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Avaliação de Crenças sobre Violência no Namoro (ACVN): Um Novo Instrumento Brasileiro

Evaluation of Attitudes on Dating Violence (EADV): A New Brazilian Instrument

Evaluación de Actitudes sobre la Violencia en el Noviazgo (EADV): Un Nuevo Instrumento Brasileño

Resumo

As pesquisas sobre violência no namoro são desafiadoras pela falta de instrumentos validados na população brasileira. O objetivo deste estudo foi analisar propriedades psicométricas do instrumento Avaliação de Crenças sobre Violência no Namoro (ACVN). A amostra foi composta por 1.027 estudantes universitários das 5 regiões brasileiras, com idade média de 22,5 anos (DP = 3,7), que responderam 39 itens. Uma Exploratory Graph Analysis (EGA) foi utilizada em 513 respostas, estabelecendo 3 dimensões com boa consistência interna: Violência Psicológica e Física (α = 0,85), Empatia (α = 0,78) e Stalking (α = 0,87). Uma análise fatorial confirmatória com 514 participantes apresentou adequação. Os resultados demonstram a adequação do instrumento e a possibilidade de uso para população brasileira em pesquisas e intervenções.

Palavras-chave:
violência; namoro; violência por parceiro íntimo; crenças

Abstract

Lack of assessment tools for the Brazilian population is a challenge regarding dating violence. Aim of this study was to analyze psychometric properties of the instrument Evaluation of attitudes on dating violence (EADV). Sample comprised 1,027 university students from five Brazilian regions with a mean age of 22.5 years (SD = 3.7) who answered 39 items. An Exploratory Graph Analysis (EGA) was used with 513 participants establishing three dimensions with good internal consistency (Psychological and Physical Violence (α = 0.85), Empathy (α = 0.78), Stalking (α = 0.87)). A confirmatory factorial analysis with 514 participants showed adequate results. Results show the scale reliability and adequacy to its use with the Brazilian population on research and intervention.

Keywords:
violence; dating; intimate partner violence; beliefs

Resumen

Investigaciones sobre violencia en noviazgo es desafiada por la falta de herramientas de evaluación validadas para la población brasileña. El objetivo de este estudio fue analizar las propiedades psicométricas del instrumento Evaluación de actitudes sobre violencia de pareja (EADV). La muestra consistió en 1.027 estudiantes universitarios de cinco regiones brasileñas con edad media de 22.5 años (DE = 3.7) que respondieron 39 ítems. Se utilizó análisis gráfico exploratorio (EGA) con 513 participantes estableciendo tres dimensiones con buena consistencia interna (violencia psicológica y física (α = 0.85), empatía (α = 0.78), stalking (α = 0.87)). Análisis factorial confirmatorio con 514 participantes mostró resultados adecuados. Los resultados demuestran la adecuación del instrumento y la posibilidad de uso para la población brasileña en investigaciones e intervenciones.

Palabras-clave:
violencia; violencia de pareja; creencias

A violência caracteriza-se como um fenômeno complexo e multifacetado e, por si só, não é um problema de saúde pública. No entanto, transforma-se em uma questão para a área, uma vez que afeta a saúde individual e coletiva, causando consequências negativas em diversas esferas da vida e provocando uma reorganização dos serviços de saúde (Minayo, 2006Minayo, M. (2006). Violência e saúde. Fiocruz.). Pelo número de vítimas e pela grandiosidade das sequelas físicas e emocionais que produz, a violência adquiriu características endêmicas e se tornou um problema de saúde pública em muitos países.

Uma das formas identificadas de manifestação da violência entre jovens é a violência no namoro. Essa se difere de outras formas de Violência contra o Parceiro Íntimo (VPI) por apresentar uma característica fundamental: não há coabitação entre o perpetrador e a vítima, ou seja, apesar de manterem um relacionamento amoroso, os parceiros não residem no mesmo local (Wekerle et al., 2009Wekerle, C., Leung, E., Wall, A., MacMillan, H., Boyle, M., Trocme, N., & Waechter, R. (2009). The contribution of childhood emotional abuse to teen dating violence among child protective services-involved youth. Child Abuse & Neglect, 33(1), 45-58. https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2008.12.006
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). Na maioria dos casos, a violência no relacionamento íntimo dos jovens está presente no começo do namoro, podendo aumentar em intensidade e frequência ao longo do tempo (Foshee et al., 2014Foshee, V., Reyes, L., Agnew-Brune, C., Simon, T., Vagi, K., Lee, R., & Suchindran, C. (2014). The effects of the evidence-based safe dates dating abuse prevention program on other youth violence outcomes. Prevention Science, 15(6), 907-916. https://doi.org/10.1007/s11121-014-0472-4
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; Wekerle & Wolfe, 1999Wekerle, C., & Wolfe, D. A. (1999). Dating violence in mid-adolescence: Theory, significance, and emerging prevention initiatives. Clinical Psychology Review, 19(4), 435-456. https://doi.org/10.1016/S0272-7358(98)00091-9
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). Sabe-se que a violência nas relações afetivo-sexuais de jovens, além de representar um potencial precursor da VPI na fase adulta, possui características próprias, em função de faixa etária, prevalência, lesões e danos psicológicos à vítima, necessitando de uma maior atenção social (Straus, 2004Straus, M. A. (2004). Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence against women, 10(7), 790-811. https://doi.org/10.1177%2F1077801204265552
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). Segundo Straus (2004Straus, M. A. (2004). Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence against women, 10(7), 790-811. https://doi.org/10.1177%2F1077801204265552
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), o foco nas relações afetivo-sexuais dos estudantes universitários é importante por uma série de razões: (a) dados sobre os estudantes universitários podem ser obtidos de forma mais abrangente por meio de questionários de baixo custo de aplicação; (b) em muitos países, as relações na forma de “namoro” são mais propensas a existir entre os estudantes universitários do que nos outros setores da população, devido a aspectos relacionados à idade e ao ambiente social; (c) estudos demonstram que agressões físicas ocorrem com frequência entre os casais universitários (Edwards et al., 2015Edwards, K. M., Sylaska, K. M., Barry, J. E., Moynihan, M. M., Banyard, V. L., Cohn, E. S., Walsh, W. A., & Ward, S. K. (2015). Physical dating violence, sexual violence, and unwanted pursuit victimization: A comparison of incidence rates among sexual-minority and heterosexual college students. Journal of Interpersonal Violence, 30(4), 580-600. https://doi.org/10.1177%2F0886260514535260
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; Kaukinen, 2014Kaukinen, C. (2014). Dating violence among college students: The risk and protective factors. Trauma, violence, & abuse, 15(4), 283-296. https://doi.org/10.1177%2F1524838014521321
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), incluindo pesquisas nacionais (Murta et al., 2016Murta, S. G., Moore, R. A., Miranda, A. A. V., Cangussú, E. D. A., Santos, K. B. D., Bezerra, K. L. T., & Veras, L. G. (2016). Efeitos de um programa de prevenção à violência no namoro. Psico-USF, 21(2), 381-393. http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712016210214
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; Priolo-Filho, 2017Priolo-Filho, S. R. (2017). Avaliação de uma intervenção para prevenção da violência no namoro. [Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos]. Repositório institucional UFSCar. https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/9024/TeseSRPF.pdf?sequence=1
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); (d) estudantes universitários constituem uma parcela considerável da população em diversos países; (e) os alunos estão em um período de formação em suas vidas, o que pode determinar um padrão de relacionamento ao longo do ciclo vital. Se considerarmos que essa é a fase de maior incidência da formação de casais e o início da constituição de famílias, conhecer como esse fenômeno pode estar presente nessa fase do desenvolvimento humano é de extrema urgência. Contudo, para a compreensão efetiva dessa forma de violência, faz-se necessário mensurar e interpretar como a violência no namoro atua a partir de instrumentos validados e adequados aos contextos culturais. É fundamental que essas avaliações consigam captar de forma abrangente os diferentes tipos de violência que podem ocorrer na fase do namoro, bem como potenciais eventos ou comportamentos protetivos (Duval et al., 2020Duval, A., Lanning, B. A., & Patterson, M. S. (2020). A systematic review of dating violence risk factors among undergraduate college students. Trauma, Violence, & Abuse, 21(3), 567-585. https://doi.org/10.1177%2F1524838018782207
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).

As formas mais prevalentes de violência no namoro entre jovens brasileiros são a psicológica e a sexual (Minayo et al., 2011Minayo, M. C. D. S., Assis, S. G. D., & Njaine, K. (2011). Amor e violência: Um paradoxo das relações de namoro e do ‘ficar’ entre jovens brasileiros. Fiocruz.). A violência psicológica, segundo a Organização Mundial da Saúde (2002Organização Mundial da Saúde. (2002). Relatório Mundial sobre Violência e Saúde.), é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação e desrespeito, usualmente, que não deixa marcas corporais visíveis, mas provocam efeitos prejudiciais que podem durar vários anos. Essa forma de violência também pode apresentar características de controle comportamental e vigilância, sendo nomeada como stalking ou cyberstalking, quando se utiliza de meios tecnológicos (Smith-Darden et al., 2017Smith-Darden, J. P., Kernsmith, P. D., Victor, B. G., & Lathrop, R. A. (2017). Electronic displays of aggression in teen dating relationships: Does the social ecology matter? Computers in Human Behavior, 67, 33-40. https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.10.015
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). A violência sexual é a violência que abrange a penetração não consensual completa ou incompleta, o contato sexual não desejado que não envolva penetração, ou as falas sexualizadas indesejadas sem contato físico. Outra forma de violência é a física, que se utiliza do uso intencional da força, como tapas, socos, chutes, empurrões, beliscões, agressões com diversos objetos, queimaduras e outras formas de se agredir o parceiro fisicamente com o objetivo de ferir ou causar danos, deixando ou não marcas evidentes e chegando até mesmo à morte (Teten et al., 2009Teten, A. L., Ball, B., Valle, L. A., Noonan, R., & Rosenbluth, B. (2009). Considerations for the definition, measurement, consequences, and prevention of dating violence victimization among adolescent girls. Journal of Women's Health, 18(7), 923-927. https://doi.org/10.1089/jwh.2009.1515
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). Com isso, a VPI apresenta uma série de diferenças e características de acordo com a sua apresentação.

Algumas variáveis têm sido descritas na literatura como protetivas da violência em relacionamentos amorosos ou de suas consequências, sendo uma delas a empatia. Alguns autores apontam a empatia como uma característica ou habilidade protetiva (Espelage et al., 2020Espelage, D. L., Leemis, R. W., Niolon, P. H., Kearns, M., Basile, K. C., & Davis, J. P. (2020). Teen dating violence perpetration: Protective factor trajectories from middle to high school among adolescents. Journal of research on adolescence, 30(1), 170-188. https://doi.org/10.1111/jora.12510
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), enquanto outros dados apontam para uma maior possibilidade de vitimização da violência em adolescentes e jovens mais empáticos (Dodaj et al., 2020Dodaj, A., Sesar, K., & Šimic, N. (2020). Impulsivity and empathy in dating violence among a sample of college females. Behavioral Sciences, 10(7), 117. https://doi.org/10.3390/bs10070117
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). A empatia com o parceiro tem sido discutida como um aspecto que poderia ser protetivo ou de risco, conforme o histórico de apego romântico e as características do casal (Péloquin et al., 2011Péloquin, K., Lafontaine, M. F., & Brassard, A. (2011). A dyadic approach to the study of romantic attachment, dyadic empathy, and psychological partner aggression. Journal of social and personal relationships, 28(7), 915-942. https://doi.org/10.1177%2F0265407510397988
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). Dessa forma, há crenças sobre como a empatia podem ser um bom indicador da violência no namoro e um aspecto a ser avaliado em pesquisas e intervenções sobre a temática.

O instrumento mais utilizado nos estudos sobre violência em relacionamentos amorosos é a Escala de Táticas de Conflito Revisada (CTS2) (Straus et al., 1996Straus, M. A., Hamby, S. L., Boney-McCoy, S., & Sugarman, D. B. (1996). The revised conflict tactics scales (CTS2) development and preliminary psychometric data. Journal of family issues, 17(3), 283-316. https://doi.org/10.1177%2F019251396017003001
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). Essa escala tem como objetivo identificar comportamentos violentos praticados e sofridos em relacionamentos amorosos; contudo, problemas na avaliação da coerção sexual e na construção dos fatores são um de seus pontos fracos (Chapman & Gillespie, 2019Chapman, H., & Gillespie, S. M. (2019). The Revised Conflict Tactics Scales (CTS2): A review of the properties, reliability, and validity of the CTS2 as a measure of partner abuse in community and clinical samples. Aggression and violent behavior, 44, 27-35. https://doi.org/10.1016/j.avb.2018.10.006
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). No entanto, em relação às crenças de adolescentes e jovens adultos sobre a violência, há uma grande diversidade de instrumentos norte-americanos e canadenses e, em nosso conhecimento, nenhum brasileiro específico para a violência no namoro. Com isso, há uma grande dificuldade ao comparar os resultados desses países com o Brasil, para além das diferenças culturais. As diferenças entre os instrumentos afetam os resultados e, com a generalização dos dados comprometida, a maior parte dos instrumentos internacionais não está validada para a população brasileira (Avery-Leaf et al., 1997Avery-Leaf, S., Cascardi, M., O’Leary, K. D., & Cano, A. (1997). Efficacy of dating violence prevention program on attitudes justifying aggression. Journal of Adolescent Health, 21(1), 11-17. http://doi.org/10.1016/S1054-139X(96)00309-6
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; Ferrari et al., 2016Ferrari, I. M. S. F., Priolo-Filho, S., & Brino, R. de F. (2016). Questionário sobre violência intrafamiliar: Confiabilidade de um instrumento sobre crenças [Intrafamilial violence questionnaire: Reliability of an instrument about attitudes]. Psicologia: Teoria e Prática, 18(3), 54-65.).

Crenças sobre a violência têm sido um dos elementos considerados mais relevantes para as pesquisas e intervenções (ver Jennings et al., 2017Jennings, W. G., Okeem, C., Piquero, A. R., Sellers, C. S., Theobald, D., & Farrington, D. P. (2017). Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: Evidence from a systematic review. Aggression and violent behavior, 33, 107-125. https://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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para uma revisão da área). Escalas de crenças sobre a violência são diversas na literatura internacional. Por exemplo, Avery-Leaf et al. (1997Avery-Leaf, S., Cascardi, M., O’Leary, K. D., & Cano, A. (1997). Efficacy of dating violence prevention program on attitudes justifying aggression. Journal of Adolescent Health, 21(1), 11-17. http://doi.org/10.1016/S1054-139X(96)00309-6
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) criaram o Justification of Dating Jealousy and Violence Scale (Escala de Justificação de Ciúmes e Violência no Namoro) com uma listagem de comportamentos que fornecem uma pontuação sobre as crenças, os comportamentos ciumentos e violentos. Uma escala que tem sido utilizada com frequência na literatura internacional é a Attitudes Towards Women Scale (Spence & Hahn, 1997Spence, J. T., & Hahn, E. D. (1997). The attitudes toward women scale and attitude change in college students. Psychology of women quarterly, 21(1), 17-34. https://doi.org/10.1111%2Fj.1471-6402.1997.tb00098.x
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), que tem como objetivo avaliar as crenças sobre os papéis das mulheres na sociedade. Contudo, essas escalas foram construídas em contextos norte-americanos e seus itens refletem a cultura e os padrões de violência daquela população.

Com isso, o objetivo do presente estudo é analisar os parâmetros psicométricos de um instrumento nacional que avalie as crenças de estudantes universitários em relação à violência no namoro. Adicionalmente, verificar evidências iniciais de validade e precisão e seu potencial de aplicação com amostras nacionais.

Método

Participantes

Participaram dessa pesquisa 1.027 estudantes universitários brasileiros, sendo 92,2% de instituições públicas e 7,8% de instituições privadas, das 5 regiões brasileiras (Norte e Nordeste: 10,8%, Centro-Oeste: 6,3%, Sudeste: 75%, Sudeste: 7%, Sul: 7% e sem resposta: 0,3%). A média de idade foi de 22,5 anos (DP = 3,7), sendo 76% do sexo feminino e 24% do sexo masculino. Entre os cursos dos participantes, 18,5% pertenciam a área de Saúde, 32,1% cursavam Humanas, 35,9% Exatas, 11,9% Biológicas e 1,6% não informaram a área.

Instrumento

A construção do instrumento, denominado Avaliação de crenças sobre violência no namoro (ACVN), foi baseada na literatura nacional e internacional com foco nas características comportamentais de jovens em relação a violência no relacionamento amoroso tendo como base principal a Escala de Táticas de Conflito Revisada (CTS-2) (Straus et al., 1996Straus, M. A., Hamby, S. L., Boney-McCoy, S., & Sugarman, D. B. (1996). The revised conflict tactics scales (CTS2) development and preliminary psychometric data. Journal of family issues, 17(3), 283-316. https://doi.org/10.1177%2F019251396017003001
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), versão validada para o Brasil por Moraes et al. (2002Moraes, C. L., Hasselmann, M. H., & Reichenheim, E. M. (2002). Adaptação transcultural para o português do instrumento “Revised Conflict Tactics Scale (CTS-2)” utilizado para identificar violência entre casais. Caderno de Saúde Pública, 18, 163-176. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2002000100017
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). Foi realizada uma análise detalhada com o objetivo de averiguar como os itens haviam sido elaborados e quais comportamentos eram compreendidos pelo instrumento CTS-2. Contudo, diferentemente do CTS-2, na elaboração do ACVN os comportamentos ou situações foram criados para referirem-se a crenças de jovens em relação aos comportamentos violentos gerais. Por exemplo, o comportamento “Dei um tapa no meu parceiro” do CTS-2, que é avaliado quanto à sua frequência, foi base para o item “Dar um tabefe/bofetão no meu parceiro(a)”. O participante deveria selecionar se considerava cada situação e comportamento (item) em uma escala de 5 pontos, variando de “carinho”, “de alguma forma carinho”, “neutro”, “de alguma forma violência” ou “violência”. Adicionalmente, outros comportamentos e situações foram elaboradas para abordar questões modernas dos relacionamentos de jovens. Por exemplo, foram criadas questões sobre cyberstalking a fim de contemplar a lacuna observada na literatura (Smith-Darden et al., 2017Smith-Darden, J. P., Kernsmith, P. D., Victor, B. G., & Lathrop, R. A. (2017). Electronic displays of aggression in teen dating relationships: Does the social ecology matter? Computers in Human Behavior, 67, 33-40. https://doi.org/10.1016/j.chb.2016.10.015
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). Exemplos desses itens são “Impedir o(a) parceiro(a) de ter uma conta nas redes sociais”; “Entrar nas redes sociais do(a) parceiro(a) sem ele(a) saber”, “Pedir ao(à) parceiro(a) a senha de acesso das redes sociais” e “Olhar o celular do(a) parceiro(a) sem ele(a) saber”. O instrumento original ficou composto por 39 itens, sendo que, para cada item, o participante deveria assinalar 1 dentre as 5 possibilidades de resposta. O escore foi estabelecido pela soma das pontuações de seus respectivos itens.

Procedimentos

O estudo foi submetido ao Comitê de Ética e a coleta de dados foi iniciada após a aprovação (CAAE 37040514.6.0000.5504). O convite para a participação informava que o universitário deveria ter idade superior a 18 anos e era informado que a participação era voluntária e anônima. Os participantes deram a concordância digital no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o questionário era apresentado. A assinatura dos pesquisadores estava disponível online no TCLE e, caso algum participante desejasse, era encaminhada via e-mail.

Inicialmente, foram convidados 10 estudantes de uma universidade pública do interior do estado de São Paulo, com o objetivo de realizar o piloto do questionário. O convite foi realizado por e-mail e consistia em apresentar o objetivo do estudo e o direito de não participação ou desistência ao longo do preenchimento sem qualquer ônus, bem como que o instrumento abordava questões a respeito do relacionamento amoroso e resolução de conflitos. Foi solicitado aos estudantes que acessassem o link para responder o instrumento e que comunicassem qualquer dúvida em termos de problemas técnicos com as respostas, compreensão dos itens e sugestões de apresentação da pesquisa.

Após o piloto, os pesquisadores publicaram o convite aberto para todos os estudantes em grupos de redes sociais das Instituições de Ensino Superior constantes do cadastro disponível no site do Ministério da Educação. O convite consistia em apresentar o objetivo do estudo e o direito de participação, bem como que o instrumento abordava questões a respeito do relacionamento amoroso e resolução de conflitos. Essas comunidades virtuais, que são geridas por alunos das próprias instituições, são uma ferramenta para obtenção de participantes e não envolvem aspectos administrativos ou éticos por parte das Universidades, mas sim por parte dos alunos que foram convidados a participar. Contudo, restringe a participação aos alunos que possuíam Facebook e estavam inscritos nos grupos das instituições. O tempo para preenchimento do questionário foi de, em média, 10 minutos. O instrumento ficou disponível por dois meses na internet e, após esse prazo, o link que direcionava para o questionário foi desabilitado.

A utilização de um questionário online ocorreu devido à maior facilidade de acesso aos jovens universitários e à maior abrangência que o estudo poderia obter. Outro fator importante que contribuiu para a escolha de um questionário online é o fato de que, segundo van Gelder et al. (2010van Gelder, M. M., Bretveld, R. W., & Roeleveld, N. (2010). Web-based questionnaires: The future in epidemiology? American journal of epidemiology, 172(11), 1292-1298. https://doi.org/10.1093/aje/kwq291
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), há fortes indícios de que os questionários baseados na internet são menos propensos à influência social do que outros métodos de coleta tradicionais, o que torna apropriado para pesquisas sobre temas sensíveis, como crenças sobre comportamento violento no namoro.

Análise de Dados

A amostra foi dividida em duas partes aleatórias: subamostra A, composta por 513 sujeitos (1 ao 513), utilizada para estimar o melhor número de dimensões para o instrumento, e a subamostra B, composta por 514 sujeitos (514 ao 1027), utilizada para realizar a análise confirmatória do modelo. Para aferir a existência de correlações suficientes na matriz de dados, foi aferido o índice de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e da significância da estatística do Teste de Esfericidade de Bartlett para ambas as subamostras. Para a interpretação do índice KMO, via de regra, os valores menores que 0,50 são considerados inaceitáveis; 0,50 a 0,70, considerados aceitáveis; 0,70 a 0,80 são considerados bons; e valores maiores que 0,80 e 0,90 são excelentes (Friel, 2009Friel, C. M. (2009). Notes on factor analysis. Criminal Justice Centre, Sam Houston State University.). Para determinar o número de dimensões a serem extraídas, foi utilizada a técnica Exploratory Graph Analysis (EGA) (Golino & Demetriou, 2017Golino, H. F., & Demetriou, A. (2017) Estimating the dimensionality of intelligence like data using Exploratory Graph Analysis. Intelligence, 62, 54-60. https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.02.007
https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.02...
; Golino & Epskamp, 2017Golino, H.F., & Epskamp, S. (2017). Exploratory graph analysis: A new approach for estimating the number of dimensions in psychological research. PloS one, 12(6), e0174035. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0174035
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017...
). Foram seguidas as duas regras, conforme as instruções de uso do EGA: 1) as dimensões devem ser analisadas item por item. Caso a dimensão for representada por apenas um item, este item deve ser excluído e executada a análise novamente. O processo deve ser aplicado repetidamente até que todas as dimensões contenham ao menos dois itens; 2) se apenas dois itens da dimensão X forem identificados como parte de outra dimensão, Y, estes itens devem ser eliminados e a técnica reaplicada (Golino & Epskamp, 2017Golino, H.F., & Epskamp, S. (2017). Exploratory graph analysis: A new approach for estimating the number of dimensions in psychological research. PloS one, 12(6), e0174035. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0174035
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017...
). A consistência interna por fator foi calculada por meio do coeficiente alfa, com índice mínimo aceitável de 0,70 (Marôco & Garcia-Marques, 2006Marôco, J., & Garcia-Marques, T. (2006). Qual a fiabilidade do alfa de Cronbach? Questões antigas e soluções modernas? [How reliable is Cronbach's alpha? Old issues and modern solutions?]. Laboratório de Psicologia, 4(1), 65-90. https://doi.org/10.14417/lp.763
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).

A solução final gerada pelo EGA foi submetida a uma análise fatorial confirmatória utilizando o estimador por Weighted Least Squares Mean and Variance-adjusted - WLSMV (Quadrados Mínimos Ponderados Robustos) via lavaan (Rosseel, 2012Rosseel, Y. (2012). lavaan: An R package for structural equation modeling. Journal of Statistical Software, 48(2), 1-36. http://dx.doi.org/10.18637/jss.v048.i02
http://dx.doi.org/10.18637/jss.v048.i02...
). O ajuste do modelo foi verificado utilizando-se o erro raiz quadrado médio de aproximação (RMSEA), o índice de ajuste comparativo (CFI), o índice de ajuste normalizado (NFI) e o índice de bondade do ajuste (GFI). O ajuste do modelo é considerado bom se apresentar RMSEA < 0,06 (Browne & Cudeck, 1993Browne, M. W., & Cudeck, R. (1993). Alternative ways of assessing model fit. In K.A., Bollen & J.S., Long (Eds.), Testing structural equations models (pp. 136-162). Sage.), CFI > 0,95 (Hu & Bentler, 1999Hu, L., & Bentler, P. M. (1999). Cutoff criteria for fit indexes in covariance structure analysis: Conventional criteria versus new alternatives. Structural Equation Modeling, 6, 1-55. https://doi.org/10.1080/10705519909540118
https://doi.org/10.1080/1070551990954011...
), NFI e GFI > 0,90 (Bentler & Bonett, 1980Bentler, P. M., & Bonett, D. G. (1980). Significance tests and goodness of fit in the analysis of covariance structures. Psychological Bulletin, 88(3), 588-606. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0033-2909.88.3.588
https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0033...
). As análises foram implementadas com a utilização do software para cálculos estatísticos de livre uso R (R Core Team, 2013R Core Team (2013). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing. http://www.R-project.org/.
http://www.R-project.org/...
) e por meio dos pacotes estatísticos EGA (Golino & Epskamp, 2017Golino, H. F., & Demetriou, A. (2017) Estimating the dimensionality of intelligence like data using Exploratory Graph Analysis. Intelligence, 62, 54-60. https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.02.007
https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.02...
), lavaan (Rosseel, 2012Rosseel, Y. (2012). lavaan: An R package for structural equation modeling. Journal of Statistical Software, 48(2), 1-36. http://dx.doi.org/10.18637/jss.v048.i02
http://dx.doi.org/10.18637/jss.v048.i02...
) e psych (Revelle, 2011Revelle, W. (2011). psych: Procedures for personality and psychological research. Northwestern University. http://personality-project.org/r/psych.manual.pdf
http://personality-project.org/r/psych.m...
).

Resultados

Estimação da Dimensionalidade

Para estimação da dimensionalidade da escala, utilizou-se a subamostra A, composta por 513 estudantes universitários com média de idade de 22,6 anos (DP = 3,78 anos), sendo 75% do sexo feminino e 25% do sexo masculino. Em relação à amostra, assegurou-se a proporção de, pelo menos, cinco respondentes para cada item estimado (Hair et al., 2005Hair, J. F., Tartham, R.L., Anderson, R. E., & Black, W. (2005). Análise multivariada de dados (5a ed.). Bookman.) e garantiu-se que a matriz de dados possuía correlações suficientes para realizar a análise fatorial, conforme aferido pelo índice de adequação da amostra (KMO) e da significância da estatística do Teste de Esfericidade de Bartlett. O valor do KMO da amostra foi de 0,85, ou seja, superior ao patamar crítico de 0,60. Da mesma forma, a estatística Teste de Esfericidade de Bartlett foi significativa, p <0,001. Em ambos os casos, os testes sugerem que os dados possuem correlações suficientes para execução das análises.

Na estimação da dimensionalidade, foram consideradas as duas regras para utilização da EGA (Golino & Demetriou, 2017Golino, H. F., & Demetriou, A. (2017) Estimating the dimensionality of intelligence like data using Exploratory Graph Analysis. Intelligence, 62, 54-60. https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.02.007
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; Golino & Epskamp, 2017Golino, H.F., & Epskamp, S. (2017). Exploratory graph analysis: A new approach for estimating the number of dimensions in psychological research. PloS one, 12(6), e0174035. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0174035
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017...
): (1) se uma dimensão for composta por apenas um item, ele deve ser retirado e o EGA reaplicado; e (2) se apenas dois itens de uma dimensão forem estimados como pertencentes a uma outra dimensão, esses itens devem ser eliminados e o EGA reaplicado. Como pode ser visualizado na Figura 1, a dimensão quatro ficou composta por apenas um item (Q32), sendo necessária a reaplicação da EGA.

Figura 1.
Redes de Correlações Parciais Estimadas via Exploratory Graph Analysis

O item Q32 foi removido e a EGA foi executada novamente. Observa-se, por meio da Figura 2, que nenhum item ficou isolado e nenhuma dimensão se manteve apenas com dois itens relacionados a um marcador exclusivo.

Figura 2
Redes de Correlações Parciais Estimadas via Reaplicação da Técnica Exploratory Graph Analysis

A estrutura ficou composta por 37 itens, divididos em 3 fatores: Fator 1: Empatia, que consistiu em 12 itens (α = 0,78); Fator 2: Violência psicológica e física, que consistiu em 17 itens (α = 0,85), o Fator 3: Stalking (real e virtual), que consistiu em 8 itens (α = 0,87). Nenhum item, se descartado, aumentaria a precisão de qualquer um dos 3 fatores.

Análise Fatorial Confirmatória

A Análise Fatorial Confirmatória foi realizada tendo como referência o modelo exploratório apresentado na Figura 2 e utilizados os dados da subamostra B. Portanto, para essa análise, foram analisados dados de 514 estudantes universitários com média de idade de 22,54 anos (DP 3,6 anos), sendo 76% do sexo feminino e 24% do sexo masculino. A análise confirmatória foi realizada por meio do estimador WLSMV, que tem sido apontado por diversos autores como superior ao tradicional estimador Maximum Likehood (ML ou Máxima Verossimilhança) (Hauck Filho, 2015Hauck Filho, N. (2015). Editorial. Avaliação Psicológica, 15(1), 1-131.). Observou-se que a estrutura dos dados atingiu um ajuste adequado aos dados, χ2 (626) = 756,320, p = 0,000, CFI = 0,98, RMSEA = 0,02, NFI = 0,90, CFI = 0,98, GFI = 0,99. A Tabela 1 apresenta os indicadores e as cargas fatoriais da análise confirmatória.

Tabela 1.
Estrutura Fatorial Confirmatória do Instrumento

Todavia, apesar de os índices de ajustes serem satisfatórios, nota-se que os itens Q11 (“Chutar, torcer o braço ou puxar o cabelo do parceiro(a)”) e Q21 [“Usar uma faca ou arma contra o seu companheiro(a)” ] apresentam cargas muito baixas (0,11 e 0,18); isto é, são pouco relevantes para a escala. Ao analisar as respostas dos sujeitos a esses dois itens em particular, todos os respondentes (N = 1.027), escolheram a opção de resposta 4: Violência; ou seja, todos os sujeitos acreditam que os itens Q11 e Q21 seja uma forma de violência contra o parceiro(a), o que pode caracterizar como itens com baixa discriminação. Em vista disso, os itens Q11 e Q21 foram excluídos e uma nova análise confirmatória foi estabelecida. A Figura 3 apresenta a disposição dos itens e as cargas fatoriais desta nova análise confirmatória, isto é, sem os itens Q11 e Q21.

Figura 3
Modelo Fatorial Confirmatório Final com as Cargas Padronizadas da Estrutura Identificada

É possível observar que o agrupamento dos itens é o mesmo. Assim, temos: Fator 1: Empatia, que consistiu em 12 itens (α = 0,85); Fator 2: Violência psicológica e Física, que consistiu em 15 itens (α = 0,78); e Fator 3: Stalking (real e virtual), que consistiu em 8 itens (α = 0,87). Foi verificado, em cada uma das subescalas, se a precisão aumentaria caso algum item fosse descartado. Nenhum item, se descartado, aumentaria a precisão de qualquer uma das três subescalas. A nova estrutura atingiu ajustes melhores quando comparados ao modelo anterior, χ2 (557) = 679,573, p = 0,000, CFI = 0,98, RMSEA = 0,02, NFI = 0,91, CFI = 0,98, GFI = 0,99.

Discussão

Este estudo buscou analisar os parâmetros psicométricos de um novo instrumento nacional sobre crenças a respeito da violência no namoro. Os resultados obtidos demonstram que a ACVN possui boas propriedades psicométricas a partir da estimação dos fatores por meio do EGA. De acordo com Golino e Demetriou (2017Golino, H. F., & Demetriou, A. (2017) Estimating the dimensionality of intelligence like data using Exploratory Graph Analysis. Intelligence, 62, 54-60. https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.02.007
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), o EGA estima uma rede por meio de uma matriz de correlação parcial calculada com a técnica de graphical LASSO, que é um dos métodos mais usados na estimação de redes em Psicologia (van Borkulo et al., 2014van Borkulo, C. D., Borsboom, D., Epskamp, S., Blanken, T. F., Boschloo, L., Schoevers, R. A., & Waldorp, L. J. (2014). A new method for constructing networks from binary data. Scientific Reports, 4(1), 1-10. https://doi.org/10.1038/srep05918
https://doi.org/10.1038/srep05918...
; Kossakowski et al., 2016Kossakowski, J. J., Epskamp, S., Kieffer, J. M., van Borkulo, C. D., Rhemtulla, M., & Borsboom, D. (2016). The application of a network approach to Health-Related Quality of Life (HRQoL): Introducing a new method for assessing HRQoL in healthy adults and cancer patients. Quality of Life Research, 25(4), 781-792. https://doi.org/10.1007/s11136-015-1127-z
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; Fried et al., 2017Fried, E. I., van Borkulo, C. D., Cramer, A. O. J., Lynn, B., Schoevers, R. A., & Borsboom, D. (2017). Mental disorders as networks of problems: A review of recent insights. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 52, 1-10. https://doi.org/10.1007/s00127-016-1319-z
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). O número de grupamentos (clusters) identificados na rede equivale ao número de variáveis latentes (fatores/dimensões) subjacentes aos dados. Inicialmente, foram estimadas oito dimensões, as quais foram analisadas de acordo com as regras de aplicação da EGA. Assim, foi excluído o item Q32 (“Explicar ao(a) parceiro(a) o seu ponto de vista durante uma discussão”). Reaplicada a técnica, foram estimadas três possíveis dimensões e nenhum outro item foi excluído. Portanto, foram eleitos três fatores subjacentes aos dados. Ao analisar teoricamente os itens de cada fator, pode-se considerar que o Fator 1 (Empatia) está associado a comportamentos da capacidade de se identificar com o(a) parceiro(a), o Fator 2 (Violência Psicológica e Física) associado a indicadores de violência física e psicológica e o Fator 3 (Stalking) associado comportamentos invasivos de privacidade e controladores, empregando táticas de perseguição em meios diversos, reais ou virtuais. Esses fatores e seus itens são condizentes com a literatura nacional e internacional (Espelage et al., 2020Espelage, D. L., Leemis, R. W., Niolon, P. H., Kearns, M., Basile, K. C., & Davis, J. P. (2020). Teen dating violence perpetration: Protective factor trajectories from middle to high school among adolescents. Journal of research on adolescence, 30(1), 170-188. https://doi.org/10.1111/jora.12510
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; Fox, 2016Fox, J. (2016). The dark side of social networking sites in romantic relationships. Em B.K., Wiederhold, G., Riva, & P., Cipresso (Eds.), The psychology of social networking: Communication, presence, identity, and relationships in online communities (pp. 78-86). Versita.; Murta et al., 2016Murta, S. G., Moore, R. A., Miranda, A. A. V., Cangussú, E. D. A., Santos, K. B. D., Bezerra, K. L. T., & Veras, L. G. (2016). Efeitos de um programa de prevenção à violência no namoro. Psico-USF, 21(2), 381-393. http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712016210214
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; Priolo-Filho, 2017Priolo-Filho, S. R. (2017). Avaliação de uma intervenção para prevenção da violência no namoro. [Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos]. Repositório institucional UFSCar. https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/9024/TeseSRPF.pdf?sequence=1
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/...
; Teten et al., 2009Teten, A. L., Ball, B., Valle, L. A., Noonan, R., & Rosenbluth, B. (2009). Considerations for the definition, measurement, consequences, and prevention of dating violence victimization among adolescent girls. Journal of Women's Health, 18(7), 923-927. https://doi.org/10.1089/jwh.2009.1515
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).

Para aferição da precisão, foi utilizado o coeficiente alfa. De acordo com Marôco e Garcia-Marques (2006Marôco, J., & Garcia-Marques, T. (2006). Qual a fiabilidade do alfa de Cronbach? Questões antigas e soluções modernas? [How reliable is Cronbach's alpha? Old issues and modern solutions?]. Laboratório de Psicologia, 4(1), 65-90. https://doi.org/10.14417/lp.763
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), um instrumento pode ser classificado como preciso quando o índice obtido é, pelo menos, 0,70. A consistência interna calculada para cada fator do instrumento foram todos acima de 0,70 nos três fatores. Evidencia-se assim que o modelo é constituído por itens que tendem a mensurar de forma consistente o construto, tendo em vista valores acima dos aceitáveis.

Na sequência, optou-se por também realizar uma análise fatorial confirmatória com a intenção de testar o modelo identificado. A estrutura de 37 indicadores divididos em 3 fatores apresentou excelentes índices de ajuste de adequação ao modelo proposto. Porém, foi observado que as cargas fatoriais de itens com termos mais severos de violência física (ex.: chutar, usar faca, dar bofete, usar a força) foram relativamente baixas (0,26-0,29). Ademais, foi observado que dois itens (Q11 (“Chutar, torcer o braço ou puxar o cabelo do parceiro”) e Q21 (“Abraçar o parceiro quando ele (a) está chateado ou triste”) apresentaram cargas fatoriais ainda mais baixas (0,11 e 0,18) e pouco poder discriminativo, portanto mesmo que os índices de ajustamento tenham sido favoráveis, optou-se por excluir esses itens. Harrington (2009Harrington, D. (2009). Confirmatory factor analysis. Oxford University Press.) coloca que ajustar um modelo é um processo dinâmico, que começa com um ajuste inicial, prossegue com uma verificação, caso seja necessário, uma nova adequação e assim por diante. Assim o teste mais rigoroso é conseguido na comparação de modelos alternativos para a escolha do melhor, com base na teoria que embasa o construto e os índices de ajustamento. Dessa forma, seguindo essa orientação, outra análise confirmatória foi conduzida para analisar os efeitos da exclusão dos dois itens. Notou-se que houve um reajuste no modelo. Houve uma mudança de posição entre o Fator 1 (Empatia) e 2 (Violência Psicológica e Física), todavia, os itens permaneceram os mesmos dentro de cada fator. Ao comparar os índices de ajuste dos 2 modelos, o segundo (35 itens divididos em 3 fatores), apresentou melhores índices de qui-quadrado e de ajuste normalizado (NFI). Os Fatores Stalking e Violência Psicológica e Física apresentaram correlação moderada entre si (r = 0,72), e apresentaram correlação negativa e fraca com o Fator Empatia (r = -0,20). Tendo em vista que o Fator 2 trata de comportamentos não violentos, uma correlação fraca e negativa era esperada, apoiando a tese indicada por Espelage et al. (2020Espelage, D. L., Leemis, R. W., Niolon, P. H., Kearns, M., Basile, K. C., & Davis, J. P. (2020). Teen dating violence perpetration: Protective factor trajectories from middle to high school among adolescents. Journal of research on adolescence, 30(1), 170-188. https://doi.org/10.1111/jora.12510
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) que a empatia é um potencial fator protetivo para crenças e comportamentos violentos em relacionamentos amorosos. Contudo, a combinação da escala com aspectos de apego romântico e outras variáveis relevantes para a ocorrência da violência, como a impulsividade, podem fornecer maiores pistas sobre como ocorrem de maneira causal a relação entre essas variáveis (Péloquin et al., 2011Péloquin, K., Lafontaine, M. F., & Brassard, A. (2011). A dyadic approach to the study of romantic attachment, dyadic empathy, and psychological partner aggression. Journal of social and personal relationships, 28(7), 915-942. https://doi.org/10.1177%2F0265407510397988
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).

A partir dos resultados da análise do instrumento, é possível pensar em futuras estratégias de intervenção e prevenção da violência. Em especial, o instrumento permite avaliar fatores positivos e negativos de relacionamentos, bem como padrões e representações que os participantes consideram ou não violentos para cada pessoa. Ao identificar de maneira adequada e precisa quais as formas de violência são consideradas aceitáveis para um indivíduo será possível programar estratégias efetivas de prevenção, de forma a evitar a ocorrência da VPI (Koker et al., 2014Koker, P., Mathews, C., Zuch, M., Bastien, S., & Mason-Jones, A. J. (2014). A systematic review of interventions for preventing adolescent intimate partner violence. Journal of Adolescent Health, 54, 3-13. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2013.08.008
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). Com isso, podemos afirmar que identificar as crenças facilitadoras da violência pode ser efetivo para diversas etapas, da prevenção à intervenção, demonstrando a necessidade de avaliação dos constructos apresentados (Foshee et al., 2014Foshee, V., Reyes, L., Agnew-Brune, C., Simon, T., Vagi, K., Lee, R., & Suchindran, C. (2014). The effects of the evidence-based safe dates dating abuse prevention program on other youth violence outcomes. Prevention Science, 15(6), 907-916. https://doi.org/10.1007/s11121-014-0472-4
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; Wekerle & Wolfe, 1999Wekerle, C., & Wolfe, D. A. (1999). Dating violence in mid-adolescence: Theory, significance, and emerging prevention initiatives. Clinical Psychology Review, 19(4), 435-456. https://doi.org/10.1016/S0272-7358(98)00091-9
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).

Os dados da literatura têm apontado para a diversidade de crenças relativas à violência e seus potenciais impactos (Dodaj et al., 2020Dodaj, A., Sesar, K., & Šimic, N. (2020). Impulsivity and empathy in dating violence among a sample of college females. Behavioral Sciences, 10(7), 117. https://doi.org/10.3390/bs10070117
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; Espelage et al., 2020Espelage, D. L., Leemis, R. W., Niolon, P. H., Kearns, M., Basile, K. C., & Davis, J. P. (2020). Teen dating violence perpetration: Protective factor trajectories from middle to high school among adolescents. Journal of research on adolescence, 30(1), 170-188. https://doi.org/10.1111/jora.12510
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). O instrumento apresentado neste trabalho visa abranger não somente os comportamentos violentos, mas também as capacidades de empatia dos participantes. Diversos autores têm apontado para essa mudança de paradigma, uma alteração da visão topográfica das respostas violentas, para uma análise dos aspectos positivos e negativos individuais, sociais e comportamentais das pessoas envolvidas em relacionamentos amorosos violentos (Péloquin et al., 2011Péloquin, K., Lafontaine, M. F., & Brassard, A. (2011). A dyadic approach to the study of romantic attachment, dyadic empathy, and psychological partner aggression. Journal of social and personal relationships, 28(7), 915-942. https://doi.org/10.1177%2F0265407510397988
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). Ao abranger um fator de empatia, a presente escala caminha nessa direção ao indicar comportamentos negativamente correlacionados com as violências estudadas, demonstrando o valor da empatia para a temática.

Outro aspecto relevante que o instrumento avalia são o uso de meios eletrônicos e de novas tecnologias como formas de controle e violência psicológica contra o parceiro. Esse fenômeno recente possui características próprias e deve ser analisado em uma ótica especial (Edwards et al., 2015Edwards, K. M., Sylaska, K. M., Barry, J. E., Moynihan, M. M., Banyard, V. L., Cohn, E. S., Walsh, W. A., & Ward, S. K. (2015). Physical dating violence, sexual violence, and unwanted pursuit victimization: A comparison of incidence rates among sexual-minority and heterosexual college students. Journal of Interpersonal Violence, 30(4), 580-600. https://doi.org/10.1177%2F0886260514535260
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; Fox, 2016Fox, J. (2016). The dark side of social networking sites in romantic relationships. Em B.K., Wiederhold, G., Riva, & P., Cipresso (Eds.), The psychology of social networking: Communication, presence, identity, and relationships in online communities (pp. 78-86). Versita.; Kaukinen, 2014Kaukinen, C. (2014). Dating violence among college students: The risk and protective factors. Trauma, violence, & abuse, 15(4), 283-296. https://doi.org/10.1177%2F1524838014521321
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; Stanley et al., 2016Stanley, N., Barter, C., Wood, M., Aghtaie, N., Larkins, C., Lanau, A., & Överlien, C. (2016). Pornography, sexual coercion and abuse and sexting in young people´s intimate relationship: A european study. Journal of Interpersonal Violence, 33(19), 2919-2944. https://doi.org/10.1177/0886260516633204
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). A facilitação que os meios eletrônicos produzem para perseguir o parceiro deve ser alvo dos pesquisadores, em especial, pelas consequências negativas que a perseguição sistemática produz como problemas de sono, depressão e raiva (Dreßing et al., 2014Dreßing, H., Bailer, J., Anders, A., Wagner, H., & Gallas, C. (2014). Cyberstalking in a large sample of social network users: Prevalence, characteristics, and impact upon victims. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 17(2), 61-67. https://doi.org/10.1089/cyber.2012.0231
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; Fox, 2016Fox, J. (2016). The dark side of social networking sites in romantic relationships. Em B.K., Wiederhold, G., Riva, & P., Cipresso (Eds.), The psychology of social networking: Communication, presence, identity, and relationships in online communities (pp. 78-86). Versita.). Ou seja, o cyberstalking apresenta as mesmas consequências para a vítima de uma perseguição no mundo real, razão pela qual devemos nos atentar para essa realidade com a população brasileira. A possibilidade de avaliação desse fenômeno é um ponto forte da escala, considerando o amplo uso da tecnologia entre os jovens, em especial, nos seus relacionamentos amorosos.

Adicionalmente, como apontado por Fernández-González et al. (2013Fernández-González, L., O’Leary, K., & Muñoz-Rivas, M. (2013). We are not joking: Need for controls in reports of dating violence. Journal of Interpersonal Violence, 28(3), 602-620. https://doi.org/10.1177/0886260512455518
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), é preciso compreender as visões dos adolescentes e jovens adultos sobre variáveis contextuais da violência no relacionamento. Isto é, muitas vezes esses jovens apontam que comportamentos agressivos eram uma “brincadeira” ou estavam em um contexto não agressivo. Dessa forma, compreender quais comportamentos são considerados violentos anteriormente a intervenções é fundamental para atingir os objetivos desejados e, de fato, traçar objetivos factíveis com a população estudada.

A escala demonstrou ser uma alternativa viável dentre os instrumentos existentes na literatura, capaz de enriquecer as investigações. Entretanto, algumas limitações devem ser superadas em estudos futuros, como abranger maior número de estudantes do sexo masculino, bem como incorporar aspectos de gênero e orientação sexual como possíveis covariáveis. Nesse sentido, em estudos futuros poderiam acrescer outras evidências quanto à sua validade, com informações na relação com construtos distintos. Novos estudos relacionando a escala e outras variáveis podem trazer insights para a questão da violência entre pares amorosos. Ademais, um maior número de participantes oriundos de universidades privadas pode apresentar variabilidade em comparação à presente amostra. Contudo, resguardadas as limitações, os achados deste estudo apontam para um modelo com boas evidências de validade, os quais os autores esperam que a utilização possa auxiliar na avaliação, no planejamento e na decisão de estratégias a serem adotadas em intervenções futuras. Adicionalmente, por ser um instrumento criado, aplicado e avaliado totalmente em território nacional, pode apresentar maior confluência com fatores culturais brasileiros, um aspecto fundamental para a compreensão da violência.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    19 Mar 2018
  • Aceito
    01 Abr 2021
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