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Envolvimento Paterno em Pais de Crianças em Idade Escolar: Relação com Estresse Parental, Apoio Social e Variáveis Sociodemográficas* * O referido artigo é baseado na Dissertação de Mestrado da primeira autora.

Father Involvement in Parents of School-Aged Children: Relationship with Parenting Stress, Social Support and Sociodemographic Variables

Resumo

Pretende-se averiguar se o estresse parental e o apoio social contribuem para o envolvimento paterno (EP), e analisar a relação desse envolvimento com variáveis sociodemográficas (pai/criança). Participaram do estudo 92 homens, pais de crianças em idade escolar (6 a 9 anos). Utilizou-se a Escala de Envolvimento Paterno e as adaptações portuguesas do Parenting Stress Index-Short Form e do Social Support Questionaire. Verificou-se que apenas o estresse parental (Interação e Criança) se constitui como preditor do EP (Cuidados e Disponibilidade). Verificou-se ainda uma associação entre o EP e o número de filhos. Os resultados sugerem que níveis elevados de estresse parental poderão ser prejudiciais para o envolvimento do pai em termos de cuidados e disponibilidade, sendo também relevante o maior número de filhos.

Palavras-chave:
envolvimento paterno; estresse parental; apoio social; paternidade

Abstract

This study aims to ascertain whether parenting stress and social support contribute to father involvement (FI), and to analyze the relationship between this involvement and sociodemographic variables (parent/child). The participants were 92 men, parents of school-aged children (6 to 9 years). The Father Involvement Scale and the Portuguese adaptions of the Parenting Stress Index-Short Form and Social Support Questionaire. Only parenting stress (Interaction and Child subscales) was found to be a predictor of FI (Caring and Availability subscales). A relationship between FI and the number of children was also observed. The results suggest that high levels of parenting stress may jeopardize fathers’ involvement in terms of caring and availability, while the higher number of children is also a relevant factor.

Keywords:
father involvement; parenting stress; social support; fathering

A investigação dirigida para a parentalidade tem dado primazia ao papel da mãe e à relação mãe-criança, estando o papel do pai e a relação pai-criança menos estudados do ponto de vista empírico. Nesse âmbito, o envolvimento paterno constitui uma das dimensões que tem vindo a ser alvo de pesquisa, observando-se, nas últimas décadas, um incremento significativo da investigação internacional nesse domínio, ainda que a associação do envolvimento com variáveis relacionais e contextuais continue a carecer de investigação. O presente estudo, ao focar a relação do envolvimento paterno com variáveis desse tipo, pretende dar um contributo para aumentar o conhecimento sobre o envolvimento paterno, em particular numa etapa específica do desenvolvimento da criança (idade escolar).

Paternidade

Até ao final do século XX, ocorreram mudanças que vieram a impor um ajustamento das crenças e da investigação acerca da família e dos papéis do pai e da mãe (Cabrera et al., 2000Cabrera, N. J., Tamis-LeMonda, C. S., Bradley, R. H., Hofferth, S., & Lamb, M. E. (2000). Fatherhood in the twenty-first century. Child Development, 71, 127-136. doi: 10.1111/1467-8624.00126
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; Henz, 2019; Narvaz & Koller, 2006Narvaz, M. G., & Koller, S. H. (2006). Famílias e patriarcado: Da prescrição normativa à subversão criativa. Revista Psicologia e Sociedade, 18(1), 49-55. doi: 10.1590/S0102-71822006000100007
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). Essas mudanças tiveram na base importantes fatores económicos e sociais (e.g., Monteiro et al., 2008Monteiro, L., Veríssimo, M., Santos, A. J., & Vaughn, B. E. (2008). Envolvimento paterno e organização dos comportamentos de base segura das crianças em famílias portuguesas. Análise Psicológica, 26(3), 395-409.), que levaram a alterações nos papéis de gênero (e.g., Balancho, 2004Balancho, L. S. (2004). Ser pai: Transformações intergeracionais na paternidade. Análise Psicológica, 22, 377-386. doi: 10.14417/ap.198
https://doi.org/10.14417/ap.198...
; Bonney et al., 1999Bonney, J. F., Kelley, M. L., & Levant, R. F. (1999). A model of fathers' behavioral involvement in child care in dual-earner families. Journal of Family Psychology, 13, 401-415. doi: 10.1037/0893-3200.13.3.401
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), à inserção crescente das mulheres no mercado de trabalho e à previsível modificação do papel do pai no contexto familiar (Cabrera et al., 2000Cabrera, N. J., Tamis-LeMonda, C. S., Bradley, R. H., Hofferth, S., & Lamb, M. E. (2000). Fatherhood in the twenty-first century. Child Development, 71, 127-136. doi: 10.1111/1467-8624.00126
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; ver Gabriel & Lopes, 2016Gabriel, M. R., & Lopes, R. C. (2016). Transformações no envolvimento paterno ao longo dos primeiros seis meses do bebé na creche. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32, 1-10. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0102-3772e32321
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; Henz, 2019).

Atualmente, o homem é colocado numa posição de poder escolher entre ser ou não pai, contribuindo para tal fatores como o uso de métodos contraceptivos, os avanços tecnológicos na área de inseminação artificial e a inserção da mulher no mercado de trabalho (Beltrame & Bottoli, 2010Beltrame, G. R., & Bottoli, C. (2010). Retratos do envolvimento paterno na actualidade. Barbarói. Santa Cruz do Sul, 32, 205-226. doi:10.17058/barbaroi.v0i0.1380
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; Gomez, 2005Gomez, R. M. (2005). O pai: Paternidade em transição. In I. Leal (Ed.), A psicologia da gravidez e da parentalidade (pp. 257-278). Lisboa: Fim de século.). Acresce que os homens estão a defrontar-se com uma mudança na forma de serem pais (Beltrame & Bottoli, 2010Beltrame, G. R., & Bottoli, C. (2010). Retratos do envolvimento paterno na actualidade. Barbarói. Santa Cruz do Sul, 32, 205-226. doi:10.17058/barbaroi.v0i0.1380
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; Bosoni & Mazzucchelli, 2019; Fagan et al., 2014Fagan, J., Day, R., Lamb, M., & Cabrera, N. (2014). Should researchers conceptualize differently the dimensions of parenting for fathers and mothers? Journal of Family Theory & Review, 6, 390-405. doi: 10.1111/jftr.12044
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; Henn & Piccinini, 2010Henn, C., & Piccinini, C. (2010). A experiência da paternidade e o envolvimento paterno no context da Síndrome de Down. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26, 623-631. doi: 10.1590/S0102-37722010000400006
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), o que os leva a assumirem novos papéis no âmbito da família (Beltrame & Bottoli, 2010Beltrame, G. R., & Bottoli, C. (2010). Retratos do envolvimento paterno na actualidade. Barbarói. Santa Cruz do Sul, 32, 205-226. doi:10.17058/barbaroi.v0i0.1380
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; Bonney et al., 1999Bonney, J. F., Kelley, M. L., & Levant, R. F. (1999). A model of fathers' behavioral involvement in child care in dual-earner families. Journal of Family Psychology, 13, 401-415. doi: 10.1037/0893-3200.13.3.401
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; Bosoni & Mazzucchelli, 2019; Piccinini et al., 2012Piccinini, C. A., Silva, M. R., Gonçalves, T. R., & Lopes, R. S. (2012). Envolvimento paterno aos três meses de vida do bebé. Psicologia: Teoria e Pesquisa , 28, 303-314. doi: 10.1590/S0102-37722012000300006
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).

Os últimos anos foram marcados pelo aparecimento de um novo conceito de paternidade, perspectivado como o desejável (e.g., Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.), sendo os novos pais descritos como pais envolvidos (ver Marks & Palkovitz, 2004Marks, L., & Palkovitz, R. (2004). American fatherhood types: The good, the bad and the uninterested. Fathering, 2, 113-129. doi: 10.3149/fth.0202.113
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). Com efeito, apesar de a mãe continuar a ocupar mais tempo nos cuidados dedicados aos filhos (e.g., Deutsch, 2001Deutsch, F. M. (2001). Equally shared parenting. American Psychological Society, 10, 25-28. doi: 10.1111/1467-8721.00107
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; ver Marks & Palkovitz, 2004Marks, L., & Palkovitz, R. (2004). American fatherhood types: The good, the bad and the uninterested. Fathering, 2, 113-129. doi: 10.3149/fth.0202.113
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), esse novo pai participa mais ativamente nas rotinas da criança, envolvendo-se de forma mais evidente e partilhando com a mulher algumas das tarefas do dia-a-dia (e.g., mudar fraldas, alimentar a criança) (Beltrame & Bottoli, 2010Beltrame, G. R., & Bottoli, C. (2010). Retratos do envolvimento paterno na actualidade. Barbarói. Santa Cruz do Sul, 32, 205-226. doi:10.17058/barbaroi.v0i0.1380
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; Brandth & Kvande, 2002Brandth, B., & Kvande, E. (2002). Reflexive fathers: Negotiating parental leave and working life. Gender, Work and Organization, 9, 186-203. doi: 10.1111/1468-0432.00155
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; Marks & Palkovitz, 2004Marks, L., & Palkovitz, R. (2004). American fatherhood types: The good, the bad and the uninterested. Fathering, 2, 113-129. doi: 10.3149/fth.0202.113
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), para além de continuar a assumir uma função instrumental e a ocupar mais tempo na socialização com a criança (e.g., Marks & Palkovitz, 2004Marks, L., & Palkovitz, R. (2004). American fatherhood types: The good, the bad and the uninterested. Fathering, 2, 113-129. doi: 10.3149/fth.0202.113
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). Consequentemente, o pai congrega os aspectos emocionais e afetivos, bem como os instrumentais (Schoppe-Sullivan et al., 2004Schoppe-Sullivan, S. J., McBride, B. A., & Ho, M. - H. R. (2004). Unidimensional versus multidimensional perspectives on father involvement. Fathering, 2, 147-163. doi: 10.3149/fth.0202.147
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; ver Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.). Adicionalmente, reconhece-se hoje que o relacionamento pai-criança é tão relevante na sua influência sobre o desenvolvimento e comportamento da criança como o é a relação mãe-criança (e.g., Allen et al., 2002Allen, S., Daly, M, & Daly, K. (2002). The effects of father involvement: A summary of research evidence. Newsletter of the Father Involvement Initiative,1, 1-11.; Bragiel & Kaniok, 2014Bragiel, J., & Kaniok, P. (2014). Demographic variables and fathers’ involvement with their child with disabilities. Journal of Research in Special Educational Needs, 14, 43-50. doi: 10.1111/1471-3802.12005
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; Flouri & Buchanan, 2003aFlouri, E., & Buchanan, A. (2003a). The role of father involvement in children’s later mental health. Journal of Adolescence, 26, 63-78. doi: 10.1016/S0140-1971(02)00116-1
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; Thompson, 2003Thompson, R. A. (2003). Fatherhood research: The next generation. Parenting: Science and Practice, 3, 261-264. doi: 10.1207/S15327922PAR0303_04
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).

Envolvimento Paterno

Não existe uma definição consensual de envolvimento paterno, o que tem condicionado de forma importante o estudo do papel do pai (ver Quinn, 1999Quinn, P. (1999). Supporting and encouraging father involvement in families of children who have a disability. Child and Adolescent Social Work Journal, 16, 439-454. doi: 10.1023/A:1022349321767
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). Embora a investigação inicial acerca desse envolvimento se focalize exclusivamente na quantidade de tempo gasto pelos pais na interação direta com as crianças (e.g., Featherstone, 2004Featherstone, B. (2004). Fathers matter: A research review. Children & Society, 18, 312-319. doi: 10.1002/chi.842
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), progressivamente foi surgindo a necessidade de ampliar este conceito (ver Adamsons et al., 2007Adamsons, K., O’Brien, M., & Pasley, K. (2007). An ecological approach to father involvement in biological and stepfather families. Fathering, 5, 129-147. doi: 10.3149/fth.0502.129
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), passando ele a incluir também a qualidade do envolvimento, definida como a qualidade observada na interação entre pai e filho/a (e.g., sensibilidade e capacidade de responder as necessidades da criança, apoio, estimulação do desenvolvimento cognitivo) (ver Adamsons et al., 2007Adamsons, K., O’Brien, M., & Pasley, K. (2007). An ecological approach to father involvement in biological and stepfather families. Fathering, 5, 129-147. doi: 10.3149/fth.0502.129
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). Também Lamb e Tamis-Lemonda (2004Lamb, M. E., & Tamis-Lemonda, C. S. (2004) The role of the father: An introduction. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (4th ed., pp. 1-31). New Jersey: John Wiley & Sons.) salientam a importância da qualidade do tempo passado com os filhos, ressalvando que aquilo que realmente importa é o que os pais fazem nesse tempo. Tal fato reforça a crença de que aspectos qualitativos do envolvimento paterno devem ser incorporados no conceito (e.g., Lamb & Tamis-LeMonda, 2004Lamb, M. E., & Tamis-Lemonda, C. S. (2004) The role of the father: An introduction. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (4th ed., pp. 1-31). New Jersey: John Wiley & Sons.; Pleck & Masciadrelli, 2004Pleck, J. H., & Masciadrelli, B. P. (2004). Paternal involvement by U.S. residential fathers: Levels, sources, and consequences. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (4th ed., pp. 222-271). New Jersey: John Wiley & Sons.) para além da quantidade de tempo.

Embora seja reconhecido que o envolvimento paterno é um conceito multidimensional, em permanente progresso (e.g., Cabrera et al., 1999Cabrera, N. J., Tamis-Lemonda, C. S., Lamb, M. E., & Boller, K. (1999). Measuring father involvement in the early head start evaluation: A multidimensional conceptualization. Washington: National Conference on Health Statistics.), ele não é consensual, tendo sido teorizado de diferentes formas. Em meados dos anos 80, Lamb et al. (1987Lamb, M. E., Pleck, J. H., Charnov, E. L., & Levine, J. A. (1987). A biosocial perspective on paternal behavior and involvement. In J. B. Lancaster, J. Altmann, A. S. Rossi, & L. R. Sherrod (Eds.), Parenting across the life span: Biosocial dimensions (pp. 111-142). New York: Aldine de Gruyter.), nas suas primeiras formulações, conceitualizaram o envolvimento paterno considerando três componentes principais: (1) engajamento (paternal engagement), (2) disponibilidade, e (3) responsabilidade (ver também Pleck, 2010Pleck, J. H. (2010). Paternal involvement: Revised conceptualization and theoretical linkages with child outcomes. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (5th ed., pp. 58-93). New Jersey: John Wiley & Sons., 2012Pleck, J. H. (2012). Integrating father involvement in parenting research. Parenting: Science and Practice, 12, 243-253. doi: 10.1080/15295192.2012.683365
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). Esta conceitualização é considerada como a mais importante para a pesquisa na área do envolvimento paterno (e.g., Pleck, 2007Pleck, J. H. (2007). Why could father involvement benefit children? Theoretical perspectives. Applied Development Science, 11, 196-202. doi: 10.1080/10888690701762068
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; Schoppe-Sullivan et al., 2004Schoppe-Sullivan, S. J., McBride, B. A., & Ho, M. - H. R. (2004). Unidimensional versus multidimensional perspectives on father involvement. Fathering, 2, 147-163. doi: 10.3149/fth.0202.147
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) e continua a ser amplamente utilizada, embora tenha vindo a receber críticas (e.g., Hawkins & Palkovitz, 1999Hawkins, A. J., & Palkovitz, R. (1999). Beyond ticks and clicks: The need for more diverse and broader conceptualizations and measures of father involvement. The Journal of Men’s Studies, 8, 11-32. doi: 10.3149/jms.0801.11
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; Schoppe-Sullivan et al., 2004Schoppe-Sullivan, S. J., McBride, B. A., & Ho, M. - H. R. (2004). Unidimensional versus multidimensional perspectives on father involvement. Fathering, 2, 147-163. doi: 10.3149/fth.0202.147
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).

Com base no modelo de Lamb et al. (1987Lamb, M. E., Pleck, J. H., Charnov, E. L., & Levine, J. A. (1987). A biosocial perspective on paternal behavior and involvement. In J. B. Lancaster, J. Altmann, A. S. Rossi, & L. R. Sherrod (Eds.), Parenting across the life span: Biosocial dimensions (pp. 111-142). New York: Aldine de Gruyter.), mas com o objetivo de expandir e reconstruir o conceito, Palkovitz (2002Palkovitz, R. (2002). Involved fathering and child development: Advancing our understanding of good fathering. In C. S. Tamis-LeMonda & N. Cabrera (Eds.), Handbook of father involvement (pp. 33-64). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum. ) conceitualiza o envolvimento paterno como englobando três domínios sobrepostos: cognitivo, afetivo e comportamental. Todavia, existem modelos que se centram em aspectos mais específicos do envolvimento paterno, em detrimento de outros. Como exemplo, refere-se a perspectiva de Paquette (2004Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47, 193-219. doi: 10.1159/000078723
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), que dá especial importância ao comportamento de socialização do pai, considerado central para a paternidade.

Como se mencionou antes, conceitualizações mais recentes assumem a importância da qualidade do tempo que os pais passam com os filhos, constatando-se que a qualidade e a quantidade de tempo passado com a criança se associam com o envolvimento paterno positivo (e.g., Cabrera et al., 2000Cabrera, N. J., Tamis-LeMonda, C. S., Bradley, R. H., Hofferth, S., & Lamb, M. E. (2000). Fatherhood in the twenty-first century. Child Development, 71, 127-136. doi: 10.1111/1467-8624.00126
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; Fagan et al., 2014Fagan, J., Day, R., Lamb, M., & Cabrera, N. (2014). Should researchers conceptualize differently the dimensions of parenting for fathers and mothers? Journal of Family Theory & Review, 6, 390-405. doi: 10.1111/jftr.12044
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). Esse tipo de envolvimento tem subjacente uma reconceitualização do conceito paternal engagement e remete para as atividades positivas vividas na relação com a criança (Pleck, 2010Pleck, J. H. (2010). Paternal involvement: Revised conceptualization and theoretical linkages with child outcomes. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (5th ed., pp. 58-93). New Jersey: John Wiley & Sons.), as quais parecem ter consequências igualmente positivas para o seu desenvolvimento (Cabrera et al., 2000Cabrera, N. J., Tamis-LeMonda, C. S., Bradley, R. H., Hofferth, S., & Lamb, M. E. (2000). Fatherhood in the twenty-first century. Child Development, 71, 127-136. doi: 10.1111/1467-8624.00126
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).

Alguns estudos focalizam a importância do envolvimento paterno com crianças em idade escolar (e.g., Biller & Kimpton, 1997Biller, H. B., & Kimpton, J. L. (1997). The father and school-age child. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (3ª ed., pp. 1-18). New York: John Wiley & Sons.; Coley, 1998Coley, R. L. (1998). Children’s socialization experiences and functioning in single-mother households: The importance of fathers and other men. Child Development, 9, 219-230. doi: 10.1111/j.1467-8624.1998.tb06144.x
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; Lytton & Romney, 1991Lytton, H. & Romney, D. M. (1991). Parents' differential socialization of boys and girls: A meta-analysis. Psychological Bulletin, 109, 267-296. doi: 10.1037/0033-2909.109.2.267
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; Pleck, 2010Pleck, J. H. (2010). Paternal involvement: Revised conceptualization and theoretical linkages with child outcomes. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (5th ed., pp. 58-93). New Jersey: John Wiley & Sons.), apesar do seu número ser reduzido. Por exemplo, Coley (1998Coley, R. L. (1998). Children’s socialization experiences and functioning in single-mother households: The importance of fathers and other men. Child Development, 9, 219-230. doi: 10.1111/j.1467-8624.1998.tb06144.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.1998...
) analisou as experiências relatadas por pais de 111 crianças a frequentarem o 3º e 4º anos escolares do ensino fundamental e averiguou que as crianças que referiram ter um maior envolvimento com o pai apresentaram melhor desempenho acadêmico, bem como mais comportamentos pró-sociais no grupo de pares. Uma outra investigação, realizada por Biller e Kimpton (1997Biller, H. B., & Kimpton, J. L. (1997). The father and school-age child. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (3ª ed., pp. 1-18). New York: John Wiley & Sons.), concluiu que as crianças em idade escolar de ambos os sexos e cujos pais tinham um maior envolvimento apresentaram mais competências motoras e maior habilidade em tarefas de manipulação. Também Pleck (2010Pleck, J. H. (2010). Paternal involvement: Revised conceptualization and theoretical linkages with child outcomes. In M. E. Lamb (Ed.), The role of the father in child development (5th ed., pp. 58-93). New Jersey: John Wiley & Sons.) refere que o envolvimento paterno positivo e o controle e respostas afetivas adequados se associam com resultados positivos em termos do desenvolvimento da criança. Por sua vez, um estudo de Amato e Gilbreth (1999Amato, P. R., & Gilbreth, J. G. (1999). Nonresident fathers and children’s well-being: A meta-analysis. Journal of Marriage and the Family, 61, 557-573.) obteve dados na mesma linha, ressaltando que o preditor mais significativo do desenvolvimento saudável da criança é a qualidade do relacionamento e não apenas a quantidade de interação. Numa outra linha, refira-se ainda um estudo de Cia et al. (2010Cia, F., Barham, E. J. & Fontaine, A. M. (2010). Impactos de uma intervenção com pais: O desempenho acadêmico e comportamento das crianças na escola. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23, 533-543. doi: 10.1590/S0102-79722010000300014
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), no qual se conclui que o desempenho escolar das crianças apresenta melhorias significativas nos casos em que a escola promove o envolvimento do pai na vida escolar dos filhos. Assim, um envolvimento adequado entre pai e filho/a poderá constituir-se como um fator de proteção para o desenvolvimento da criança em idade escolar em diferentes áreas.

Relação do Envolvimento Paterno com Variáveis Individuais, Relacionais e Contextuais

Uma vez que o envolvimento paterno é multideterminado, torna-se fundamental considerar vários fatores na sua explicação e compreensão (e.g., Adamsons et al., 2007Adamsons, K., O’Brien, M., & Pasley, K. (2007). An ecological approach to father involvement in biological and stepfather families. Fathering, 5, 129-147. doi: 10.3149/fth.0502.129
https://doi.org/10.3149/fth.0502.129...
; Baker, 2017; Baker et al., 2001Baker, C. K., Perilla, J. L., & Norris, F. H. (2001). Parenting stress and parenting competence among latino men who batter. Journal of Interpersonal Violence, 16, 1139-1157. doi: 10.1177/088626001016011003
https://doi.org/10.1177/0886260010160110...
; Cabrera, Shannon, & Tamis-LeMonda, 2007Cabrera, N. J., Shannon, J. D., & Tamis-LeMonda, C. (2007). Fathers’ influence on their children’s cognitive and emotional development: From toddlers to pre-k. Applied Development Science, 11, 208-213. doi: 10.1080/10888690701762100
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; Featherstone, 2004Featherstone, B. (2004). Fathers matter: A research review. Children & Society, 18, 312-319. doi: 10.1002/chi.842
https://doi.org/10.1002/chi.842...
; Lamb, 1987Lamb, M. E., Pleck, J. H., Charnov, E. L., & Levine, J. A. (1987). A biosocial perspective on paternal behavior and involvement. In J. B. Lancaster, J. Altmann, A. S. Rossi, & L. R. Sherrod (Eds.), Parenting across the life span: Biosocial dimensions (pp. 111-142). New York: Aldine de Gruyter.; Lima, 2008Lima, J. A. (2008). O tempo e as formas de envolvimento do pai em tarefas de socialização dos filhos em idade pré-escolar. Actas do 1º Congresso Internacional em Estudos da Criança (pp. 1-15). Braga: Universidade do Minho. ; Matta & Knudson-Martin, 2006Matta, D. S., & Knudson-Martin, C. (2006). Father responsivity: Couple processes and the coconstruction of fatherhood. Family Process, 45, 19-37. doi: 10.1111/j.1545-5300.2006.00078.x
https://doi.org/10.1111/j.1545-5300.2006...
; Parke, 1996Parke, R. D. (1996). What determines father’s involvement? In R. D. Parke (Ed.), Fatherhood (pp. 73-114). Cambridge: Harvard University Press., 2002Parke, R. D. (2002). Fathers and families. In M . H. Bornstein (Ed.), Handbook of parenting: Being and becoming a parent (Vol.3, pp. 27-74). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.; Roggman et al., 2002Roggman, L. A., Boyce, L. K., Cook, G. A., & Cook, J. (2002). Getting dads involved: Predictors of father involvement in early head start and with their childrens. Infant Mental Health Journal, 23, 62-78. doi: 10.1002/imhj.10004
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; Rollé et al., 2019; Santis & Barham, 2017). De fato, o envolvimento paterno depende não só das características individuais do próprio pai, mas também das características da criança e de variáveis relacionais e contextuais (e.g., Cabrera, Fitzgerald, Bradley, & Roggman, 2007Cabrera, N. J., Fitzgerald, H. E., Bradley, R. H., & Roggman, L. (2007). Modeling the dynamics of paternal influences on children over the life course. Applied Development Science, 11, 185-189. doi: 10.1080/10888690701762027
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; Parke, 1996Parke, R. D. (1996). What determines father’s involvement? In R. D. Parke (Ed.), Fatherhood (pp. 73-114). Cambridge: Harvard University Press., 2002Parke, R. D. (2002). Fathers and families. In M . H. Bornstein (Ed.), Handbook of parenting: Being and becoming a parent (Vol.3, pp. 27-74). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.). No que diz respeito à relação do envolvimento paterno com características individuais (do pai e da criança), exemplifica-se a seguir esta relação apenas com variáveis sociodemográficas, dada a sua saliência no contexto do presente artigo.

Em relação à idade do pai, os resultados dos estudos empíricos são contraditórios. De fato, por um lado, existe evidência de que os pais mais jovens (comparativamente com os pais mais velhos) estão mais envolvidos com os filhos, demonstram maior flexibilidade no tipo de atividades que desenvolvem e estão mais disponíveis para executar tarefas domésticas e manter contato direto com as crianças (ver Marks & Palkovitz, 2004Marks, L., & Palkovitz, R. (2004). American fatherhood types: The good, the bad and the uninterested. Fathering, 2, 113-129. doi: 10.3149/fth.0202.113
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). Por outro lado, vários autores (e.g., Jones & Mosher, 2013Jones, J., & Mosher, W. (2013). Fathers involvement with their children: United States, 2006-2010. National Health Statistics Reports, 71, 1-21.; Lima, 2008Lima, J. A. (2008). O tempo e as formas de envolvimento do pai em tarefas de socialização dos filhos em idade pré-escolar. Actas do 1º Congresso Internacional em Estudos da Criança (pp. 1-15). Braga: Universidade do Minho. ; Monteiro et al., 2015Monteiro, L., Torres, N., Veríssimo, M., Costa, I. P., & Freitas, M. (2015). Análise fatorial confirmatória do questionário “O Papel do Pai” numa amostra de pais e mães portuguesas. Análise Psicológica, 33(1), 113-120. doi: 10.14417/ap.998
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; Parke, 1996Parke, R. D. (1996). What determines father’s involvement? In R. D. Parke (Ed.), Fatherhood (pp. 73-114). Cambridge: Harvard University Press.) defendem que os pais mais velhos interagem mais com as crianças, estando mais acessíveis do que os pais mais jovens.

Face à escolaridade do pai, foram encontradas associações com o envolvimento paterno, verificando-se que pais mais escolarizados e que exercem cargos de maior prestígio estão mais envolvidos com os filhos (e.g., Flouri & Buchanan, 2003bFlouri, E., & Buchanan, A. (2003b). What predicts fathers' involvement with their children? A prospective study of intact families. British Journal of Developmental Psychology, 21(1), 81-97. doi: 10.1348/026151003321164636
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; Roggman et al., 2002Roggman, L. A., Boyce, L. K., Cook, G. A., & Cook, J. (2002). Getting dads involved: Predictors of father involvement in early head start and with their childrens. Infant Mental Health Journal, 23, 62-78. doi: 10.1002/imhj.10004
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). Na mesma linha, sobressai que os pais com um nível de instrução mais alto se envolvem mais nos cuidados da criança (ver Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.) e mostram maior conhecimento acerca das suas necessidades de desenvolvimento (Cabrera et al., 2007Cabrera, N. J., Shannon, J. D., & Tamis-LeMonda, C. (2007). Fathers’ influence on their children’s cognitive and emotional development: From toddlers to pre-k. Applied Development Science, 11, 208-213. doi: 10.1080/10888690701762100
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) quando comparados com pais com um nível de escolaridade mais baixo. Ressalta-se ainda um estudo realizado por Jones e Mosher (2013Jones, J., & Mosher, W. (2013). Fathers involvement with their children: United States, 2006-2010. National Health Statistics Reports, 71, 1-21.), em que os pais com um nível mais alto de instrução tendem a ler mais para os seus filhos.

Também o número de filhos em casa influencia o envolvimento paterno, verificando-se que existe um menor envolvimento quando esse número é mais elevado (e.g., Flouri & Buchanan, 2003bFlouri, E., & Buchanan, A. (2003b). What predicts fathers' involvement with their children? A prospective study of intact families. British Journal of Developmental Psychology, 21(1), 81-97. doi: 10.1348/026151003321164636
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; Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.; Wood & Repetti, 2004Wood, J. J., & Repetti, R. L. (2004). What gets dad involved? A longitudinal study of change in parental child caregiving involvement. Journal of Family Psychology, 18(1), 237. doi: 10.1037/0893-3200.18.1.237
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). Contudo, num sentido contrário, estudo análogo (Mehall et al., 2009Mehall, K. G., Spinrad, T. L., Eisenberg, N., & Gaertner, B. M. (2009). Examining the relations of infant temperament and couples marital satisfaction to mother and father involvement: A longitudinal study. Fathering, 7, 23-48. doi: 10.3149/fth.0701.23
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) sugere que, quando existem mais crianças na família, o pai se envolve mais.

No que se refere a variáveis relacionadas com a criança (especificamente sexo e idade), sobressai, mais uma vez, a inconsistência de resultados decorrentes de estudos que analisam a relação do sexo com o envolvimento paterno. De fato, alguns autores verificaram que os pais diferem pouco na forma como cuidam dos filhos e das filhas (ver Lima, 2008Lima, J. A. (2008). O tempo e as formas de envolvimento do pai em tarefas de socialização dos filhos em idade pré-escolar. Actas do 1º Congresso Internacional em Estudos da Criança (pp. 1-15). Braga: Universidade do Minho. ), porém outros demonstraram que o envolvimento do pai é maior com os filhos do que com as filhas (e.g., Flouri & Buchanan, 2003bFlouri, E., & Buchanan, A. (2003b). What predicts fathers' involvement with their children? A prospective study of intact families. British Journal of Developmental Psychology, 21(1), 81-97. doi: 10.1348/026151003321164636
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; Monteiro et al., 2010Monteiro, L., Fernandes, M., Veríssimo, M., Costa, I. P., Torres, N., & Vaughn, B. E. (2010). Perspectiva do pai acerca do seu envolvimento em famílias nucleares. Associações com o que é desejado pela mãe e com as características da criança. Revista Interamericana de Psicología, 44(1), 120-130.; ver também revisão de Lamb, 2000Lamb, M. E. (2000). The history of research on father involvement: An overview. In H. E. Peters, G. W. Peterson, S. K. Steinmetz, & R. D. Day (Eds.), Fatherhood: Research, interventions and policies (pp. 35-37). New York: The Haworth Press.), não obstante alguns autores terem obtido resultados num sentido contrário (e.g., Planalp & Braungart-Rieker, 2016Planalp, E. M., & Braungart-Rieker, J. M. (2016). Determinants of father involvement with young children: Evidence from the early childhood longitudinal study-birth cohort. Journal of Family Psychology, 30(1), 135-146. doi:10.1037/fam0000156
https://doi.org/10.1037/fam0000156...
). Em relação à idade da criança, destaca-se que o envolvimento paterno é maior quando as crianças são mais velhas (e.g., Mehall et al., 2009Mehall, K. G., Spinrad, T. L., Eisenberg, N., & Gaertner, B. M. (2009). Examining the relations of infant temperament and couples marital satisfaction to mother and father involvement: A longitudinal study. Fathering, 7, 23-48. doi: 10.3149/fth.0701.23
https://doi.org/10.3149/fth.0701.23...
; Wood & Repetti, 2004Wood, J. J., & Repetti, R. L. (2004). What gets dad involved? A longitudinal study of change in parental child caregiving involvement. Journal of Family Psychology, 18(1), 237. doi: 10.1037/0893-3200.18.1.237
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), recaindo sobre a mãe a responsabilidade pelos cuidados com as crianças mais novas (Mehall et al., 2009Mehall, K. G., Spinrad, T. L., Eisenberg, N., & Gaertner, B. M. (2009). Examining the relations of infant temperament and couples marital satisfaction to mother and father involvement: A longitudinal study. Fathering, 7, 23-48. doi: 10.3149/fth.0701.23
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). Contudo, num sentido inverso, alguns autores referem que o pai tende a envolver-se mais com crianças mais novas (e.g., Lamb et al., 1987Lamb, M. E. (1987). Introduction: The emergent American father. In M. E. Lamb (Ed.), The father’s role: Cross-cultural perspectives (pp. 3-25). Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates. ).

Passando agora para a relação do envolvimento paterno com variáveis relacionais e contextuais, ir-se-á focar apenas o stress parental (relacional) e o apoio social (contextual), que são alvo de estudo no presente artigo. A revisão de literatura realizada permitiu captar que existe insuficiência de estudos nesse domínio, mais ainda em termos da relação com o apoio social.

Alguns estudos têm mostrado que as mães e os pais podem diferir no estresse parental experimentado, em amostras clínicas (e.g., Baker, 1994Baker, D. B. (1994). Parenting stress and ADHD: A comparison of mothers and fathers. Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 2, 46-50. doi: 10.1177/106342669400200106
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; Benzies et al., 2004Benzies, K. M., Harrison, M. J., & Magill-Evans, J. (2004). Parenting stress, marital quality, and child behavior problems at age 7 years. Public Health Nursing, 21, 111-121. doi: 10.1111/j.0737-1209.2004.021204.x
https://doi.org/10.1111/j.0737-1209.2004...
; Oelofsen & Richardson, 2006Oelofsen, N, & Richardson, P. (2006). Sense of coherence and parenting stress in mothers and fathers of preschool children with developmental disability. Journal of Intellectual & Developmental Disability, 31, 1-12. doi: 10.1080/13668250500349367
https://doi.org/10.1080/1366825050034936...
) e não-clínicas (e.g., Baker et al., 2001Baker, C. K., Perilla, J. L., & Norris, F. H. (2001). Parenting stress and parenting competence among latino men who batter. Journal of Interpersonal Violence, 16, 1139-1157. doi: 10.1177/088626001016011003
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; Santos, 2001Santos, S. V. (2001, Setembro). Portuguese version of the Parenting Stress Index (PSI): Differences in stress experience described by mothers and fathers. 6th European Conference on Psychological Assessment, Aachen.), tendendo as mães a apresentarem um nível mais elevado de estresse parental (não obstante existir inconsistência de resultados), o que pode contribuir para diferenças no envolvimento do pai e da mãe com a criança. No que se refere especificamente ao pai, tem sido encontrada uma relação negativa do envolvimento paterno com o estresse parental, de tal forma que os pais com níveis mais elevados de envolvimento paterno referem níveis mais baixos de estresse parental (e.g., Fagan et al., 2007Fagan, J., Bernd, E., & Whiteman, V. (2007). Adolescent fathers’ parenting stress, social support, and involvement with infants. Journal of Research on Adolescence, 17, 1-22. doi: 10.1111/j.1532-7795.2007.00510.x
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; Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.).

Face ao apoio social, tem sido largamente demonstrada, e é consensual, a influência do apoio social na saúde física e psicológica dos indivíduos (e.g., Ribeiro, 1999Ribeiro, J. L. P. (1999). Escala de satisfação com o suporte social (ESSS). Análise Psicológica, XVII(3), 547-558.; Rodrigues, & Madeira, 2009Rodrigues, V. B., & Madeira, M. (2009). Suporte social e saúde mental - revisão de literatura. Revista da Faculdade de Ciências da Saúde do Porto, 6, 390-399.; Siqueira, 2008Siqueira, M. M. (2008). Construção e validação da Escala de Percepção de Suporte Social. Psicologia em Estudo, 13, 381-388. doi: 10.1590/S1413-73722008000200021
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; Stroebe, 1995Stroebe, W. (1995). Social psychology and health. Buckingam-Philadelphia: Open University Press.), carecendo-se, contudo, de informação que o relacione com a paternidade. Acresce que o apoio social em pais de crianças em idade escolar tem sido estudado sobretudo em amostras clínicas, em detrimento de amostras não clínicas, salientando-se, por exemplo, que a insatisfação com o apoio social se constitui como um fator de risco no que respeita à saúde mental do pai (Hoekstra-Weebers et al., 2001Hoekstra-Weebers, J. E., Jaspers, J. P., Kamps, W. A., & Klip, E. C. (2001). Psychological adaptation and social support of parents of pediatric cancer patients: A prospective longitudinal study. Journal of Pediatric Psychology, 26, 225-235. doi: 10.1093/jpepsy/26.4.225
https://doi.org/10.1093/jpepsy/26.4.225...
).

A relação do apoio social com o envolvimento paterno conduz também a resultados contraditórios. Por exemplo, enquanto Newland et al. (2008Newland, L. A., Coyl, D. D., & Freeman, H. (2008). Predicting preschoolers’ attachment security from fathers’ involvement, internal working models, and use of social support. Early Child Development and Care, 178, 785-801. doi: 10.1080/03004430802352186
https://doi.org/10.1080/0300443080235218...
) identificaram uma associação positiva entre as duas dimensões, um estudo de Fagan et al. (2007Fagan, J., Bernd, E., & Whiteman, V. (2007). Adolescent fathers’ parenting stress, social support, and involvement with infants. Journal of Research on Adolescence, 17, 1-22. doi: 10.1111/j.1532-7795.2007.00510.x
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) não apontou para uma relação significativa entre elas. Acresce que alguns autores evidenciam o papel moderador do apoio social na relação entre o bem-estar psicológico e o envolvimento paterno (Coates & Phares, 2014Coates, E., & Phares, V. (2014). Predictors of paternal involvement among nonresidential, black fathers from low-income neighborhoods. Psychology of Men & Masculinity, 15, 138-151. doi: 10.1037/a0032790
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). Vale notar que, na revisão de literatura empreendida, o estudo de Fagan et al. (2007Fagan, J., Bernd, E., & Whiteman, V. (2007). Adolescent fathers’ parenting stress, social support, and involvement with infants. Journal of Research on Adolescence, 17, 1-22. doi: 10.1111/j.1532-7795.2007.00510.x
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) é o único que relaciona o envolvimento paterno, o estresse parental e o apoio social em amostras não clínicas, concluindo-se, em geral, que níveis mais baixos de estresse parental se associam com maior envolvimento paterno e níveis mais altos de apoio social. Contudo, o estudo integra apenas pais adolescentes, embora Levandowski e Piccinini (2002Levandowski, D. C., & Piccinini, C. A. (2002). A interação pai-bebé entre pais adolescentes e adultos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15, 413-424. doi: 10.1590/S0102-79722002000200018
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) concluam que pais adolescentes e adultos se envolvem com os filhos de forma semelhante.

A já mencionada insuficiência de estudos no âmbito da relação do envolvimento paterno com o estresse parental e com o apoio social acentua a pertinência de se desenvolver investigação com as dimensões visadas. O presente estudo pretende dar, assim, um contributo para aumentar o conhecimento sobre o envolvimento paterno, em particular na sua relação com as dimensões referidas (estresse parental e apoio social), e numa etapa específica do desenvolvimento da criança em que tem sido menos explorado (idade escolar). Ele tem como objetivos: 1) averiguar se o estresse parental e o apoio social contribuem para o envolvimento paterno, esperando-se que se constituam como preditores do envolvimento paterno (H1); 2) analisar a relação do envolvimento paterno com variáveis sociodemográficas do pai e da criança, prevendo-se que haja uma associação deste envolvimento com alguma(s) destas variáveis, sem introduzir uma maior especificação dada a inconsistência de resultados na literatura (H2).

Método

Participantes

O presente estudo, que se insere num outro mais alargado dirigido para o envolvimento paterno (Arrais, 2012Arrais, A. I. (2012). Envolvimento paterno, stress parental e apoio social em pais de crianças em idade escolar (Dissertação de Mestrado Integrado não publicada). Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa, Lisboa.), contou com a participação de 110 pais; contudo, foram excluídos 18 participantes, por não terem respondido à totalidade do protocolo de investigação. Nessa sequência, a amostra final integra 92 indivíduos do sexo masculino, pais de crianças com idades compreendidas entre os 6 e 9 anos. Na Tabela 1 figuram as características sociodemográficas dos participantes. As idades se situam entre os 28 e 52 anos, a maioria concluiu 12 anos ou mais de escolaridade, está empregada, é casada ou vive em união estável e tem, em média, 2 filhos.

Tabela 1
Caracterização Sociodemográfica dos Participantes

Em relação às crianças-alvo, a média de idade é 7,55 anos (DP = 1,09), há uma ligeira predominância do sexo feminino (54,9% de meninas versus 45,1% de meninos), a maioria frequenta o 2º e 4º anos do ensino fundamental (respectivamente 37% e 25%; 18,5% frequentam o 1º ano e 19,6% o 3º ano) e nenhuma teve reprovações.

Instrumentos

Escala de Envolvimento Paterno. Para avaliar o envolvimento paterno, foi utilizada a Escala de Envolvimento Paterno - EEP (Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356., 2010bSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010b). Escala de envolvimento paterno: Um estudo de validação de um instrumento. Lisboa: Placebo Editora.). Ela é constituída por 20 itens; 19 têm associada uma escala de resposta de tipo Likert de 5 pontos (de “sempre” a “nunca” nos itens 1 a 17 e de “sempre o pai” a “sempre a mãe” nos itens 18 e 19), apresentando o item 20 um formato diferente dos restantes - assume o valor de uma percentagem (0 a 100). A análise deste item é qualitativa e descritiva e não será apresentada no presente artigo. Os 19 itens distribuem-se por quatro domínios: Cuidados (inquere-se com que frequência o pai realiza tarefas como alimentar a criança ou dar banho e vestir), Disponibilidade (avalia-se com que frequência o pai está fora de casa em períodos temporais específicos como dias seguidos ou à noite), Presença (questiona-se com que frequência o pai está em casa em horas e momentos particulares como a hora do lanche durante a semana ou ao final do dia) e Disciplina (averigua-se com que frequência o pai realiza tarefas como castigar a criança ou estabelecer limites para o seu comportamento). Os resultados respectivos são obtidos a partir do cálculo da média dos itens que constituem cada domínio (Simões et al., 2010bSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010b). Escala de envolvimento paterno: Um estudo de validação de um instrumento. Lisboa: Placebo Editora.), obtendo-se também um resultado global, que não foi usado neste estudo. Resultados mais elevados correspondem a maior envolvimento paterno. No presente estudo, o valor do coeficiente alfa de Cronbach para a escala global foi 0,87 e os valores para as subescalas foram 0,82 (Cuidados), 0,91 (Disponibilidade), 0,76 (Presença) e 0,46 (Disciplina). Dado o valor muito baixo do coeficiente alfa para a subescala Disciplina, optou-se por não a incluir nas análises efetuadas.

Índice de Estresse Parental - Versão Reduzida. Para avaliar o estresse parental, foi utilizada a adaptação portuguesa do Parenting Stress Index (PSI) de Abidin (1995Abidin, R. R. (1995). Parenting Stress Index - Manual (3ª ed.). Odessa: Psychological Assessment Resources.), denominada Índice de Estresse Parental - ISP; o instrumento tem uma versão completa (Abidin & Santos, 2003Abidin, R. R., & Santos, S. V. (2003). Índice de Stress Parental (PSI) - Manual, 1ª ed., Lisboa: CEGOC-TEA. , 2014) e uma versão reduzida - ISP-VR (e.g., Santos, 2008Santos, S. V. (2008, Outubro). Forma reduzida do Parenting Stress Index (PSI): Estudo Preliminar. XIII Conferência Internacional Avaliação Formas e Contextos, Braga.), usada no presente trabalho. Essa versão é constituída por 36 itens, com uma escala de resposta de 5 pontos (desde 1 - “Discordo Completamente” até 5 - “Concordo Completamente”), distribuídos por três subescalas distintas que remetem para a criança (Criança Difícil - e.g., “geralmente acorda de mau-humor”), a/o mãe/pai (Dificuldade Parental - e.g., “sinto-me limitada/o por causa das minhas responsabilidades como mãe/pai”) e para a interação figura parental-criança (Interação Disfuncional Mãe/Pai-Criança - e.g., “ri-se para mim menos do que eu esperava) (Abidin, 1995Abidin, R. R. (1995). Parenting Stress Index - Manual (3ª ed.). Odessa: Psychological Assessment Resources.; Santos, 2008Santos, S. V. (2008, Outubro). Forma reduzida do Parenting Stress Index (PSI): Estudo Preliminar. XIII Conferência Internacional Avaliação Formas e Contextos, Braga.). Essas subescalas terão no presente estudo designações abreviadas, respectivamente Criança, Pais e Interação. O instrumento faculta resultados para cada uma das três subescalas e um resultado Total (indicativo do nível global de estresse experimentado pela figura parental), que não foi usado neste estudo. Resultados mais elevados correspondem a níveis mais altos de estresse parental (Santos, 2008Santos, S. V. (2008, Outubro). Forma reduzida do Parenting Stress Index (PSI): Estudo Preliminar. XIII Conferência Internacional Avaliação Formas e Contextos, Braga.). No presente estudo, o valor do coeficiente alfa de Cronbach para o resultado Total foi 0,92, e os valores para as subescalas foram 0,77 para a subescala Pais e 0,87 para as subescalas Interação e Criança.

Questionário de Apoio Social - Versão Reduzida. O apoio social foi avaliado com a versão reduzida do Social Support Questionaire (Sarason et al., 1987Sarason, I. G., Sarason, B. R., Shearin, E. N., & Pierce, G. R. (1987). A brief measure of social support: Practical and theoretical implications. Journal of Social and Personal Relationships, 4, 497-510. doi: 10.1177/0265407587044007
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), cuja adaptação portuguesa (QAS-R) foi desenvolvida por Moreira et al. (2002Moreira, J. M., Andrez, M., Moleiro, C., Silva, M. F., Aguiar, P., & Bernardes, S. (2002). Questionário de Apoio Social (Versão Portuguesa do “Social, Support Questionaire”): Tradução e estudos de validade. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 13, 55-7.). O instrumento é constituído por seis itens, tendo cada um deles duas questões. O participante deve indicar primeiro as pessoas (até um máximo de 9) que considera estarem disponíveis para fornecer determinado tipo de apoio (e.g., “com quem pode contar para o/a ajudar a sentir-se melhor quando se sente mesmo “em baixo?”) e assinalar depois o grau de satisfação com esse apoio numa escala de resposta de 6 pontos (de “muito insatisfeito” a “muito satisfeito”), em domínios específicos, correspondendo cada item a um domínio específico (Moreira et al., 2002Moreira, J. M., Andrez, M., Moleiro, C., Silva, M. F., Aguiar, P., & Bernardes, S. (2002). Questionário de Apoio Social (Versão Portuguesa do “Social, Support Questionaire”): Tradução e estudos de validade. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 13, 55-7.; Sarason et al., 1987Sarason, I. G., Sarason, B. R., Shearin, E. N., & Pierce, G. R. (1987). A brief measure of social support: Practical and theoretical implications. Journal of Social and Personal Relationships, 4, 497-510. doi: 10.1177/0265407587044007
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). A informação recolhida permite a obtenção de dois resultados: o número médio de pessoas que o participante elege como prestadoras de apoio [QAS-N (Número) - Apoio Social Disponível]; o nível médio de satisfação com o apoio social disponível [QAS-S (Satisfação) - Satisfação com o Apoio]. Resultados mais altos remetem para a percepção de maior disponibilidade do apoio social e de maior satisfação com este (Moreira et al., 2002Moreira, J. M., Andrez, M., Moleiro, C., Silva, M. F., Aguiar, P., & Bernardes, S. (2002). Questionário de Apoio Social (Versão Portuguesa do “Social, Support Questionaire”): Tradução e estudos de validade. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 13, 55-7.; Sarason et al., 1987Sarason, I. G., Sarason, B. R., Shearin, E. N., & Pierce, G. R. (1987). A brief measure of social support: Practical and theoretical implications. Journal of Social and Personal Relationships, 4, 497-510. doi: 10.1177/0265407587044007
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). No presente estudo os valores dos coeficientes alfa de Cronbach foram 0,88 para a QAS-N e 0,93 para a QAS-S.

Ficha de Recolha de Informação. Foi ainda utilizada uma Ficha construída no âmbito do estudo mais alargado sobre envolvimento paterno, com vista à obtenção de informação sociodemográfica referente aos participantes (e.g., idade, escolaridade, estado civil) e às crianças-alvo (e.g., sexo, idade, ano de escolaridade).

Procedimentos

A coleta de dados foi realizada num Agrupamento de Escolas de uma região do Centro-Sul de Portugal (distrito de Santarém), após a obtenção das devidas autorizações. O estudo mais amplo em que este se inscreve (Arrais, 2012Arrais, A. I. (2012). Envolvimento paterno, stress parental e apoio social em pais de crianças em idade escolar (Dissertação de Mestrado Integrado não publicada). Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa, Lisboa.) obteve o parecer favorável da Comissão de Deontologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, seguindo os princípios éticos estipulados pela American Psychological Association (2002American Psychological Association (2002). Ethical principles of psychologists and code of conduct. American Psychologist, 57, 1060-1073. doi: 10.1037/0003-066X.47.12.1597
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, 2010American Psychological Association (2010). 2010 Amendments to the 2002 “Ethical principles of psychologists and code of conduct”. American Psychologist, 65, 493. doi: 10.1037/a0020168
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). Aos pais era entregue um documento em que se fazia a apresentação do estudo, indicando-se o âmbito da investigação e o seu objetivo, e em que se solicitava a sua participação com a especificação de que essa era voluntária, as respostas eram anônimas e a informação era facultada como confidencial. Os pais que aceitaram participar preencheram uma declaração de consentimento informado e receberam os instrumentos de avaliação num envelope fechado (via professora da criança-alvo), bem como um documento com as instruções necessárias para o seu preenchimento e devolução. Nas instruções era indicado que, nas suas respostas, o pai/a mãe deveria centrar-se na criança em idade escolar.

Procedimentos de Análise de Dados

Na análise dos dados, recorreu-se à análise de regressão linear múltipla para determinar os preditores do envolvimento paterno, constituindo-se como variáveis preditoras as dimensões relativas ao estresse parental e as referentes ao apoio social, e como variáveis-critério as dimensões da Escala de Envolvimento Paterno, tratadas individualmente. Para testar a multicolinearidade, foi utilizado o cálculo do VIF (Variance Inflation Factor). Foi também usado o teste de Durbin-Watson para testar a hipótese de autocorrelação dos resíduos. Por sua vez, o estudo do grau de associação entre variáveis (envolvimento paterno com variáveis sociodemográficas) foi realizado com recurso ao coeficiente de correlação de Pearson (para a relação linear entre variáveis métricas), coeficiente de Spearman (para a associação entre variáveis métricas e ordinais) e coeficiente de correlação bisserial por pontos (para a associação entre variáveis métricas e dicotômicas). A análise dos dados foi realizada por meio do programa estatístico SPSS - versão 22 (Statistical Package for the Social Sciences).

Resultados

Para o estudo dos preditores do envolvimento paterno, realizaram-se, como se referiu antes, análises de regressão múltipla, considerando ora as dimensões do estresse parental como preditores (resultados das subescalas Pais, Interação e Criança do ISP) - ver Tabela 2 -, ora as dimensões do apoio social (subescalas Número e Satisfação do QAS-R) - ver Tabela 3; como variáveis-critério, considerou-se, em ambos os casos, as subescalas da Escala de Envolvimento Paterno (EEP) tratadas individualmente, respectivamente Cuidados, Disponibilidade e Presença.

Tabela 2
Predição do Envolvimento Paterno (Cuidados, Disponibilidade e Presença) com Base no Estresse Parental (Pais, Interacção e Criança)
Tabela 3
Predição do Envolvimento Paterno (Cuidados, Disponibilidade e Presença) com Base no Apoio Social (Número e Satisfação)

Na análise que envolve o estresse parental, os valores de Durbin-Watson foram 1,92 (Cuidados), 2,09 (Disponibilidade) e 2,03 (Presença), portanto próximos de 2, indicando que os resíduos são independentes e aleatórios. Por sua vez, os valores de VIF foram os mesmos no caso das diferentes variáveis-critério (Cuidados, Disponibilidade e Presença), especificamente 1,49 para a subescala Pais (estresse parental), 2,14 para a subescala Interação (estresse parental) e 2,18 para a subescala Criança (estresse parental), não se atingindo, portanto, valores que indiciem a presença de multicolinearidade nas variáveis independentes. Na análise que envolve o apoio social, os valores de Durbin-Watson foram 1,91 (Cuidados) e 2,02 (no caso da Disponibilidade e da Presença), confirmando-se que também aqui os resíduos são independentes e aleatórios. No que diz respeito aos valores VIF, estes foram de 1,12, quer para a subescala Número, quer para a subescala Satisfação, no caso de qualquer uma das variáveis-critério consideradas (Cuidados, Disponibilidade e Presença), não apontando, portanto, para multicolinearidade.

Os resultados relativos à predição do envolvimento paterno com base no estresse parental (Tabela 2) mostram que a subescala Interação prediz o envolvimento paterno - Cuidados, contribuindo para 7% da variância do modelo -, e que as variáveis Interação e Criança predizem a Disponibilidade, explicando, em conjunto, 7% da variância do modelo.

Quanto aos resultados referentes à predição do envolvimento paterno com base no apoio social (Tabela 3), nenhuma variável do apoio social prediz este envolvimento.

Os resultados respeitantes à relação do envolvimento paterno com variáveis sociodemográficas dos pais e da criança (Tabela 4) indicam que as variáveis da criança (sexo e idade) não se correlacionam com os domínios do envolvimento na amostra estudada e que, das variáveis parentais consideradas (idade, escolaridade e número de filhos), apenas o número de filhos apresenta uma correlação positiva com a Presença, ainda que a sua magnitude seja baixa (r = 0,25, p = 0,017).

Tabela 4
Correlação do Envolvimento Paterno com Variáveis Sociodemográficas

Discussão

Este estudo, com pais de crianças em idade escolar (amostra não clínica), tinha dois objetivos, visando o primeiro a identificação de preditores do envolvimento paterno, com base no estresse parental e no apoio social, e pretendendo o segundo averiguar a relação do envolvimento paterno com variáveis sociodemográficas do pai e da criança. A análise que incluiu o estresse parental como preditor (resultados das subescalas Pais, Interação e Criança do ISP) e o envolvimento paterno como variável critério (subescalas Cuidados, Disponibilidade e Presença da EEP tratadas individualmente) mostrou que os pais com níveis mais baixos de estresse parental na interação com a criança estão mais envolvidos nos cuidados, enquanto os pais mais envolvidos em termos de disponibilidade também referem níveis mais baixos de estresse na interação. Estes resultados sugerem que o fato de os pais se sentirem reforçados pela criança no seu papel parental e terem com ela um laço emocional e relacional positivo poderá contribuir para um maior envolvimento nos domínios referidos. É possível até que esse maior envolvimento permita ao pai ter um melhor conhecimento das caracteristicas da criança, pela maior proximidade, e um entendimento facilitado de como gerir da forma mais adequada a relação entre ambos e a interação estabelecida. Contudo, as características da criança poderão ser relevantes, já que se verificou que os pais mais envolvidos no que se refere à disponibilidade indicam também níveis mais elevados de estresse relacionado com essas características. Tal constatação indicia que algumas das crianças-alvo da amostra estudada poderão ter características geradoras de estresse (e.g., ao nível comportamental e na autonomia), as quais colocarão desafios que exigirão do pai uma maior disponibilidade, estando mais frequentemente envolvido, por exemplo, na colocação de limites e em práticas de controlo comportamental ou na estimulação da autonomia.

Na literatura sobressai que níveis mais baixos de estresse parental se associam com um maior envolvimento paterno (e.g., Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.; Fagan et al., 2007Fagan, J., Bernd, E., & Whiteman, V. (2007). Adolescent fathers’ parenting stress, social support, and involvement with infants. Journal of Research on Adolescence, 17, 1-22. doi: 10.1111/j.1532-7795.2007.00510.x
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), o que é, em parte, congruente com os resultados do presente estudo; contudo, na literatura não se especificam quais as áreas do envolvimento que contribuem para essa relação. Não obstante os resultados significativos obtidos, é de referir que o contributo das variáveis relativas ao estresse parental na predição dos domínios do envolvimento paterno é baixo (7%), o que deixa antever que outras variáveis poderão ser mais importantes para a predição deste envolvimento.

Por sua vez, a análise que considerou o apoio social como preditor (resultados das subescalas Número e Satisfação da QAS-R) e como variável-critério o envolvimento paterno (subescalas Cuidados, Disponibilidade e Presença, tratadas individualmente) mostrou que o apoio social não prediz o envolvimento paterno (em nenhuma das subescalas), contrariamente ao previsto. Nessa sequência, a hipótese colocada (H1) foi corroborada apenas em parte na medida em que o estresse parental se constituiu como preditor do envolvimento paterno, mas o mesmo não aconteceu com o apoio social.

Ainda que a literatura encontrada aponte para resultados contraditórios, os do presente estudo vão na linha do referido por Fagan et al. (2007Fagan, J., Bernd, E., & Whiteman, V. (2007). Adolescent fathers’ parenting stress, social support, and involvement with infants. Journal of Research on Adolescence, 17, 1-22. doi: 10.1111/j.1532-7795.2007.00510.x
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), que concluiu que não existe uma associação significativa entre o envolvimento paterno e o apoio social que o pai recebe. É possível que os resultados obtidos fossem diferentes se a avaliação do apoio social, em lugar de se centrar no número de elementos da rede social, tivesse incidido no tipo de apoio (por exemplo, instrumental ou emocional), bem como na discriminação entre apoio percebido, esperado e recebido. Acresce que é igualmente plausível supor que os resultados pudessem ser diferentes se a avaliação tivesse sido especificamente dirigida para o apoio do par parental, já que este tipo de apoio pode ser influente no envolvimento do pai. Refere, ainda, que o fato de os homens tenderem a apresentar uma maior dificuldade em pedir ajuda, e até uma maior contenção na expressão de emoções, poderá contribuir para que, pelo menos alguns deles, mesmo sentindo necessidade de apoio para o envolvimento no cuidado e educação dos filhos, não o expressem e procedam como se não necessitassem do apoio da rede social.

No que diz respeito à relação do envolvimento paterno com variáveis da criança - sexo e idade -, não se obtiveram resultados significativos. Face ao sexo, o resultado do presente estudo vai na linha do referido por autores que não encontram uma relação com o envolvimento paterno (e.g., Monteiro et al., 2008Monteiro, L., Veríssimo, M., Santos, A. J., & Vaughn, B. E. (2008). Envolvimento paterno e organização dos comportamentos de base segura das crianças em famílias portuguesas. Análise Psicológica, 26(3), 395-409.) ou que indicam que o envolvimento varia pouco com o fato de a criança ser menino ou menina (e.g., Lytonn & Romey, 1991Lytton, H. & Romney, D. M. (1991). Parents' differential socialization of boys and girls: A meta-analysis. Psychological Bulletin, 109, 267-296. doi: 10.1037/0033-2909.109.2.267
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). Por sua vez, no que diz respeito à idade, o resultado obtido é discordante da tendência encontrada na literatura, sugestiva de que o envolvimento paterno é maior quando a criança é mais velha (e.g.,Wood & Repetti, 2004Wood, J. J., & Repetti, R. L. (2004). What gets dad involved? A longitudinal study of change in parental child caregiving involvement. Journal of Family Psychology, 18(1), 237. doi: 10.1037/0893-3200.18.1.237
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), o que não se verifica no presente estudo, cujo resultado se enquadra nos obtidos por Monteiro e colaboradores (Monteiro et al., 2010Monteiro, L., Fernandes, M., Veríssimo, M., Costa, I. P., Torres, N., & Vaughn, B. E. (2010). Perspectiva do pai acerca do seu envolvimento em famílias nucleares. Associações com o que é desejado pela mãe e com as características da criança. Revista Interamericana de Psicología, 44(1), 120-130.; Monteiro et al., 2008Monteiro, L., Veríssimo, M., Santos, A. J., & Vaughn, B. E. (2008). Envolvimento paterno e organização dos comportamentos de base segura das crianças em famílias portuguesas. Análise Psicológica, 26(3), 395-409.). Uma vez que o resultado é consonante com o de outros estudos portugueses e díspar relativamente aos de estudos realizados com pais de outras nacionalidades/etnias, é pertinente considerar a necessidade de se averiguar melhor o contributo de aspetos culturais para o envolvimento do pai com crianças de diferentes níveis etários.

Face à relação do envolvimento paterno com variáveis paternas (idade, escolaridade e número de filhos), salientou-se que apenas o número de filhos conduz a um resultado significativo, associando-se positivamente com um dos domínios do envolvimento paterno - Presença, o que vai ao encontro da hipótese colocada (H2). Assim, pais com um maior número de filhos referem estar mais presentes na vida destes. A literatura a que se acedeu aponta para inconsistência de resultados, porém esse dado vem na linha do verificado por outros autores, como Mehall et al. (2009Mehall, K. G., Spinrad, T. L., Eisenberg, N., & Gaertner, B. M. (2009). Examining the relations of infant temperament and couples marital satisfaction to mother and father involvement: A longitudinal study. Fathering, 7, 23-48. doi: 10.3149/fth.0701.23
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) e Wood e Repetti (2004Wood, J. J., & Repetti, R. L. (2004). What gets dad involved? A longitudinal study of change in parental child caregiving involvement. Journal of Family Psychology, 18(1), 237. doi: 10.1037/0893-3200.18.1.237
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), mostrando que, quando existe um maior número de crianças na família, o grau de envolvimento do pai é maior, o que é compreensível dada a necessidade acrescida de os elementos do par parental partilharem tarefas, cuidados e decisões com vista a melhor apoiarem os filhos. Relativamente à idade e à escolaridade do pai, não ocorreram relações significativas com o envolvimento paterno. No primeiro caso, recorda-se que há inconsistência de resultados na literatura, enquadrando-se os obtidos no presente estudo nos relatados por outros autores que também não encontraram uma associação do envolvimento paterno com a idade do pai (e.g., Monteiro et al., 2008Monteiro, L., Veríssimo, M., Santos, A. J., & Vaughn, B. E. (2008). Envolvimento paterno e organização dos comportamentos de base segura das crianças em famílias portuguesas. Análise Psicológica, 26(3), 395-409.; Simões et al., 2010aSimões, R., Leal, I., & Maroco, J. (2010a). Paternal involvement in a group of fathers of elementary school children. Psicologia, Saúde & Doenças, 11, 339-356.). No segundo caso, os resultados são dissonantes dos alcançados noutros estudos em que a relação entre o envolvimento paterno e a escolaridade do pai é evidenciada (e.g., Cabrera et al., 2007Cabrera, N. J., Shannon, J. D., & Tamis-LeMonda, C. (2007). Fathers’ influence on their children’s cognitive and emotional development: From toddlers to pre-k. Applied Development Science, 11, 208-213. doi: 10.1080/10888690701762100
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; Flouri & Buchanan, 2003bFlouri, E., & Buchanan, A. (2003b). What predicts fathers' involvement with their children? A prospective study of intact families. British Journal of Developmental Psychology, 21(1), 81-97. doi: 10.1348/026151003321164636
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). É possível que a valorização crescente do papel do pai na vida dos filhos, a que se assistiu nos últimos anos na sociedade portuguesa, possa ser paralela ao envolvimento também crescente nos cuidados e educação das crianças, e que tal seja independente da idade ou da escolaridade do pai. Contudo, é igualmente pertinente considerar que, na amostra estudada, possa haver um número importante de pais “envolvidos”, de diferentes idades e níveis de instrução, o poderá ter constituído até um fator motivacional para a participação na pesquisa, carecendo-se de estudos com novas amostras.

Em geral, a divergência de resultados face à literatura poderá dever-se não só a diferenças nas características das amostras (por exemplo, sociodemográficas), mas também na metodologia utilizada (por exemplo, em termos dos instrumentos utilizados para avaliar o envolvimento paterno).

Passando agora às limitações deste estudo, destaca-se o recurso a uma amostra de conveniência e coleta em um único local, bem como a adoção de um procedimento de coleta não presencial (em que o protocolo foi entregue aos pais por intermédio dos professores), o que em alguns casos poderia ter dificultado o esclarecimento de eventuais dúvidas, não obstante ter sido facultado aos pais o contato da investigadora com vista a esse tipo de esclarecimento. Importante mencionar igualmente a natureza correlacional do estudo, que não permite inferir relações de causalidade. Apesar das limitações acima referidas, o presente estudo constitui um contributo válido para um melhor entendimento das dimensões que podem ser influentes no envolvimento paterno quando a criança tem idade escolar. No entando, é necessária a prossecução de investigação que possibilite uma melhor compreensão do envolvimento paterno e dos seus determinantes, utilizando-se amostras representativas da população e contemplando-se diferentes informantes (pais e mães), em fases distintas do desenvolvimento da criança, e com recurso a estudos longitudinais.

Uma vez que os resultados sugerem que o estresse parental pode ter consequências para o envolvimento paterno, será pertinente o desenvolvimento de intervenções preventivas que limitem esse estresse, o que contribuirá para a qualidade da relação pai-criança.

Referências

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  • *
    O referido artigo é baseado na Dissertação de Mestrado da primeira autora.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    01 Jun 2018
  • Revisado
    04 Maio 2020
  • Aceito
    05 Ago 2020
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