Inculturação e lutas ambientais: Igreja Católica, esfera pública e preservacionismo antropocêntrico no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.11424

Palavras-chave:

igreja catolica, ecoteologia, ambientalismo, natureza, inculturação

Resumo

O artigo investiga a crescente aproximação entre Igreja Católica e ambientalismo no Brasil, e procura demonstrar – por meio de uma leitura antropológica das Campanhas da Fraternidade que tematizam questões relativas à sustentabilidade e crise ambiental – como o episcopado nacional tem se esforçado em reinventar a teologia da inculturação como um sistema que incorpora, entre outros elementos, também o “mundo natural”. Sugere-se a hipótese de que a Igreja tem produzido uma narrativa simbólica que articula os elementos fundamentais de sua concepção teológica sobre a Criação ao conjunto de representações sociais que conhecemos por ecologia. Essa narrativa ecoteológica promove uma nova perspectiva de leitura dos textos bíblicos que procura recriar as relações entre cristianismo e “natureza”, projetando em um passado distante as origens de um certo ativismo ambientalista católico. Mesmo que marcada por categorias antropocêntricas, essa nova narrativa apostólica procura afirmar, a favor da Igreja Católica e suas pastorais, um lugar de destaque na esfera pública entre os demais agentes e instituições relevantes nas lutas ambientais do presente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcos Pereira Rufino, Universidade Federal de São Paulo

Doutor em Antropologia, pela Universidade de São Paulo, e docente no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil.

Referências

Azevedo, Marcello de Carvalho, S.J. 1982. “Inculturation and the challenges of modernity”. In Inculturation: Working papers on living faith and cultures. Rome: Centre “Cultures and Religions” – Pontifical Gregorian University.

Campolo, Tony. 1992. How to rescue the Earth without worshipping nature. Nashville: Thomas Nelson.

Carvalho, Isabel Cristina Moura, e Carlos Alberto Steil. 2008. “The sacralization of nature and the ‘naturalization’ of the sacred: Theoretical contributions for the comprehension of the intercrossing between health, ecology and spirituality”. Ambiente & Sociedade 11, nº 2: 289–305.

Casanova, José. 1994. Public religion in the modern world. Chicago: Chicago University Press.

Castells, Manuel. 1999. “O ‘verdejar’ do ser: O movimento ambientalista”. O poder da identidade, 141–68. São Paulo: Paz & Terra.

Clifford, Paula. 2010. “‘Where were you when I laid the foundation of the Earth?’ Climate change and a Theology of Development”. The Expository Times 121, nº 4: 176–9.

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 2007. Texto-base da Campanha da Fraternidade de 2007. Brasília: CNBB.

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 2011. Texto-base da Campanha da Fraternidade de 2011. Brasília: CNBB.

Coffman, Mike, e Brooks Alexander. 1992. “Eco-religion and cultural change”. Spiritual Counterfeits Project Journal 17, nº 3: 15–23.

Crollius, Ary Roest, S.J. 1984. “What is so new about inculturation”. In Inculturation: Working papers on living faith and cultures, organizado por Ary A. Roest Crollius, S.J., 21–9. Rome: Centre “Cultures and Religions” – Pontifical Gregorian University.

Crollius, Ary Roest, S.J. 1986. “Inculturation from the Babel to Pentecost”. In Creative inculturation and the unity of faith, organizado por Ary A. Roest Crollius, Paul Surlis, Thomas Langan, e Rodger Van Allen, 1–7. Rome: Centre “Cultures and Religions” – Pontifical Gregorian University.

Curry-Roper, Janel M. 1990. “Contemporary Christian eschatologies and their relationship to environmental stewardship”. Professional Geographer 42, nº 2: 157–69.

Effa, Allan. 2008. “The greening of mission”. International Bulletin of Missionary Research 32, nº 4: 171–6.

Fowler, Robert Booth. 1995. The greening of protestantism. North Carolina: The University of North Carolina Press.

Goldman, Ari. 1993. “Environmental movement gains interfaith allies”. New York Times, 9 October.

Greeley, Andrew. 1993. “Religion and attitudes toward the environment”. Journal for the Scientific Study of Religion 32, nº 1: 19–28.

Guth, James L. et al. 1995. “Faith and the environment: Religious beliefs and attitudes on environmental policy”. American Journal of Political Science 39, nº 2: 364–82.

Habermas, Jünger. 2003 [1961]. Mudança estrutural na esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Hand, Carl, e Kent Van Liere. 1984. “Religion, mastery-over-nature, mental concern”. Social Forces 63: 555–70.

Kuper, Adam. 2005. The invention of primitive society: Transformations of a myth. Oxon: Routledge.

Libanio, João Batista. 2004. “Campanha da Fraternidade: Água, fonte de vida”. Convergência: Revista Mensal da Conferência dos Religiosos do Brasil 39, nº 369: 16–28.

Maurer, Eugenio, S.J. 1982. “Inculturation or transculturation among the Indians”. In Effective inculturation and ethnic identity, editado por Arij Roest Crollius, 99–127. Rome: Centre “Cultures and Religions” – Pontifical Gregorian University.

Minteer, Ben A., e E. Robert. 2005. “An appraisal of the critique of anthropocentrism and three lesser knowknown themes in Lynn White’s ‘The historical roots of our ecologic crisis’”. Organization & Environment 18, nº 2: 163–76.

Montero, Paula, org. 1996. Entre o mito e a história: O V Centenário do Descobrimento da América. Petrópolis: Vozes.

Montero, Paula. 2006. “Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil”. Novos Estudos Cebrap 74: 47–65.

Montero, Paula. 2009. “Secularização e espaço público: A reinvenção do pluralismo religioso no Brasil”. Etnográfica 13, nº 1: 7–16.

Murphy, Charles. 1989. At home on Earth: Foundations for a catholic ethic of the environment. New York: Crossroads.

Nkéramihigo, Théoneste, S.J. 1984. “On Inculturation of Christianity.””. In What is so new about inculturation, organizado por Ary A. Roest Crollius e Théoneste Nkéramihigo, 21–9. Rome: Centre “Cultures and Religions” – Pontifical Gregorian University.

Nkéramihigo, Théoneste, S.J. 1986. “Inculturation and the specificity of Christian faith”. In Inculturation –- Its Meaning and Urgency. Nairobi: Saint Paul Publication.

Pádua, José A. 1997. “Natureza e projeto nacional: Nascimento do ambientalismo brasileiro (1820-1920)”. In Ambientalismo no Brasil: Passado, presente e futuro, organizado por E. Svirsky e J. P. Capobianco. São Paulo: Secretaria de Estado do Meio Ambiente/ Instituto Socioambiental, ISA/SMA.

Ribeiro Neto, Francisco Borba. 2014. “Água, organização social e subjetividade: Reflexões sobre a contribuição da Igreja ao manejo dos recursos hídricos”. http://www.pucsp.br /fecultura/textos/tecnologia/2_agua.html

Rufino, Marcos Pereira. 2002. “Ide, portanto, mas em silêncio: Faces de um indigenismo missionário católico heterodoxo”. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, 2002.

Rufino, Marcos Pereira. 2006. “O código da cultura –- O Cimi no debate da inculturação”. Deus na Aldeia: Missionários, índios e mediação cultural, organizado por Paula Monteiro, 235–75. São Paulo: Globo.

Rufino, Marcos Pereira. 2013. “Águas da discórdia: A transposição das águas do Rio São Francisco e as mudanças de curso da missão indigenista católica”. Revista de Antropologia, 56, nº 1: 15–44.

Scherer, Dom Odilo Pedro. 2007. Carta de apresentação da CF-2007. Brasília: CNBB.

Serbin, Kenneth P. 2007. “CF 2007 – Um documento que recupera o ativismo do catolicismo libertário”. O Estado de S. Paulo [Caderno Aliás], 25/02/2007.

Shaiko, Ronald G. 1987. “Religion, politics and environmental concern: A powerful mix of passions”. Social Science Quarterly 68, nº 2: 244–62.

Sider, Ronald. 1993. “Redeeming the environmentalists”. Christianity Today 37, nº. 7: 26–9.

Steinfels, Peter. 1992. “Of the new catholic catechism”. New York Times, 9 November.

Suess, Paulo. 1989. A causa indígena na caminhada e a proposta do Cimi: 1972-1989. Petrópolis: Vozes.

Suess, Paulo. 1995. “A disputa pela inculturação”. In Teologia da inculturação e inculturação da teologia, organizado por Márcio Fabri dos Anjos, 113–32. Petrópolis: Vozes.

Todorov, Tzvetan. 1983. A conquista da América – A questão do outro. São Paulo: Martins Fontes.

Wallace, Mark I. 2010. Green Christianity: Five ways to a sustainable future. Minneapolis: Fortress.

Downloads

Publicado

2023-12-27

Como Citar

Rufino, Marcos Pereira. 2023. “Inculturação E Lutas Ambientais: Igreja Católica, Esfera Pública E Preservacionismo Antropocêntrico No Brasil ”. Anuário Antropológico 48 (3):37-53. https://doi.org/10.4000/aa.11424.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.