O MÉTODO DA AIA COMO PROCEDIMENTO: SINAIS DE UM PARADIGMA INDICIÁRIO E DE UMA ESCRITA ASSASSINA NO ROMANCE MEU NOME É VERMELHO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26512/aguaviva.v5i2.24990

Palavras-chave:

Método da aia. Paradigma indiciário. Discurso narrativo. Escrita assassina. Estilo literário.

Resumo

O artigo discute o método da aia submerso na diegese do romance Meu nome é vermelho do escritor Orhan Pamuk, e sua relação com o paradigma indiciário abordado pelo historiador Carlo Ginzburg em sua obra histórica. Abordamos como esse método auxilia na revelação da identidade do assassino nos interstícios desse romance, a partir dos sinais, vestígios e rastros deixados na diegese pelo autor dos dois crimes: a morte do miniaturista Elegante Efêndi e do Tio Efêndi. Empenhamos em demonstrar também, como a partir desse método, é possível uma leitura sobre o funcionamento formal dessa obra. Trabalhamos com a seguinte hipótese: a inserção de um estilo historiográfico que faz parte da prática metódica da escrita da história na diegese do romance apresenta-se como uma ironia moderna e como perspicácia do escritor para indicar ao leitor (semiótico) uma maneira dele se aproximar daquele lugar em que a escritura romanesca deposita a sua forma: o discurso narrativo. Abordaremos ainda o que estamos chamando de escrita assassina, a partir das leituras de Roland Barthes e Maurice Blanchot, que argumentam que o escritor escreve para morrer em sua obra, e assim validar sua permanência na memória de literatura.

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Biografia do Autor

Jucelino de Sales, UEG e SEEDF

Doutorando em Literatura pela Universidade de Brasília - UnB (2017- ). Mestre em Literatura pela Universidade de Brasília - UnB (2014). Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras - Português/Inglês pela Universidade Estadual de Goiás (2009). Atualmente é Professor efetivo de Língua Portuguesa da Secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal e professor contratado temporário da Universidade Estadual de Goiás, campus de Formosa. Tem experiência na área de Artes, com ilustrações no livro Vozes do Cerrado (2009); ênfase em Literatura, com publicação de um livro de contos intitulado "de sertão e arraiais: fuso de estórias transversais" e dois livros de poesia intitulados "digiversos pós-temporâneos" e "sólida solidão", uma narrativa de aventura intitulada em tríplice co-autoria "A fábula dos portais: a fenda de cristais" e um romance de fôlego "Sacro sertão, sinas"; possui poesia publicada pela Bienal da UNE (2009) e compondo o livro São João e seus caminhos (2009). Em 2014 foi premiado em 3º lugar no Concurso de Poesia PCL (Jovem) da Editora LiteraCidade e no ano de 2015 em 1° lugar no Concurso de Contos PCL (Jovem) LiteraCidade e em 2017 venceu o Prêmio Nicolas Behr de Literatura promovido pelo Programa de Pós-graduação em Literatura da Universidade de Brasília (PÓSLIT/UnB). Atua principalmente nos seguintes temas: relações entre literatura e história, discurso literário, poesia, história oral, imaginário, mito, memória, narrativas.

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Publicado

2020-03-27

Como Citar

DE SALES, Jucelino. O MÉTODO DA AIA COMO PROCEDIMENTO: SINAIS DE UM PARADIGMA INDICIÁRIO E DE UMA ESCRITA ASSASSINA NO ROMANCE MEU NOME É VERMELHO. Revista Água Viva, [S. l.], v. 5, n. 2, 2020. DOI: 10.26512/aguaviva.v5i2.24990. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/aguaviva/article/view/24990. Acesso em: 26 abr. 2024.