O abolicionismo literário: "O negreiro"

Autores

  • Flávio R. Kothe Universidade de Brasília ”“ UnB

Resumo

O abolicionismo, tema aparentemente anacrônico para a civilização européia, que durante séculos fora a razão de ser da escravidão na América e, por volta de 1850, colocara um ultimato contra o tráfico de escravos, ao interiorizar no "sistema nacional brasileiro" (de uma "nação" ainda não constituída) a pressão inglesa e reconhecer a diminuição da produtividade do regime escravocrata, tornou-se tema fundamental da política e da literatura do Segundo Império no Brasil, aparente linha de separação entre conservadores e progressistas. Castro Alves (1847-1871) tem sido considerado o seu grande poeta, representante prototípico da linha do nacional e popular.
A hoje dominante linha nativista da historiografia tende a ver na produção brasileira um elemento autóctone, de geração espontânea, esquecendo que ela sempre tem sido uma atualização, mais ou menos retardada e criativa, de modelos oriundos das metrópoles culturais. A solução não está, portanto, em "eliminar influências" desconhecendo-as, mas em saber como foi feita a reelaboração de modelos e como, mediante a criação de uma tradição interna e um sistema consistente, a produção pôde/pode equiparar-se à das metrópoles, rompendo, ou não, o estatuto periférico, o exílio cultural. A "libertação dos escravos" tornou-se assim não apenas um tema literário, mas uma definição do sistema literário; não só uma questão de conteúdo, mas de forma.

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Biografia do Autor

Flávio R. Kothe, Universidade de Brasília ”“ UnB

livre-docente em Teoria Literária e Literatura Comparada, e professor da UnB.

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Publicado

2001-05-07

Como Citar

R. Kothe, F. (2001). O abolicionismo literário: "O negreiro". T.E.X.T.O.S DE H.I.S.T.Ó.R.I.A. Revista Do Programa De Pós-graduação Em História Da UnB., 1(2), 1–31. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/textos/article/view/27614

Edição

Seção

Artigos