UM SOPRO DE VIDA E A RELAÇÃO JUDAICA COM A PALAVRA E O SILÊNCIO
DOI:
https://doi.org/10.26512/aguaviva.v7i3.49820Palavras-chave:
Clarice Lispector, Sopro de vida, Mística Judaica, Hassidismo, SilêncioResumo
Clarice Lispector, filha de judeus ucranianos que se exilaram no Brasil em 1921, conservou traços da cultura e tradição de sua família, apesar de não ter vivido no país em que nasceu. Esta herança cultural se refere a uma visão de mundo que a família trouxe, presente na
língua, pelo ídiche e na cultura, a ashkenazi. Diante disso, pretendemos neste artigo, por meio de uma revisão bibliográfica, identificar aproximações entre a obra póstuma de Clarice, Um Sopro de Vida (1978), e a tradição da mística judaica, com destaque para a relação entre a palavra e o silêncio. Na tentativa de destrincharmos as possíveis afinidades da obra clariceana com o universo hassídico, pontuamos inicialmente a relação de ancestralidade que a autora possui com os judeus místicos da região da Ucrânia em que nascera, através da contribuição do biógrafo Benjamin Moser (2013) e das anotações de sua amiga e assistente, Olga Borelli (1981). Já em relação às temáticas da cultura judaica, de suas correntes místicas e o processamento do encantamento hassídico, utilizamos livros religiosos como a Bíblia Hebraica (2006) e o Zohar, o livro do esplendor (2006), além de estudiosos como J. Guinsburg (1971), Martin Buber (2003) e Amós Oz e Fania Oz-Salzberger (2005). Por fim, discutimos a distinta relevância que a palavra possui para a mística judaica enfatizando sua capacidade criadora e de revelação do que está oculto, e assim, identificamos traços em comum com algumas temáticas desenvolvidas na obra de Clarice, para quem a busca pelos limites da linguagem foi um tópico recorrente.
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