio de Janeiro: Zahar Ed.

Outras Fontes:
Coleção de CDs: A Palavra do Mestre
CD caseiro: Pequenina

Downloads

Publicado

2018-02-19

Como Citar

Melo, Rosa Virgínia. 2018. “Encantamento E Disciplina Na União Do Vegetal”. Anuário Antropológico 38 (1):217-37. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6882.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.