Primeiras reflexões sobre travessias e retornos: africanos cabindas, redes do tráfico e diásporas num Rio de Janeiro atlântico
Resumo
Este artigo aborda as possibilidades de conexões entre áreas de tráfico no rio Zaire, norte de Angola e a demografia da escravidão. São analisadas as relações complexas envolvendo africanos, escravos, redes do tráfico, capitães de navios e proprietários entre Cabinda e Rio de Janeiro, no século XLX. Com base em algumas petições de africanos traficantes - transformados em escravos - memórias de descendentes de famílias Ngoio que comandavam o tráfico, noticiário jornalístico, registros prisionais e textos literários sobre libertos africanos Cabindas procura-se perscrutar as dimensões atlânticas das identidades sociais reconstruídas, envolvendo tanto os universos africanos das redes do tráfico como as experiências da diáspora no mercado de trabalho, na formação de quilombos, nos padrões de moradia e nas reinvenções culturais. A partir do caso dos africanos Cabindas Ngoio são ensaiadas perspectivas metodológicas de pensar a gestação de comunidades transétnicas e atlânticas e seus respectivos arranjos sócio-culturais em áreas urbanas e rurais do Rio de Janeiro.