Sensibilidades jurídicas e respeito à s diferenças
cultura, controle e negociação de sentidos em práticas judiciais no Brasil e em Timor-Leste
Palavras-chave:
Antropologia do direito, gênero, justiça, dádiva, Timor-LesteResumo
O artigo discute os limites da judicialização de conflitos interpessoais para soluções que atendam a diferentes expectativas de reconhecimento, questionando em que medida a proteção mandatória de direitos de segmentos tidos como vulneráveis representaria o atendimento a demandas morais desses sujeitos. Para isso, toma-se como referência a discussão sobre formas locais de resolução de conflitos em Timor-Leste, como contraponto à s formas judicializadas, em que há pouco ou nenhum espaço de escuta e mecanismos de reparação moral à s partes. Com base em um caso de resolução de conflito com desfecho trágico, propõe-se que não basta o espaço de enunciação de histórias para que ocorra o sentimento de justiça e reparação. Aponta-se ainda para o papel central das práticas de compensação timorenses para dar conta da dimensão moral do conflito, estabelecendo, subsidiariamente, comparações com a sensibilidade jurídica brasileira e buscando caracterizar limites e possibilidades de formas de justiça de base comunitária e sua tensão com mecanismos de proteção de direito orientados por uma ideologia individualista.
Downloads
Referências
AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli. 2008. “Sistema penal e violência de gênero: análise sociojurídica da Lei 11.340/06”. Sociedade e Estado, 23(1):113-135.
BERGER, Peter. 1983. “On the Obsolescence of the Concept of Honor”. In: Stanley Hauerwas & Alasdair MacIntire (Org.). Revisions, Changing Perspectives in Moral Philosophy. Indiana: University of Notre Dame Press. pp.172-181.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Luís Roberto. Direito legal e insulto moral: dilemas da cidadania no Brasil, Quebec e EUA. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
______. 2008. Existe violência sem agressão moral? Revista Brasileira de Ciências Sociais, 23(67). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69092008000200010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 mar. 2013.
______. 2010. Concepções de igualdade e (des)igualdades no Brasil. In: Roberto Kant de Lima, Lucía Eilbaum & Lenin Pires (Org.). Conflitos, direitos e moralidades em perspectiva comparada. Rio de Janeiro: Garamond. v. 1, pp. 19-33.
DUMONT, Louis. O individualismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1985.
FOX, James. 1988. To Speak in Pairs: Essays on the Ritual Languages of Eastern Indonesia. Cambridge: Cambridge University Press.
GEERTZ, Clifford. 1983. “Local Knowledge: Fact and Law in Comparative Perspective”. In: ______. Local Knowledge: Further Essays in Interpretative Anthropology. New York: Basic Books. pp. 167-234.
GIDDENS, Anthony. 1993. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: UNESP.
GREGORI, Maria Filomena. 1993. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
HOHE, Tanja & NIXON, Rod. 2003. Reconciling Justice: ‘Traditional’ Law and State Judiciary in East Timor. [s.l.]: United States Institute of Peace. Mimeo.
HONNETH, Axel. 1996. The Struggle for Recognition, the Moral Grammar of Social Conflicts. Cambridge, Mass.: The MIT Press.
KANT DE LIMA, Roberto. Ensaios de antropologia e de direito: acesso à justiça e processos institucionais de administração de conflitos e produção da verdade jurídica em uma perspectiva comparada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
MAUSS, Marcel. 1974. Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In: ______. Sociologia e antropologia. São Paulo: Edusp. v. II, pp. 37-184.
OLIVEIRA, Carlos Gomes de. 2005. Saber calar, saber conduzir a oração: a administração de conflitos num Juizado Especial Criminal do DF. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília.
PASINATO, Wania. 2004. “Delegacias de Defesa da Mulher e Juizados Especiais Criminais: mulheres, violência e acesso à justiça”. In: XXVIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais ”“ ANPOCS.
PONTES, Heloísa A. 1986. Do palco aos bastidores. Dissertação de mestrado, Unicamp.
RIFIOTIS, Teophilos. 2008. “Judiciarização das relações sociais e estratégias de reconhecimento: repensando a ‘violência conjugal’ e a ‘violência intrafamiliar’. Revista Katálysis, 11(2):225-236.
ROQUE, Ricardo. 2011. “Etnografias coloniais, tecnologias miméticas: usos e costumes em Timor-Leste”. In: Kelly Silva & Lucio Sousa (eds.). Ita Maun Alin: o livro do irmão mais novo. Lisboa: Colibri. pp. 155-168.
SILVA, Kelly. 2010. “Riqueza ou preço da noiva? Regimes morais em disputa nas negociações de casamento entre elites urbanas timorenses”. In: Wilson Trajano Filho (org.). Lugares, pessoas e grupos: as lógicas do pertencimento em perspectiva comparada. Brasília: Athalaia. pp. 207-223.
SILVA, Kelly & SIMIÃO, Daniel. 2012. “Coping with ‘Traditions’: the Analysis of East-Timorese Nation Building from the Perspective of a Certain Anthropology Made in Brazil”. Vibrant, Virtual Brazilian Anthropolgy, 9(1). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1809-43412012000100013&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 25/03/2013.
SIMIÃO, Daniel S. 2005a. As donas da palavra: gênero, justiça e a invenção da violência doméstica em Timor-Leste. Tese de doutorado, Universidade de Brasília.
______. 2005b. “O feiticeiro desencantado”. Anuário Antropológico, 127-154.
______. 2011. “Sensibilidade jurídica e diversidade cultural: dilemas timorenses em perspectiva comparada”. In: Kelly Silva & Lucio Sousa (Org.). Ita Maun Alin: o livro do irmão mais novo. Lisboa: Colibri. pp. 113-129.
______. 2012. Sé Mak Sala Tenkeser Selu Sala: desafios de justiça, direitos e diferenças em Timor-Leste. Documentário. cor. NTSC 36’. Brasília: IRIS. Disponível em: http://youtu.be/ CyKnw2Vgz6M?list=UU5lqS9UpEoTPzJd7FqoggFw. Acesso em: 25 mar. 2014.
SIMIÃO, Daniel S.; DUARTE, Vitor Barbosa ; CARVALHO, Natan Ferreira de; DAVIS, Pedro Gondim. 2010. “Sentidos de justiça e reconhecimento em formas extrajudiciais de resolução de conflitos em Belo Horizonte”. In: LIMA, Roberto Kant; EILBAUM, Lucia; PIRES, Lenin. (Org.). Conflitos, direitos e moralidades em perspectiva comparada. Rio de Janeiro: Garamond: pp. 221-250.
SIMIÃO, Daniel S.; CORREA, Ranna; LIMA, Davi; MATHIAS, Krislane & CASTRO, Nicholas. 2013. “A aplicação da Lei Maria da Penha no Distrito Federal: análise uma experiência piloto de atendimento multidisciplinar”. In: III Seminário Internacional do InEAC. Niterói. Comunicação oral.
SOARES, Dionísio. 1999. “A Brief Overview of the Role of Customary Law in East Timor”. In: Simpósio sobre Timor-Leste, Indonésia e Região. Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. Mimeo.
STRATHERN, Marilyn. “One Man and Many Men”. In: Marilyn Strathern & Maurice Godelier (orgs.). Big Men and Great Men: Personifications of Power in Melanesia. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 197-214.
TAYLOR, Charles. 1994. “The Politics of Recognition”. In: Amy Gutmann (Org.). Multiculturalism and “the Politics of Recognition”. New Jersey: Princeton University Press. pp. 225-256.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; ARAUJO, Ricardo Benzaquem. 1977. “Romeu e Julieta e a origem do Estado”. In: VELHO, Gilberto (org.). Arte e sociedade: ensaios de sociologia de arte. Rio de Janeiro: Zahar. pp. 130-169.
WAGNER, Roy. 1991. “The Fractal Person”. In: Marilyn Strathern & Maurice Godelier (org.). Big Men and Great Men: Personifications of Power in Melanesia. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 159-173.
WILLIAMS-VAN KLINKEN, Catharina. 2003. “Metaphors We Judge by: Mediation in Wehali”. In: International Conference on Traditional Conflict Resolution and Justice. The Asia Foundation, Díli, 27 Jun 2003.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2014 Anuário Antropológico
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode.en
Creative Commons - Atribución- 4.0 Internacional - CC BY 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode.en