Vida e morte na escrita da história: entre gregos e modernos
Resumo
O ensaio inspira-se em considerações de M. de Certeau que caracterizam a operação historiográfica como a “enigmática relação” que o historiador estabelece com a “sociedade presente e com a morte” pela “mediação de atividades técnicas”. Ao tornar visível, no presente, aquilo que não é mais, o passado, a historiografia torna-se inscrição paradoxal da ausência no aqui e agora do texto histórico. Inspira-se igualmente em tese de J.-P. Vernant sobre a complementaridade, na Grécia arcaica, entre memorial funerário e canto épico; ambos operavam como formas de aculturação da morte. No jogo de estranhamento e afinidade entre os helenos antigos e nós, apresentam-se problemas, de ordem epistemológica e antropológica, que envolvem, em certos debates historiográficos contemporâneos, o estatuto do passado, a idéia do texto histórico como representação, a difícil conquista de uma consciência de historicidade e as tensas relações entre mito, memória e história no âmbito da tradição ocidental.<br />