Práticas indígenas de cura no Nordeste brasileiro

discutindo políticas públicas e intermedicalidade

Autores

  • João T. Andrade
  • Carlos Kleber Saraiva de Sousa

DOI:

https://doi.org/10.26512/anuarioantropologico.v41i2.2016/6406

Palavras-chave:

Práticas indígenas de cura, medicina tradicional, políticas públicas, intermedicalidade, pluralismo médico

Resumo

Em muitos países, agências de saúde e governos têm proposto uma integração entre diferentes sistemas médicos dentro de serviços públicos nacionais. No Brasil, a inclusão das terapias complementares e tradicionais no Sistema Único de Saúde constitui importante marco para a expansão das opções terapêuticas da população. Quais são as implicações deste empreendimento? Este artigo constitui uma reflexão sobre práticas indígenas de cura no Nordeste brasileiro como recurso terapêutico aos serviços convencionais de saúde e contribui para o debate sobre a diversidade dos sistemas médicos. Trata-se de exame das políticas públicas e diretrizes oficiais de saúde que propõem a integração da biomedicina com as práticas terapêuticas indígenas. O assunto é discutido considerando-se o pluralismo médico e a intermedicalidade, entendida como espaço contextualizado de medicinas híbridas. A discussão está baseada em revisão de literatura especializada, pesquisa documental e etnografia do povo Pitaguary no Nordeste do Brasil. A intermedicalidade ilustra uma forma particular de cuidados de saúde, tendo em conta crenças culturais e práticas terapêuticas articuladas a interesses e costumes das comunidades indígenas, pondo em contato vários elementos culturais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ANDRADE, João T. 2010. “Ritos terapêuticos entre rezadores no Grande Bom Jardim, em Fortaleza: persistência dos saberes comunitários em saúde”. Anais da 27ª Reunião Brasileira de Antropologia. Brasília: Associação Brasileira de Antropologia.
ANDRADE, João T. & FARIAS, Liduina. 2010. “Medicina Complementar no SUS: práticas integrativas sob a luz da Antropologia médica”. Saúde e Sociedade, 19(497-508).
BODEKER, Gerard & GEMMA, Burford (eds). 2007. Traditional, complementary and alternative medicine: policy and public health perspective. London: Imperial College Press.
BODEKER, Gerard. & KRONENBERG, Fredi. 2002. “A public health agenda for traditional, complementary, and alternative medicine”. American Journal of Public Health, 92(10): 1582-1591.
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. 2001. 3ª Conferência Nacional de Saúde Indígena. Luziânia, GO. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/docs/geral/3cnsi.pdf. Acesso em: 12/mar/2013.
______. Fundação Nacional de Saúde. 2002. Política nacional de atenção à saúde dos povos indígenas. Brasília: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde.
______. Fundação Nacional de Saúde. 2007a. 4º Conferência Nacional de Saúde Indígena. Brasília, DF. Disponível em: conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/ relat_final_4CNSI.pdf. Acesso em: 25/nov/2012.
______. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. 2007b. “Medicina tradicional indígena em contextos”. In: Luciane O. Ferreira & Patrícia S. Osório (orgs.). Anais da I Reunião de Monitoramento. Brasília: Projeto Vigisus II/Funasa.
BRAZIL. Ministry of Health of Brazil. 2008. PNPIC: National Policy on Integrative and Complementary Practices of the SUS: access expansion initiative. Brasilia: Ministry of Health of Brazil, Secretary of Health Care, Department of Primary Care.
BROADHEAD, Lee-Anne, & HOWARD, Sean. 2011. “Deepening the debate over ‘sustainable science’: indigenous perspectives as a guide on the journey”. Sustainable Development, 19(5): 301-311.
FERREIRA, Luciane O. 2007. “Limites e possibilidades da articulação entre as medicinas tradicionais indígenas e o sistema oficial de saúde”. In: Luciane O. Ferreira & Patrícia S. Osório (orgs.). Anais da I Reunião de Monitoramento. Brasília: Projeto Vigisus II/Funasa. 166-174.
FOLHA DE S. PAULO. 2012. Índios ocupam prédios e boqueiam rodovias para cobrar atenção à saúde. 29 de maio. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/ noticia/2012-05-29/indios-ocupam-predios-e-bloqueiam-rodovias-para-cobrar-atencaosaude. Acesso em: 23/set/2012.
FOLLÉR, Maj-Lis. 2001. “Interactions between global processes and local health problems. A human ecology approach to health among indigenous groups in the Amazon”. Cadernos de Saúde Pública, 17(Suplemento): 115-126.
______. 2004. “Intermedicalidade: a zona de contato criada por povos indígenas e profissionais de saúde”. In: LANGDON, Esther J. M. & GARNELO, Luiza. (orgs.). Saúde dos povos indígenas: reflexões sobre antropologia participativa. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/Associação Brasileira de Antropologia. 129-147.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI). 2012. Saúde indígena foi tema predominante no encerramento da CNPI. 8 de junho. Disponível em: http://www.funai. gov.br/index.php/comunicacao/noticias/1721-saude-indigena-foi-tema-predominanteno-encerramento-da-cnpi. Acesso em: 15/nov/2012.
GALINDO, Daniel. 2005. “A inclusão das rezadoras de Maranguape na promoção da saúde pública”. Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional de São Bernardo, 2(3): 1-16.
GARNELO, Luiza & PONTES, Ana L. (orgs.). 2012. Saúde indígena: uma introdução ao tema. Brasília: Ministério da Educação; Unesco.
GREENE, Shane. 1998. “The shaman’s needle: development, shamanic agency, and intermedicality in Aguaruna lands, Peru”. American Ethnologist, 25(4): 634-658.
HELMAN, Cecil G. 2007. Culture, health and illness. London: Hodder Arnold.
HILL, Faith J. 2003. “Complementary and alternative medicine: the next generation of health promotion?” Health Promotion International. 18(3): 265-272.
KLEINMAN, Arthur. 1978. “Concepts and a model for the comparison of medical systems as cultural systems”. Social Science and Medicine, 1(12): 85-93.
LANGDON, Esther J. M. (org.). 1996. Xamanismo no Brasil: novas perspectivas. Florianópolis-SC: UFSC.
______. 2004. “Políticas públicas de saúde indígena: implicações para minorias e saúde reprodutiva”. In: S. Monteiro & L. Sansone (orgs.). Etnicidade na América Latina: um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos. Rio de Janeiro: Fiocruz. 211-226.
______. 2007. “Problematizando os projetos de medicina tradicional indígena”. In: Luciane O. Ferreira & Patrícia S. Osório (orgs.). Anais da I Reunião de Monitoramento. Brasília: Projeto Vigisus II/Funasa.110-119.
LESLIE, Charles. 1980. “Medical pluralism in world perspective”. Social Science & Medicine, 14B: 191-195.
MARTIN-HILL, Dawn. 2003. Traditional medicine in contemporary contexts: protecting and respecting indigenous knowledge and medicine. Ottawa: National Aboriginal Health Organization.
______. 2009. “Traditional medicine and restoration of wellness strategies”. Journal of Aboriginal Health, 5(1): 26-42.
MONTENEGRO, Raul A. & STEPHENS, Carolyn. 2006. “Indigenous health in Latin America and the Caribbean”. Lancet, 367: 1859-1869.
NOVO, Marina P. 2011. “Política e intermedicalidade no Alto Xingu: do modelo à prática de atenção à saúde indígena”. Cadernos de Saúde Pública, 27(7): 1362-1370.
OBOMSAWIN, Raymond. 2007. Traditional medicine for Canada’s first peoples. Report.
PAPPAS, James D., BAYDALA, Angelina & SMYTHE, Willian E. (eds). 2007. Cultural healing and belief systems. Galgary: Detselig.
ROSE, Isabel S. 2006. “Cura espiritual, biomedicina e intermedicalidade no Santo Daime”. In: 25ª Reunião Brasileira de Antropologia. Goiânia: ABA.
RICARDO, Beto & RICARDO, Fany (eds). 2011. Povos indígenas no Brasil 2006/2010. São Paulo: Instituto Socioambiental.
SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA (SESAI). 2015. Relatório da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena. Brasília: Ministério da Saúde.
STEPHENS, Carolyn, PORTER, John, NETTLETON, Clive & WILLIS, Ruth. 2006. “Disappearing, displaced, and undervalued: a call to action for indigenous health worldwide”. Lancet, 367:2019-2028.
TESSER, Charles D. & BARROS, Nelson F. 2008. “Medicalização social e medicina alternativa e complementar: pluralização terapêutica do Sistema Único de Saúde”. Revista Saúde Pública, 42(5): 914-920.
TURNER, Victor. 1974. O processo ritual. Petrópolis-RJ: Vozes.
WALDRAM, James B., HERRING, Ann H. & YOUNG, T. Kue. 2006. Aboriginal health in Canada: historical, cultural, and epidemiological perspectives. Toronto, Buffalo, London: University of Toronto Press.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). 2002. WHO traditional medicine strategy 2002”“2005. Geneva.
______. 2005. National policy on traditional medicine and regulation of herbal medicines. Geneva.

Downloads

Publicado

2018-01-26

Como Citar

Andrade, João T., e Carlos Kleber Saraiva de Sousa. 2018. “Práticas indígenas De Cura No Nordeste Brasileiro: Discutindo políticas Públicas E Intermedicalidade”. Anuário Antropológico 41 (2):179-202. https://doi.org/10.26512/anuarioantropologico.v41i2.2016/6406.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.