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Brasília, v. 19, n. 4, p. xxx-xxx, 2024

https://doi.org/10.33240/rba.v19i4.53077

Como citar: SILVA, Raiury S.; PLESE, Norma Giovanna S.P. O efeito da pandemia na comercialização da agricultura familiar nas principais feiras de Rio Branco – AC Revista Brasileira de Agroecologia, v. 19, n. 4, p. 479-489, 2024.

O efeito da pandemia na comercialização da agricultura familiar nas principais feiras de Rio Branco - AC

The effect of the pandemic on the sale of family farming in the main fairs of Rio Branco - AC

El efecto de la pandemia en la venta de agricultura familiar en las principales ferias de Rio Branco - AC

 

Raiury Santos da Silva¹, Norma Giovanna da Silva Pereira Plese2

1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Familiar do Instituto Federal do Acre, Rio Branco, Brasil. https://orcid.org/0009-0006-6029-7004 , E-mail: raiurysantos@gmail.com

2 Docente no Programa de Pós-Graduação em Agricultura Familiar do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Acre, Rio Branco, Brasil. https://orcid.org/0009-0003-2827-3940 , E-mail: norma.plese@ifac.edu.br

 

Recebido em: 12 mar 2024 - Aceito em: 21ago 2024

 

RESUMO

A agricultura familiar é um segmento que abastece os centros urbanos com comercialização nas feiras livres. Entretanto, na pandemia Covid-19, a agricultura familiar passou por um cenário desafiador com a suspensão do comércio nas feiras. Este trabalho tem como objetivo identificar as estratégias de comércio utilizadas pelos feirantes durante a pandemia, em Rio Branco - AC. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica e a pesquisa por meio de questionário estruturado aplicado a 50 agricultores familiares distribuídos entre as três principais feiras de Rio Branco. Os dados foram sistematizados pelo método quantitativo. Os agricultores comercializaram principalmente na feira livre e a utilização dos meios digitais foi a principal estratégia adotada pelos agricultores.

Palavras-chave: Covid-19, estratégias, mercado, empreendedorismo.

 

ABSTRACT

Family farming is a segment that supplies urban centers with sales at street markets. However, during the Covid-19 pandemic, family farming faced a challenging scenario with the suspension of trade at markets. This study aims to identify the trade strategies used by market vendors during the pandemic in Rio Branco - AC. The methodology used was a bibliographic review and a survey through a structured questionnaire applied to 50 family farmers distributed among the three main markets in Rio Branco. The data were systematized using the quantitative method. Farmers traded mainly at street markets and digital media was the main strategy adopted by farmers.

Keywords: Covid-19, strategies, market, entrepreneurship.

 

RESUMEN

La agricultura familiar es un segmento que abastece a los centros urbanos con ventas en mercados al aire libre. Sin embargo, durante la pandemia de Covid-19, la agricultura familiar atravesó un escenario desafiante con la suspensión del comercio en ferias. Este trabajo tiene como objetivo identificar las estrategias comerciales utilizadas por los comerciantes durante la pandemia en Rio Branco - AC. La metodología utilizada fue la revisión bibliográfica y la investigación a través de un cuestionario estructurado aplicado a 50 agricultores familiares distribuidos entre las tres principales ferias de Rio Branco. Los datos fueron sistematizados mediante el método cuantitativo. Los agricultores comerciaban principalmente en mercados al aire libre y los medios digitales fueron la principal estrategia adoptada por los agricultores.

Palabras clave: Covid-19, estratégias, mercado, emprendimiento.

 

 

 

A agricultura familiar é um elo importante na cadeia de oferta de alimentos de base nutritiva, ricos em vitaminas, minerais, antioxidantes, gorduras benéficas e carboidratos essenciais. A comercialização desses alimentos é a parte final do circuito produtivo que envolve processos que vão desde a produção da matéria-prima até o consumidor final. A feira livre é o principal canal de comercialização da agricultura familiar, sendo esse um local de comércio e de relacionamento entre produtor e consumidor (Maluf, 2004; Zanini e Fariña, 2021).

A feira livre é um espaço importante para os agricultores familiares, pois neste local são vendidos produtos oriundos do campo, como também é expressa a cultura regional, por meio de gostos e saberes tradicionais. Desse modo, há um consenso entre o público consumidor de que nestes locais são encontrados produtos frescos como frutas, polpas, verduras, carnes e doces, produzidos de maneira artesanal e com preços mais baratos do que nos supermercados (Maluf, 2004; Siviero, 2011).

No ano de 2020 o mundo enfrentou uma crise de saúde provocada pela pandemia de Covid-19 (SARS-CoV-2), fazendo com que diversos setores das esferas econômicas e sociais tivessem que suspender suas atividades em função do isolamento social. A suspensão das atividades de comercialização em ambientes de aglomeração de pessoas teve o intuito de frear a disseminação do vírus, a fim de evitar um colapso no sistema de saúde pública (Nascimento, 2021; Santos et al., 2022).

O isolamento social veio acompanhado de limitações nas operações de comércio e distribuição de alimentos, impossibilitando o funcionamento de diversos estabelecimentos como feiras livres, restaurantes, bares, shoppings, hotéis, vendas de beira de estrada, entre outros. Este contexto gerou problemas para dois elos fragilizados das cadeias produtivas de alimentos: agricultores familiares e consumidores de baixa renda (Breitenbach, 2021).

Sabe-se que para o consumidor, o fechamento das feiras livres reduziu as possibilidades e os locais de aquisição de alimentos, além disso, a elevação dos preços dos alimentos nas redes de supermercados fortaleceu a insegurança alimentar, principalmente para os grupos de baixa renda. O fechamento das feiras livres provocou um distanciamento entre os vínculos construídos entre consumidores e agricultores familiares, ressaltando a necessidade de estabelecimento de novas estratégias de comercialização para uma reaproximação do mercado consumidor (Breitenbach, 2021; Schneider et al., 2020).

Por causa da necessidade de caracterizar os impactos socioeconômicos causados pela restrição do comércio de produtos da agricultura familiar, este trabalho responde a questionamentos de como os agricultores familiares adaptaram a venda de seus produtos agrícolas, e demonstra se nesse contexto de restrição social surgiram novas estratégias para alcançar o público consumidor nas feiras livres em Rio Branco - AC.

Diante disso, este trabalho tem como objetivo identificar quais os impactos da pandemia Covid-19 na venda de produtos e derivados da produção familiar e investigar se o período de restrição do comércio influenciou na adoção de novas estratégias de comercialização nas principais feiras do município de Rio Branco - AC.
A metodologia foi baseada na revisão bibliográfica de publicações científicas sobre o tema abordado, em conjunto com a pesquisa exploratória por meio da condução de entrevistas (Gil, 2008; Sproull, 1988). Os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Acre, sob o Parecer final n° 5.492.329.

A cidade de Rio Branco é a capital do Estado do Acre. O município está localizado nas seguintes coordenadas: Latitude: 09º 58' 29" S, Longitude: 67º 48' 36" W. Pelo mérito de ser uma capital, é o município mais populoso e possui a maior economia do estado.

Nas principais feiras livres de Rio Branco foram entrevistados 50 agricultores familiares por meio de questionário com perguntas abertas e objetivas. Estes feirantes usam como local de comércio os espaços do Mercado Municipal Elias Mansour, do Mercado Municipal Francisco Assis Marinheiro (Mercado da Estação) e a Central de Abastecimento de Rio Branco (CEASA), onde é realizada a Feira do Produtor.

As entrevistas foram aplicadas pessoalmente, pela pesquisadora, face a face, conforme a metodologia de Sproull (1988) e Gil (2008), sendo essa a mais indicada em momentos em que se precisa de um maior detalhamento nas respostas dadas. 

No mercado Elias Mansour foram entrevistados 30 feirantes, pois este é um local com maior fluxo de produtores, totalizando 284, que trabalham em sistema de rodízio. Desta maneira, o espaço amostral foi definido na aplicação de questionário para 10 pessoas em cada rodízio (Tabela 1). Já nas outras feiras as bancas são ocupadas sem sistema de rodízio, então o espaço amostral foi reduzido, sendo selecionado 10 produtores no Mercado da Estação e 10 produtores na CEASA.

 

    1. Tabela 1. Quantitativo de pessoas entrevistadas 

Mercado Municipal Elias Mansour

Mercado Municipal Francisco Assis Marinheiro (Mercado da Estação)

Central de abastecimento de Rio Branco (CEASA)

30

10

10

TOTAL: 50 pessoas

Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

 

Os dados foram sistematizados e tabulados pelo método quantitativo em planilhas do tipo Excel e a discussão dos resultados será explicitada em gráficos de modo que estes sejam apresentados de uma maneira clara e objetiva.

A pandemia Covid-19 gerou diversos transtornos na economia mundial e não foi diferente com os feirantes da agricultura familiar. Estes produtores rurais se caracterizam por possuírem pequenas propriedades agrícolas que destinam sua produção ao consumo próprio, a venda em feiras livres e para alguns programas de fomento governamental. Tendo de forma generalizada, uma economia com baixa geração de renda e lucro individual, mas que é fundamental para o abastecimento da mesa de muitos habitantes de Rio Branco (Silva et al., 2023).

Em relação a comercialização dos agricultores durante a pandemia, 82% dos entrevistados afirmaram terem comercializado seus produtos nas feiras municipais. Desta maneira, observa-se que mesmo nos períodos mais críticos e de maiores restrições da pandemia, os produtores permaneceram comercializando na feira livre, uma vez que a demanda no setor alimentício se manteve estável (Schneider et al., 2020).

A permanência da comercialização também foi identificada por Sanches; Martine e Conceição (2022), ao verificar que mesmo com todas as dificuldades relatadas, os agricultores familiares não cessaram a comercialização durante o período de isolamento, no entanto, apesar de permanecerem comercializando, os faturamentos foram reduzidos devido o isolamento social e a baixa demanda de consumidores.

Sobre os impactos da pandemia no processo de comercialização, verificou-se que a baixa demanda e a adaptação às exigências sanitárias foram as principais dificuldades relatadas pelos feirantes (Figura 1). Este fato pode estar relacionado com o risco para os consumidores de frequentar ambientes onde havia a possibilidade de aglomeração e que, com a falta de informação sobre os protocolos de higiene e adaptação ao atendimento, exigia o uso de equipamentos de proteção individual como máscaras, uso de álcool em gel e luvas, a fim de criar barreiras contra a contaminação, afastou os consumidores das feiras livres, inclusive os mais assíduos.

 

    1.  

       
      Figura
      1. Principais dificuldades enfrentadas pelos feirantes durante a pandemia. 

Fonte: Elaborado pela autora, 2022.

 

Este fato também se relaciona com a falta de informação a respeito dos mecanismos de contaminação da Covid-19. Fazendo com que a adaptação às exigências sanitárias tenha acontecido por imposição obrigatória, estabelecida em decreto estadual (Decreto nº 5.465, de 16 de março de 2020), e não pelo estreitamento do diálogo com estes grupos. E que, caso contrário, a formação desse diálogo poderia ter motivado uma consciência coletiva a respeito da necessidade da adoção dos mecanismos de proteção individual e da adaptação da infraestrutura da feira (Schneider et al., 2020). Essas ações poderiam dar uma direção diferente a comercialização dos agricultores em um momento em que também houve a valorização dos preços dos alimentos, como uma oportunidade de negócios para os agricultores, pois poderiam ter garantido a permanência da abertura das feiras livres como um serviço essencial no fornecimento de alimentos, assim como ocorreu nos supermercados e farmácias, durante a crise (Sousa, et al., 2021).

Também é notório que o impacto da pandemia em outras esferas, como no transporte público interestadual, prejudicou os agricultores com a redução da frota e da capacidade de passageiros (redução de 50%), o que prejudica os produtores que vêm de municípios vizinhos comercializar seus produtos nas feiras da capital. Esses impactos, em conjunto com a falta de diálogo entre as esferas governamentais e os agricultores, refletiu negativamente no estabelecimento de estratégias para minimizar os impactos da instabilidade financeira provocada pelo fechamento dos mercados. Desta maneira, ressalta-se a importância da feira e dos meios de locomoção públicos para o desenvolvimento econômico e social dos agricultores e como o fechamento destes locais impactou negativamente na segurança da renda familiar e na segurança alimentar, afetando a garantia de acesso a alimentos de alta importância nutricional em um período de crise na saúde pública (Acre, 2020; Gurgel et al., 2020).

Vale ressaltar que os agricultores não receberam instruções ou apoio por parte do poder público quanto a de que forma realizar a gestão da crise. Quanto a isso, Schneider et al. (2020) reforçaram a importância das ações públicas na minimização dos impactos negativos na produção, comercialização e na renda dos agricultores familiares, por meio do fornecimento de equipamentos de proteção individual, da reorganização das feiras livres, do investimento em novas tecnologias e estratégias para a comercialização direta, além da garantia de renda mínima e do fortalecimento/ampliação da compra institucional de alimentos.

A queda do faturamento neste período foi inevitável pela grande maioria. Em relação à estimativa de queda do faturamento, 41% dos entrevistados afirmaram ter tido até 50% de queda no faturamento mensal, enquanto 23% afirmaram que houve redução de faturamento abaixo de 50% (variando de 10% a 40% de perdas de renda); enquanto 23% afirmaram ter prejuízos que variam de 60% até a 90% de perda na renda. Além destes, 13% dos entrevistados afirmaram não ter tido perda de faturamento, isso se deu pelo fato que muitos feirantes permaneceram vendendo informalmente durante a restrição da comercialização.

Tais dados corroboram com a pesquisa de Sanches et al. (2022), que identificou que durante a pandemia os agricultores familiares tiveram dificuldades relacionadas a perda de valor comercializado, por conta do não funcionamento das feiras. Além disso, notam-se perdas que reduziram significativamente o rendimento médio dos feirantes.

Esta é uma realidade vivenciada de maneira semelhante pelos feirantes de Rio Branco - AC, que apontaram a queda do faturamento como principal efeito negativo da pandemia. Este efeito ocorreu por conta das restrições impostas pelo Decreto nº 5.465, de 16 de março de 2020, que suspendeu a comercialização em feiras livres na cidade de Rio Branco, sendo a suspensão vigorada por 42 dias por meio de prorrogações.

Mesmo as feiras que não foram suspensas durante a pandemia sofreram impactos por causa da diminuição da clientela, inclusive dos clientes fixos, o que prejudicou o desempenho das receitas das vendas. Como estratégia para diminuir o impacto financeiro, muitos produtores adotaram a estratégia de oferecer descontos nos produtos no terceiro dia da feira, porém, isso diminuiu o rendimento dos agricultores (Oliveira e Lavarda, 2023).

É importante salientar que, mesmo após a reabertura da comercialização na feira, devido ao isolamento social, o público da feira reduziu drasticamente por causa do temor da população em contrair o vírus, fazendo com que mesmo com o mercado reaberto, os agricultores não conseguissem comercializar suas mercadorias como no período anterior a Covid-19 (Sanches et al., 2022; Santos et al., 2022; Silva e Silva, 2022; Sousa et al., 2021; Zanini e Fariña, 2021).

Quanto a fonte de renda dos feirantes durante a suspensão das feiras, foi identificado que 47% tiveram o auxílio emergencial como fonte de renda. O auxílio emergencial foi criado pelo Governo Federal com o intuito de mitigar a fome e a pobreza, e assegurar a manutenção das necessidades básicas diária para desempregados, autônomos e trabalhadores formais e informais que ficaram impossibilitados de desenvolver suas atividades e não são beneficiários de outros programas de transferência de renda durante a pandemia.

O auxílio emergencial foi fundamental para minimizar os efeitos econômicos da pandemia para a parte mais vulnerável da população, servindo de proteção social aos trabalhadores informais. No entanto, embora este auxílio tenha permitido o cumprimento do isolamento social, dando subsídio para satisfazer parte das necessidades básicas das famílias, nem todos os feirantes agricultores receberam o atendimento emergencial, apontando uma baixa participação da população rural no acesso ao benefício (Cardoso, 2020; Santos et al., 2022).

No Brasil, embora a principal iniciativa adotada pelo Governo Federal tenha sido o repasse financeiro para os mais pobres, foram observadas dificuldades para acessar o auxílio emergencial: uma refere-se à exigência da realização de um cadastro on-line para obtenção do benefício, embora 26% dos brasileiros ainda não tenham acesso a tecnologias da informação e 16% dos analfabetos ou com baixa escolaridade não usem a internet. Igualmente, 46 milhões de brasileiros vivem sem conta bancária, acesso à internet e Cadastro de Pessoa Física (CPF) ativo, não sendo possível acessar aplicativos ou sacar o dinheiro em bancos (Gurgel et al., 2020).

Desta maneira, nota-se que é de suma importância a assistência específica a grupos em maior situação de vulnerabilidade social. No entanto, é necessário que essas políticas sejam compatíveis com as diferenças socioterritoriais. Inclui-se também o estreitamento do diálogo das entidades governamentais com estes grupos, para que se construam articulações políticas compatíveis com as reais necessidades do setor primário.

Quanto as estratégias de comercialização, durante a pandemia, 76% dos entrevistados não adotaram nenhuma estratégia alternativa de vendas. Este fato pode estar ligado a uma série de fatores, como desconhecimento sobre o manuseio de plataformas digitais e a rápida reabertura da feira para o comércio, após 42 dias. Tendo em vista os efeitos da pandemia, Costa (2020) verificou um aumento de 79% em relação as compras on-line de alimentos e bebidas. No entanto, a compra de alimentos in natura ou minimamente processados não está na mesma estatística. Embora esta mudança de consumo do mercado possa ser um aspecto de oportunidade para agricultura familiar, tem-se a necessidade de adaptação e adequação, por parte dos agricultores, ao uso dessas tecnologias. Contudo, destaca-se que os agricultores estão cada vez mais se inteirando do mundo tecnológico para não se distanciar do mercado (Schneider et al., 2020).

Quanto a incorporação da Tecnologia da Informação no cotidiano de trabalho dos agricultores, de acordo com Deponti et al. (2020), verificou-se que os agricultores familiares, embora utilizem tecnologias como internet, celular e computador, estas ainda não permitem a alteração do seu modelo de gestão no estabelecimento rural e na comercialização. Neste sentido é fundamental para a autonomia de seus negócios, e para o aumento do poder de decisão, o repasse de conhecimento sobre a manipulação dessas tecnologias de maneira apropriada, com informações necessárias para o uso aplicado de plataformas direcionado ao processo de gestão, empreendedorismo e marketing.

Por outro lado, 24% afirmaram que usaram as estratégias de venda a domicílio concomitante com a venda por aplicativo de mensagem. Estes indicadores demonstram que, aos poucos, os agricultores familiares estão se habituando ao uso da Tecnologia da Informação para ofertarem seus produtos e articularem suas vendas. Também se notou a mudança do hábito de pagamento através do uso do pix, maquinetas de cartão e venda de produtos com entrega em domicílio: delivery (Schneider et al., 2020). Em síntese, os resultados indicam que a inovação da estratégia de venda foi fundamental para a continuidade da agricultura familiar durante a pandemia que, por meio das transformações tecnológicas, conduziu os feirantes a adaptação às novas demandas do mercado para que pudessem ofertar alternativas para a comercialização dos seus produtos.

Aos feirantes que afirmaram “utilizar novas estratégias de comercialização”, quando questionados se antes da pandemia eles já faziam uso destes métodos, 69% responderam que “não” utilizavam esses mecanismos e que a adoção dessas estratégias foi motivada pela crise. Enquanto 31% afirmaram que “sim”, já utilizavam estes meios para comercialização, principalmente a divulgação nas mídias sociais, mas que em decorrência da pandemia seu uso foi intensificado.

É evidente que os produtores buscaram mecanismos de adaptação das vendas, mas a adesão destas estratégias de comercialização ainda é incipiente entre os feirantes por causa da falta de habilidade com o uso de tecnologias e que se faz necessário: “ajuda de fora” por parte órgãos e entidades governamentais na formação destes produtores nas áreas conhecimento sobre gestão, empreendedorismo e estratégias de comercialização. Também foi observado que todas as estratégias citadas foram manifestadas de forma individualizada, desfavorecendo iniciativas associativas de marketing e comercialização.

A este respeito, Sousa et al. (2021) afirmam que o processo do uso de tecnologias não é o suficiente para o desenvolvimento da agricultura familiar quando o componente organizacional não é fortalecido. Desta maneira, a construção de discussões acerca do empreendedorismo coletivo é fundamental para que este processo de transformação promova, aos agricultores, estímulos e iniciativas de ordem coletiva para melhoria da qualidade de vida, para gerar mais oportunidades de renda e despertar para novas habilidades e novos conhecimentos.

A restrição da comercialização e a redução do faturamento foram os efeitos da pandemia mais evidenciados nesta pesquisa, principalmente por este ter sido um período em que os alimentos aumentaram o preço, prejudicando a oportunidade de faturamento dos agricultores familiares em seus negócios, como também a baixa demanda, ocasionada pelo isolamento social, foi preponderante para a queda do faturamento. Também se concluiu que os feirantes implementaram estratégias de venda principalmente por meio das mídias sociais.

AGRADECIMENTO

Agradeço ao Instituto Federal do Acre por oportunizar a realização desta pesquisa, em especial a direção do curso e a minha orientadora que não mediu esforços para alcançarmos o resultado desta pesquisa.

Copyright (©) 2024 - Raiury Santos da Silva, Norma Giovanna da Silva Pereira Plese

 

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Revista Brasileira de Agroecologia
ISSN 1980-9735

Publicação da Associação Brasileira de Agroecologia - ABA-Agroecologia em cooperação com o Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural - PPG-Mader, da Universidade de Brasília – UnB

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