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Mon, 06 Dec 2021 in Linhas Críticas
Estudos e contribuições de Martha Nussbaum para a educação
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A coletânea “Leituras sobre Martha Nussbaum e a Educação” (Fávero et al., 2021a), publicada pela editora CRV e organizada por Altair Alberto Fávero, Carina Tonieto, Evandro Consaltér e Junior Bufon Centenaro, tem como objetivo discutir a educação a partir do pensamento de Martha Nussbaum. A obra, composta por 18 capítulos, aborda o papel da educação para o fortalecimento da democracia, para o desenvolvimento humano, para a promoção das capacidades humanas e da justiça social global.
O primeiro capítulo, intitulado “Políticas públicas e a efetivação das capacidades humanas: o papel central da educação”, de autoria dos organizadores da coletânea, apresenta o enfoque das capacidades de Nussbaum como uma potente perspectiva para fundamentar as políticas públicas de educação orientadas para o desenvolvimento humano (Fávero et al., 2021b).
No capítulo, “El revés de la cultura: el desvelo de las capacidades humanas y género”, López e Roman (2021) discutem o pensamento e as contribuições de Nussbaum sobre seu espírito de justiça, desenvolvimento humano quanto à possibilidade de “focar no que as pessoas realmente são capazes de fazer e ser”, a dignidade e o conceito de liberdade, não só de gênero, mas das pessoas com deficiência e até da vida dos animais.
Constituindo o terceiro capítulo da coletânea, o texto “Enfoque do desenvolvimento humano na construção de políticas educacionais com foco nas capacidades”, de Fávero et al. (2021c), debate em que sentido o enfoque teórico do desenvolvimento humano pode ampliar o conjunto informacional para a tomada de decisões e a construção de políticas educacionais centradas nas capacidades humanas.
O capítulo “A abordagem das capacitações (capabilities) e a educação para a liberdade”, escrito por Zambam e Martinelli (2021), elucida que a ampliação das capacitações (capabilities) por meio da educação possui um significado simbólico, potencial e efetivo de inclusão das pessoas nos espaços de participação e decisão de forma progressiva. Aborda a temática a partir das pesquisas empíricas de Amartya Sen e Martha Nussbaum, descrevendo que a superação das desigualdades e injustiças se encontra na ampliação das capacitações, por meio do acesso à educação como referencial seguro e duradouro.
De Fávero et al. (2021d), o capítulo “Direitos fundamentais e a justiça: a dimensão ética e política da teoria das capacidades” objetiva compreender como se articulam os direitos fundamentais com o princípio da justiça social. Para os autores, desenvolver o trabalho a partir das capacidades proporciona uma ordenação correta dos resultados alcançados em matéria de desenvolvimento, pois oferece bases teóricas e práticas para as políticas públicas e orienta para uma educação para a dignidade humana e o exercício dos direitos.
O sexto capítulo, “A educação democrática em Nussbaum e a educação libertadora em Freire: relações e aproximações”, de Pinheiro e Sartori (2021), articula os olhares sobre a educação democrática e a educação libertadora, compreendendo que a abordagem crítica que perpassa as ideias fundamentadas por Nussbaum e Freire fortalece a indignação e o inconformismo pelo desprestígio da área das humanidades.
Intitulado “A função política da palavra para a formação do sujeito no mundo na visão de Nussbaum e Freire”, o sétimo capítulo, de Silveira et al. (2021), debate a função política do uso da palavra como mediadora para a leitura do mundo em tempos em que o contexto social perpassa por distintas transformações e evidencia a relevância da escola e dos atores educacionais para a formação humana.
Na sequência, o oitavo capítulo, “Interculturalidade e cidadania universal: o papel imprescindível das humanidades na perspectiva de Nussbaum”, de Fávero et al. (2021e), analisa o papel imprescindível das humanidades como pavimentação para a constituição de uma educação intercultural e a promoção de uma cidadania universal. Além disso, também debate a importância das humanidades enquanto preceptoras da cidadania universal, ou ainda, do cidadão do mundo no cenário contemporâneo.
O capítulo “Emoções, vulnerabilidade e educação para um ethos democrático em Martha Nussbaum” escrito por Cenci et al. (2021), discute uma adequada educação das emoções voltada para a constituição de um ethos democrático que precisa considerar a problemática da vulnerabilidade humana. Os autores abordam a teoria das emoções de Nussbaum visando problematizar a necessidade de bem orientar emoções como repugnância e a vergonha primitiva para dar conta da educação voltada para o ethos democrático.
O décimo capítulo, “Educação das emoções e formação humana: a imaginação narrativa na perspectiva de Nussbaum”, é assinado por Fávero et al. (2021f) e analisa de que forma a educação das emoções e a imaginação narrativa podem se tornar potencialmente produtivas para construir uma concepção alargada de formação humana.
De autoria de Leite et al. (2021), o décimo primeiro capítulo, “Mulheres e educação: contribuições de Martha Nussbaum e as práticas escolares no Brasil”, realiza um debate sobre as relações desiguais entre homens e mulheres, bem como a formação educativa voltada às mulheres e ao seu papel potencializador dos processos de emancipação feminina.
O capítulo seguinte, “Justiça, democracia e humanidades: reflexões para o ensino superior”, de Copatti et al. (2021), discute como a mesma lógica identificada por Nussbaum em distintos países é reproduzida no contexto brasileiro. O texto enfatiza os currículos nas universidades, os tipos de pesquisa que passam a ser priorizadas para o desenvolvimento econômico e as implicações do empobrecimento do ensino das humanidades no desenvolvimento humano.
Intitulado “Docência na educação superior e as capacidades humanas em Nussbaum: para além da profissionalização e do pragmatismo economicista”, o décimo terceiro capítulo é assinado por Pagliarin et al. (2021). As autoras discutem os desafios da docência na Educação Superior no sentido de promover uma formação humana que preserve os princípios democráticos e de cidadania. Para tal, utilizam como referencial autores que pesquisam o contexto da Educação Superior e da crise global, especialmente relacionados ao conceito basilar da teoria das capacidades defendida por Nussbaum.
O décimo quarto capítulo, “O pensamento de Martha Nussbaum na pesquisa Educacional Brasileira: revisando teses e dissertações”, de Centenaro e Santos (2021), apresenta um panorama da forma como a teoria de Nussbaum vem sendo adotada na pesquisa educacional brasileira. Os autores apontam que Nussbaum tem se destacado internacionalmente por suas pesquisas e escritos sobre desenvolvimento humano, direitos das mulheres, abordagem das capacidades humanas, humanidades e qualidade da democracia, entre outros temas de filosofia e de ciências sociais.
Com o título “A produção de conhecimento voltado para o mercado e a crise das humanidades: uma análise da Portaria MCTIC n. 1.122 a partir de Martha Nussbaum”, o capítulo de Bechi et al. (2021) aponta os problemas e consequências do baixo investimento nas áreas de pesquisa das humanidades a partir de Nussbaum. Os autores trazem a análise da Portaria articulada aos problemas levantados por Nussbaum referentes às fontes de financiamento para as humanidades.
Por sua vez, o décimo sexto capítulo, “A meritocracia que reforça a desigualdade: crítica às ‘medições’ em Educação à luz da Teoria das Capacidades” é escrito por Fávero et al. (2021g), que discutem de que forma a ideia de meritocracia na educação reforça a desigualdade e evidenciam, com base na ideia de medição enquanto obstáculo epistemológico, como ela pode reduzir avaliações que utilizam um único dado mensurável que, em tese, deveriam ser profundamente discutidas e analisadas a fim de contemplar todas as esferas da vida.
O capítulo “Algumas indicações de convergências e divergências nos conceitos de formação humana entre as tradições da paideia, da bildung e os desafios da atualidade em Martha Nussbaum” é escrito por Rocha e Madaloz (2021) e aponta que a educação, juntamente com seus processos formativos e objetivos pretendidos, é fonte de debates no mundo todo. Para os autores, um grande problema educacional na contemporaneidade é conciliar as exigências da especialização, cada vez mais requerida, com a necessidade de uma formação humana mais ampla.
Por fim, o último capítulo, “A filosofia e a pedagogia socrática como princípio educativo para o fortalecimento de capacidades humanas”, de autoria de Fávero et al. (2021h), problematiza os perigos de um currículo possuidor de uma racionalidade lucrativa e instrumentalizadora da formação das capacidades humanas. Também indica a filosofia e a pedagogia socráticas como princípios educativos capazes de promover o fortalecimento das liberdades, entre elas, a de pensamento.
De modo geral, a coletânea problematiza temáticas atuais e importantes para serem debatidas no âmbito educacional. O conjunto de capítulos apoiados na leitura de Martha Nussbaum apresenta a educação como base fundamental para a formação de uma sociedade democrática, autônoma e livre. Mostra o papel das humanidades no desafio de tornar os sujeitos críticos, reflexivos e cidadãos do mundo, através de uma perspectiva de educação para a sensibilidade e com a capacidade de compreensão das diferenças. Dessa forma, recomendamos essa coletânea para todas as pessoas que lutam por uma educação humanizadora, de qualidade e acessível a todos.
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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons CC BY 4.0.
Author
Lidiane Limana Puiati Pagliarin
Doutora em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF) (2020). Professora da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Erechim. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (GEPES/UPF)., Brasil
Author
Antônio Pereira dos Santos
Mestrando em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Bolsista CAPES/PROSUC I. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (GEPES/UPF)., Brasil
Author
Julia Costa Oliveira
Graduanda em Licenciatura em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-CNPq). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (GEPES/UPF)., Brasil