O processo de territorialização do rótulo e as limitações impostas à agência

Autores

Palavras-chave:

interação social, espaço, memória, rotulação, favelas

Resumo

O objetivo deste texto é relacionar interação, espaço e memória com o fim de pensar o processo de territorialização do rótulo e o contágio entre coletividades. A proposta do texto é que não apenas a relação entre espaço e interação é importante, como também a presença da memória é fundamental para esse processo. São três seções. Na primeira, é estabelecida a relação entre interação social e espaço a partir da teoria de Erving Goffman. Na segunda, o conceito de “memória coletiva” de Maurice Halbwachs e “lugares de memória” de Pierre Nora são importantes para estabelecer a relação entre memória e espaço de modo mais sistemático. Na terceira, há a união das duas seções anteriores para abordar o processo de territorialização do rótulo e o contágio entre coletividades residentes no espaço analisado. Nessa seção, o problema a ser refletido é a rotulação “favelado” e a sua relação com a favela. Nesse contexto, é importante compreender como o processo de sujeição criminal irradia de certa coletividade (“bandidos”) para outra (“moradores”), territorializando-se através de processos sociais amplos, em especial pela relação com o Estado, que contribui para o processo retroalimentar do rótulo. Será dada ênfase às implicações interacionistas, como a criação de expectativas normativas, a dificuldade em gerenciamento de impressões que disso decorre, e o recurso da limpeza moral como uma tentativa de reescrever a própria coletividade e territorialidade no “mundo simbólico”. Também nessa seção, as formulações de Anthony Giddens sobre o poder são apresentadas com o fim de relacionar melhor tal categoria ao problema central e não passar como residual.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ARAÚJO, Maria Paula Nascimento; SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. História, memória e esquecimento: implicações políticas. Revista crítica de ciências sociais, n. 79, p. 95-111, 2007.

BIRMAN, Patrícia. Favela é comunidade? In: In: MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 99-114.

BURNS, Tom. Erving Goffman. Routledge, 1992.

COLLINS, Randall. Quatro tradições sociológicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

DOMINGUES, José Maurício. Sociological theory and collective subjectivity. Basingstoke: Macmillan Press, 1995.

______. Criatividade social, subjetividade coletiva e a mdernidade brasileira contemporânea. 1.ed. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1999.

DURKHEIM, Émile. Formas Elementares da Vida Religiosa. 1° Edição. São Paulo. Martin Fontes, 1996.

______. Da divisão do trabalho social. 4º Edição. São Paulo. Martin Fontes, 2010.

FARIAS, Edson. Espaço e lembranças na economia simbólica urbana: o “retorno” da Pequena África carioca. Revista TOMO – jan./jun. 2010, pp.79-130.

______. O lugar e a mobilidade: a Pequena África carioca no anverso da circulação turística. Pol. Cult. Rev., Salvador, v. 13, n. 2, p. 57-107, jul./dez. 2020.

FREHSE, Fraya. Erving Goffman, sociólogo do espaço. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 23, p. 155-166, 2008.

FREIRE, Jussara; TEIXEIRA, Cesar Pinheiro. Humanidade disputada. Terceiro Milênio: Revista Crítica de Sociologia e Política, v. 6, n. 01, p. 58-85, 2016.

GIDDENS, Anthony. A Constituição da sociedade. 3º Edição. São Paulo. Martin Fontes, 2009

______. Problemas centrais em teoria social: ação, estrutura e contradição na análise sociológica. Petrópolis-RJ. Vozes, 2018.

GOFFMAN, Erving. A Representação do eu na vida cotidiana. 10º Edição. Petrópolis-RJ. Vozes, 1985.

______. Estigma e identidade social. In: Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro, LTC, 2008[1963],

pp. 9-50.

______. Comportamento em lugares públicos: notas sobre a organização social dos ajuntamentos. Vozes, 2010.

______. Ritual de Interação. Petrópolis-RJ. Vozes, 2011.

______. A ordem da interação: Discurso presidencial da American Sociological Association, 1982. Dilemas-Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 12, n. 3, p. 571-603, 2019.

GOMBRICH, Ernst Hans Josef. A história da arte. 16.Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

GONDAR, Jô. Memória individual, memória coletiva, memória social. Morpheus – Revista Eletrônica em Ciências Humanas - Ano 08, número 13, 2008.

HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. 1.ed. São Paulo: Editora Centauro, 2006.

HOLZER, Werther. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem e lugar, território e meio ambiente. Revista Território, ano 4 n.3, jul./dez., 1997.

HOUSTON, James. Paisaje y síntesis geográfica. Revista de Geografia, v. 4, n2, p. 133-140, 1970.

JOSEPH, Isaac. Erving Goffman e a microssociologia. FGV, 2000.

LEITE, Márcia Pereira. Violência, risco e sociabilidade nas margens da cidade: percepções e formas de ação de moradores de favelas cariocas. In: MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 115-142

LEITE, Márcia Pereira; FARIAS, Juliana. Militarização e dispositivos governamentais para lidar com os “inimigos” do/no Rio de Janeiro. In: LEITE, Márcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana, e CARVALHO, Monique. (orgs). Militarização no Rio de Janeiro: da pacificação à intervenção. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2018, p. 240-262.

MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio; MENEZES, Palloma Valle. (Des) continuidades na experiência de “vida sob cerco” e na “sociabilidade violenta”. Novos estudos CEBRAP, v. 38, p. 529-551, 2020.

MAGALHÃES, Alexandre. A guerra como modo de governo em favelas do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 36, 2020.

MEAD, George Herbert. Mente, self e sociedade: edição definitiva. 1º Edição. Petrópolis-RJ. Editora Vozes, 2022.

MISSE, Michel. Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria" bandido". Lua Nova: Revista de Cultura e Política, p. 15-38, 2010.

NORA, Pierre et al. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 10, 1993.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

SANTOS, Myrian. O pesadelo da amnésia coletiva: um estudo sobre os conceitos de memória, tradição e traços do passado. Cadernos de Sociomuseologia, v.19. n.19, 2002.

TUAN, Yi-Fu. Lugar: uma perspectiva experiencial. Geograficidade, v. 8, n. 1, p. 4-15, 2018.

VIANA, Nildo. Memória e sociedade: uma breve discussão teórica sobre memória social. Espaço Plural — Ano VI - No 14 - 1o Semestre de 2006 — Versão eletrônica disponível na internet: www.unioeste.br/saber.

WERNECK, Alexandre. Teoria da rotulação. In: LIMA, Renato Sérgio de; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de (orgs). Crime, polícia e Justiça no Brasil. São Paulo, Contexto/Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2014, pp. 105-116,

Downloads

Publicado

2024-11-16

Como Citar

Paz dos Santos, L. (2024). O processo de territorialização do rótulo e as limitações impostas à agência. Arquivos Do CMD, 11(2), 172–198. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/CMD/article/view/56154