Brasília, v. 20, n. 4, p. 411-415, 2025
https://doi.org/10.33240/rba.v20i4.60050
Como citar: Canavesi, Flaviane et al. Número especial da COP30: A Agroecologia e suas dimensões na abordagem das urgências climáticas. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 20, n. x, p. 411-415, 2025.
Apresentação
Número especial da COP30: A Agroecologia e suas dimensões na abordagem das urgências climáticas
COP30 Special Issue: Agroecology and its dimensions in addressing climate change
Número especial de la COP30: Agroecología y sus dimensiones para abordar el cambio climático
O número especial da Revista Brasileira de Agroecologia (RBA) busca reunir reflexões, pesquisas e experiências que evidenciem o papel da Agroecologia frente à crise climática, especialmente com resultados apresentados no contexto da realização da trigésima Conferência das Partes da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC), a COP 30, que acontecerá na Amazônia brasileira em novembro de 2025 em Belém (PA).
A realização da COP 30 em solo amazônico, chama-nos a abordar a situação das urgências climáticas e destacar a necessidade da ampliação de estratégias coletivas de enfrentamento aos desafios ambientais, suas causas e impactos a níveis local e global. Neste sentido, é importante promover a consciência e a importância de ações efetivas que garantam direitos, soberania alimentar e nutricional e que fortaleçam o debate sobre alternativas sustentáveis e justas, valorizando os saberes de povos indígenas, comunidades tradicionais, agricultores familiares e movimentos sociais.
Considerando a atual agenda climática, e com a perspectiva de reunir reflexões como as trazidas pelos autores e pelas autoras dos artigos, este número especial foi proposto por pesquisadoras da Amazônia em conjunto com a equipe editorial da RBA. Envolveu as vice-presidências regionais da Associação Brasileira de Agroecologia, as quais mobilizaram grupos de pesquisa no Brasil e na América Latina para o envio de artigos, de modo que a diversidade de trabalhos expressasse a diversidade de biomas.
Os artigos selecionados dialogam com os eixos: Agroecologia e urgências climáticas: impactos, adaptações e contribuições; Territórios amazônicos e pan-amazônicos: experiências agroecológicas e resistência; Justiça climática e socioambiental: interseccionalidades e desigualdades; Saberes populares e tradicionais: protagonismo de mulheres, juventudes e povos originários; Economia solidária e soberania alimentar: redes, mercados locais e políticas públicas.
Para esta edição especial, foram aprovados 12 artigos e uma nota agroecológica, selecionados pela relevância para o tema desta edição, pela originalidade e rigor científico, contribuição para o fortalecimento de práticas e políticas sustentáveis e inclusão de perspectivas críticas e plurais. Os textos abordam múltiplas facetas em que a Agroecologia pode contribuir para avanços nas diferentes questões e suas variantes nas diferentes regiões e biomas brasileiros, garantindo um olhar e manifestação redirecionados para a Amazônia, inclusive em sua dimensão Pan-Amazônica.
Discutindo a Agroecologia a partir do olhar camponês sobre a reforma agrária, temos o artigo intitulado “Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis: Urgências Climáticas e Agroecologia em Territórios de Reforma Agrária” que traz a estratégia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para a expansão da Agroecologia num contexto de reforma agrária popular. O artigo “A política da mudança climática no Brasil: contradições, impactos e estratégias de resistência camponesa a partir do Pontal do Paranapanema, São Paulo” conclui que a ineficaz política climática do Brasil promove o agronegócio na região do Pontal do Paranapanema (SP), incentivando a expansão do cultivo de cana-de-açúcar como uma suposta mitigação das mudanças climáticas.
Abordando a discussão sobre mudanças climáticas, o trabalho “Devir do campesinato agroecológico e suas abordagens às mudanças climáticas: experiências territoriais no Brasil e na Colômbia” apresenta experiências agroecológicas como antagônicas à estrutura agrária do mundo do capital financeiro. No texto é discutida a perspectiva latinoamericana pluriversal sobre o tema, com a conclusão de que a mitigação das mudanças climáticas é parte integrante da territorialização do campesinato agroecológico.
Em sequência, no texto “A Aja Shuar e os caminhos agroecológicos: entre ‘fendas’ e horizontes possíveis da Amazônia equatoriana”, é discutido que o capital financeiro torna inviável outros modos de vida em um contexto de projetos de mineração no capitalismo global transnacional.
Reconhecendo experiências de resistências, o artigo “‘A chuva que queremos não é de veneno!’: quebradeiras de coco babaçu e agricultores no combate ao racismo ambiental e na construção da Zona Livre de Agrotóxicos na microrregião do Médio Mearim, Maranhão” apresenta resultados de pesquisas com mulheres e populações tradicionais que enfrentam o racismo ambiental e criam estratégias de justiça ambiental na luta contra os agrotóxicos.
Evidenciando a relação entre cultura, saber-fazer e gestão de recursos genéticos, compõem o número especial textos que abordam pesquisas que ampliam conhecimentos sobre agrobiodiversidade, ressaltando um campo que requer mais pesquisas como a que se dedicam om artigom “Origem, cultivo e conservação da cultura alimentar e medicinal dos carás (Dioscorea spp.)” e “Desafios e estratégias utilizadas na conservação on farm de variedades crioulas de feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.) por agricultores familiares do Agreste Meridional de Pernambuco”.
Os riscos das mudanças climáticas são abordados em análises sobre recentes desastres, importantes de serem sistematizados pela pesquisa para compreensão dos acontecimentos, como em “Entre a água e a lama: as enchentes e o espaço rural no Vale do Taquari/RS” e a experiências de mitigação podemos ver em “Guardiãs da vida: o papel das mulheres camponesas na mitigação das mudanças climáticas no Rio Grande Do Sul”.
Riscos das mudanças climáticas quanto ao ciclo hidrológico, sejam por excesso ou déficit pluviométrico são abordados em “Estratégias de manejo da água na agricultura familiar da Amazônia: uma revisão sistemática” que se soma aos três artigos que versam sobre o Bioma Amazônia.
Há, ainda, estudos que se dedicam à importante análise sobre uma metodologia ativa interdisciplinar no ensino superior como “Visita técnica como instrumento para estimular o pensamento crítico em sustentabilidade: relato de experiência”.
Em “Agroecologia e Planejamento Urbano e Regional: potenciais para a transição agroecológica na região metropolitana do Rio de Janeiro” são apresentados dados sobre o potencial agroecológico dos espaços livres de urbanização. Cada vez mais, a relação entre campo e cidade, a compreensão da urbanização e o repensar das cidades deve estar presente na construção do conhecimento agroecológico.
Concluímos este número com a nota agroecológica que traz a experiência da “Rede Hortos Agroflorestais Medicinais Biodinâmicos: interfaces com as emergências climáticas e a promoção da saúde no SUS em territórios do Distrito Federal”.
Os resultados de pesquisas apresentados nos trabalhos ressaltam a importância de abordagens críticas ao modelo do capital, como processos especulativos e de mercantilização da natureza em que políticas públicas paradoxalmente favorecem setores do agronegócio com maiores emissões de gases do efeito estufa na agropecuária, impedindo inclusive o avanço da Agroecologia no cuidado com os bens comuns.
Assim, consideramos que iniciativas como a publicação deste dossiê contribuem significativamente para avançarmos nas pesquisas em Agroecologia, com atenção a temas complexos da atualidade, que demandam maiores investimentos e esforços multi-institucionais em pesquisas, principalmente pesquisa-ação, junto ao movimento agroecológico, que integra a diversidade de movimentos sociais do campo, das águas, das florestas, dos maretórios e das cidades.
O número atende aos objetivos de impulsionar esta comunicação científica, repensar ciência, práticas e políticas públicas, mas, não para por aí. Este se constitui como uma chamada inicial para que mais trabalhos sejam reunidos nos números ordinários subsequentes da RBA, em que convidamos grupos e redes de pesquisa a enviarem seus trabalhos.
Agradecemos a todas as pessoas que se somaram a esta edição da RBA nas editorias de seção e avaliação de artigos. Agradecemos também aos autores e autoras que enviaram seus artigos para avaliação da equipe editorial.
Ressaltamos o compromisso da RBA com a ciência aberta, garantida pelo empenho de uma grande e qualificada rede nesse processo de edição de uma revista científica.
Seguimos neste canal da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da Universidade de Brasília (PPG MADER/UnB).
Boa leitura!
Comitê editorial do número especial
Flaviane Canavesi (UnB - Brasília/DF);
Luciane Cristina Costa Soares (UFRA-Tomé-Açu/PA);
Danielle Wagner (UFOPA- Santatém/PA);
Marcela Vecchione Gonçalves (UFPA - Belém/PA);
Letícia Rangel Tura (FASE- Rio de Janeiro/RJ)
Tatiana Deane de Abreu Sá (EMBRAPA Amazônia Oriental - Belém/PA)
Revista Brasileira de Agroecologia
ISSN 1980-9735
Publicação da Associação Brasileira de Agroecologia - ABA-Agroecologia em cooperação com o Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural - PPG-Mader, da Universidade de Brasília – UnB
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