A quem se dirigem os editoriais? Um estudo acerca de personagens e instituições mencionadas pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo
Resumo
A literatura sobre jornalismo político indica que aqueles agentes ocupando cargos de maior hierarquia tendem a dispor de maior cota de visibilidade no noticiário. A fim de esclarecer as relações entre o cargo ocupado pelo agente político ou o fato de tratar-se de uma instituição e o grau de visibilidade do qual se dispõe, este artigo busca compreender como funcionam os pará‚metros de escolha editorial, por meio de mapeamento das personagens e instituições mencionadas por 185 editoriais dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo sobre o Congresso Nacional. O trabalho propõe três hipóteses: H1 ”“ há correlação positiva entre tratar-se de uma instituição e a quantidade de menções recebidas nos editoriais; H2 ”“ há correlação positiva entre ocupar cargo nos campos político e econoÌ‚mico ou no Judiciário e a quantidade de menções recebidas nos editoriais; e H3 ”“ uma vez que os editoriais compondo o corpus tratam do Congresso Nacional, as duas Casas (Cá‚mara e Senado) e os agentes integrantes do Legislativo são os mais mencionados pelas peças. Para testar as hipóteses, utilizou-se estatística descritiva. Também se aplicou um teste-t, uma regressão múltipla e observou-se o valor-p para os dados. Apenas a primeira hipótese foi confirmada por completo, enquanto a segunda foi refutada e a terceira foi confirmada em parte. Os dados contradizem a literatura sobre jornalismo político. Apenas agentes políticos muito poderosos, a exemplo do presidente da República, obtêm visibilidade nos editoriais, pois se priorizam menções a instituições. Assim, o jornalismo político praticado nos editoriais dirige-se a agentes políticos detentores de poder de decisão ou a instituições significativas para a democracia e para o sistema político do país, tornando o acesso à esfera de visibilidade pública ainda mais restrito.