A arte tornada trincheira de clivagens em espiral:

guerras culturais no Brasil dos anos 2010

Autores

  • Diogo de Moraes Silva Sesc São Paulo

Palavras-chave:

Arte contemporânea, Guerras culturais, Liberdade de expressão, Recepção, Repúdio

Resumo

A década de 2010, no Brasil, esteve tão carregada de controvérsias pautadas pelos públicos que a receptividade às artes deixou de ser um pressuposto plausível. O fenômeno de repúdio a expressões artísticas não se restringiu, contudo, ao reacionarismo, em que pese sua maior truculência. Militâncias de grupos minorizados também se insurgiram contra obras e artistas no período. Resguardadas as diferenças nos níveis de beligerância, dois aspectos coincidem nas rejeições praticadas por ambos: o recurso ao poder retórico de veto e a reivindicação de superioridade moral. Sinal das guerras culturais on-line, a hiperfragmentação da esfera pública se processa por combates em que o adversário é tido como inimigo anulável, numa espiral de clivagens entre e intracomunidades, com a arte feita de trincheira. Parte disso se deve à migração do debate público para o universo digital, que exerce influência nas cisões sistemáticas entre as identidades políticas, cada qual aferrada à sua verdade.

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Publicado

2025-12-13

Como Citar

de Moraes Silva, D. (2025). A arte tornada trincheira de clivagens em espiral: : guerras culturais no Brasil dos anos 2010. Arquivos Do CMD, 12(2), 15–42. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/CMD/article/view/60771