Geo(bio)travessias de professoras universitárias de contextos rurais: memoriais acadêmicos em diálogos
Geo(bio)travesías de profesoras universitarias de contextos rurales: memoriales académicos en diálogos
Geo(bio)crossings of university professors from rural contexts: academic memoirs in dialogues
Simone Ribeiro Santos, Elizeu Clementino de Souza
Destaques
Geo(bio)travessias de três professoras universitárias, oriundas de contextos rurais, a partir das narrativas.
Geo(bio)travessias corresponde a um conceito elaborado por (Oliveira, 2017) para se referir às mobilidades geográficas.
Através dos memoriais acadêmicos, é possível identificar os elementos identitários da pessoa do professor.
Resumo
Este texto tem duas intenções: evidenciar a importância do memorial acadêmico como fonte de informações possíveis de serem exploradas porque retrata a arte profissional da pessoa tecer uma figura pública de si; e mapear as geo(bio)travessias de professoras universitárias oriundas de contextos rurais. Os princípios teórico-metodológicos desta escrita ancoram-se na pesquisa (auto)biográfica, tendo o memorial acadêmico de três professoras como fonte de investigação. Os memoriais revelam informações sobre como se constituíram professoras/pesquisadoras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e sobre as suas mobilidades geográficas, socioeconômicas e culturais, a partir de suas geo(bio)travessias.
Palavras-chave
Memoriais acadêmicos. Professoras universitárias. Contextos rurais.
Recebido: 28.03.2023
Aceito: 06.07.2023
Publicado: 07.08.2023
DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202347828
Primeiro episódio: o enredo desta escrita
Esta escrita intenciona evidenciar a importância do memorial acadêmico como fonte de informações possíveis de serem exploradas porque retrata a arte profissional da pessoa tecer uma figura pública de si. Além disso, este texto também tem como objetivo mapear as geo(bio)travessias de três professoras universitárias, oriundas de contextos rurais, a partir das narrativas impressas nos memoriais acadêmicos, os quais foram submetidos aos processos de seleções em programas de pós-graduações e de concurso público docente em uma Instituição de Ensino Superior (IES).
É válido salientar que as escritas dos memoriais (Reis & Souza, 2021), sejam eles acadêmicos ou de formação, possibilitam a pessoa que escreve sobre si, autoformar-se pela narrativa, bem como permite ao leitor exercitar a hermenêutica e conjecturar possíveis objetos de pesquisa a partir das informações contidas nos memoriais.
Dentre as informações contidas em um memorial acadêmico, ele pode revelar como a pessoa se constituiu professor(a) e se tornou pesquisador(a) na área de educação, sobretudo a partir das geo(bio)travessias narradas1. Este texto apresenta fragmentos das histórias contadas por três professoras universitárias, oriundas de contextos rurais, cujas histórias de vida iniciaram no espaço rural, estudaram em escolas multisseriadas, realizaram mobilidades geográficas, socioeconômicas e culturais para se constituírem professoras doutoras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), uma instituição pública multicampi. Os critérios estabelecidos para a escolha desses memoriais acadêmicos se justificam pelo fato de as autoras serem oriundas do espaço rural, de suas histórias de vida serem marcadas pela forte presença de seus pais, por terem escolhido a profissão docente ainda no período de escolarização e seus objetos de pesquisas no mestrado e/ou doutorado estarem relacionados às suas itinerâncias pessoais e formativas. Desse modo, justifica-se a utilização dos excertos narrativos nesta escrita, retirados dos memoriais acadêmicos das professoras colaboradoras da pesquisa de (Oliveira, 2017).
A noção de Geo(bio)travessias corresponde a um conceito elaborado por (Oliveira, 2017) para se referir às mobilidades geográficas, sociais e culturais experienciadas pelos sujeitos no decurso de uma vida, indicando os lugares (geo), os modos como a vida foi tecida (bio) e as itinerâncias sociais, geográficas e culturais experienciadas (travessias). Portanto, as geo(bio)travessias podem ser classificadas por vários tipos – de situações de risco, de vulnerabilidade (social, econômica e civil), de gênero, de idade, dentre outras situações – por abranger diferentes histórias de pessoas inseridas em diversos contextos, como por exemplo sujeitos que vivem em áreas violentas, de adversidades climáticas e sociais, que vivem em regiões periféricas e de difícil acesso, mas que mudaram suas vidas através do investimento pessoal possibilitado pelo acesso à educação. Nesta escrita, nos reportaremos às geo(bio)travessias de professoras universitárias, oriundas de contextos rurais, cujas histórias são reportadas em seus memoriais acadêmicos.
Embora este texto se reporte às histórias narradas nos memoriais acadêmicos, vale enfatizar que, além dele, há outra tipologia de memorial, o de formação, pois de maneira geral, os memoriais podem ser classificados por esses dois tipos – formação e acadêmico –, os quais são modelos de escritas autobiográficas que revelam os modos “[...] discursivos constituídos pelos sujeitos em suas dimensões histórico-sociais e culturais numa interface entre a memória e o discurso de si.” (Souza, 2008, p. 122), cujas escritas revelam histórias de vida, de formação, de profissão.
Para Câmara e Passeggi (2013, p. 35), os memoriais acadêmicos são aqueles que se constituem como “[...] escritas de si elaboradas por professores e pesquisadores para fins de concurso público, ingresso ou ascensão funcional na carreira docente ou outras funções em instituições de ensino superior e de pesquisa”. Já os memoriais de formação são aqueles “[...] escritos durante o processo de formação inicial ou continuado, e concebido como trabalho de conclusão de curso no ensino superior, [...] acompanhado por um professor orientador” (Câmara & Passeggi, 2013, p. 35).
O memorial acadêmico é considerado um gênero textual (auto)biográfico no qual o autor – professores, pesquisadores, graduandos e pós-graduandos – ao narrar sobre sua história de vida intelectual e profissional, reflete sobre o que foi significativo em sua formação, problematiza o vivido e o experienciado e se reinventa porque “[...] o autor se (auto)avalia e tece reflexões críticas sobre seu percurso intelectual e profissional” (Passeggi, 2008a, p. 53), pois o memorial é “[...] antes de tudo, um espaço-tempo de tensões contraditórias: o da injunção de falar de si e o da sedução de se reinventar pela narrativa” (Passeggi, 2011a, p. 20).
A escrita do memorial (Passeggi, 2021) acompanha a trajetória da universidade brasileira e vem se modificando com ela, adaptando-se às situações sócio-históricas nas quais se inscrevem e se institucionalizou como dispositivo de avaliação nos anos de 1930, ao ser utilizado como dispositivo avaliativo para o provimento do cargo de professor catedrático, mas sua fase de expansão se deu mesmo em 1980 “[...] com a redemocratização do país, como dispositivo de (auto)avaliação nos processos de ingresso no magistério superior e ascensão funcional” (Passeggi & Barbosa, 2008, p. 16) e sua fase de diversificação ocorreu, a partir de 1990, quando passou a ser utilizado como dispositivo de reflexão na formação inicial e continuada de professores, intensificando-se nos anos 2000 com a diversidade de objetos de pesquisa na área de educação.
Então, a escrita de memoriais, sobretudo os acadêmicos, constitui-se como uma arte profissional de tecer uma figura pública de si e de desvelar-se para o outro, ao possibilitar o sujeito refletir sobre o que viveu, rememorar suas geo(bio)travessias, recortar momentos de sua vida, narrar os percursos de formação, a vida familiar, sua escolarização, formação inicial e continuada, os lugares pelos quais passou, as mudanças culturais e econômicas que fizeram parte da história de vida e de formação, pois o memorial “[...] articula dialeticamente o privado e o público, o indivíduo e a sociedade” (Câmara & Passeggi, 2013, p. 29), cujas informações podem revelar itinerâncias geográficas, sociais e culturais pelas quais passaram a pessoa que escreveu o memorial e, ao narrarem seus percursos de vida e de formação tecem, desse modo, a arte de falar de si, articula seus modos de ser, de viver, de aprender e de se reinventar. Assim, os memoriais se constituem como uma fonte inesgotável de informações, como as geo(bio)travessias realizadas para a pessoa se constituir professor(a) e pesquisador(a).
Desse modo, através dos memoriais acadêmicos, é possível identificar os elementos identitários da pessoa do professor da UNEB, as geo(bio)travessias que realizaram para se constituírem profissionais docentes do quadro efetivo dessa instituição e pesquisadoras da área de educação, bem como as suas implicações com seus respectivos objetos de estudo/pesquisa, a partir do que narraram em seus memoriais acadêmicos.
Segundo episódio: geo(bio)travessias de professoras universitárias de contextos rurais
Partindo do pressuposto de que “[...] o professor tem uma história de vida, é um ator social, tem emoções, [...] uma cultura, [...] e seus pensamentos e ações carregam as marcas dos contextos nos quais se inserem” (Tardif, 2000, p. 15), os fragmentos dos memoriais acadêmicos apresentados neste texto (Oliveira, 2017) revelam muitos fatos e acontecimentos marcantes, os quais possibilitam conhecer as trajetórias e itinerâncias de professoras universitárias oriundas do espaço rural.
Os excertos das narrativas a seguir foram extraídos dos memoriais acadêmicos de três professoras universitárias2 – Pereira3, Faria4 e Santos5 –, que atuam em três departamentos da UNEB, cujas histórias revelam a injunção de falar de si, do que viveu e das geo(bio)travessias que realizaram para tecer uma figura pública de si, desvelando-se para o outro, uma vez que “Rememorar a vida acadêmica e profissional é refletir [...] sobre a [...] história de vida [...] uma história de [...] construção de identidades.” (Pereira, 2009, p. 2).
Tecer sobre a minha história de vida perpassa pela história pessoal/familiar. É uma história de letramentos, de subjetividades e de construção de identidades. É um histórico somado a outras histórias [...]. Ao descobrirem que eu já sabia ler e escrever, era sempre convidada por minha mãe para fazer cartas, bilhetes, anotações de interesse da família. Na verdade, meus pais entendiam a função social da escrita e a leitura na vida das pessoas. E agora, na pretensão de concorrer a uma vaga para o doutorado que apresento como objeto de estudo: histórias de vida dos estudantes da EJA e apropriação da leitura e da escrita: saberes sociais e saberes escolares. Sinto-me levada a falar um pouco da minha trajetória de infância no tocante as experiências de aprendizagem da leitura e da escrita, porque aprendi a ler e a escrever antes de chegar à escola. [...] Meu pai ficou órfão de mãe enquanto era criança e aprendeu a ler de uma forma extraordinária, ‘um letramento à margem da sociedade’, um letramento funcional, ideológico, mas que não era legitimado pela escola. O meu avô era um comerciante e viajava muito pelas feiras vendendo feijão. E meu pai não teve acompanhamento educacional. A sua madrasta não ligava para ele. E ele desejava muito ir para a escola. Então, por conta disso, ele comprou um ‘ABC6’ e ficava esperando os colegas saírem da casa de uma senhora professora que dava aula particular em sua casa para as crianças daquela comunidade rural, lá em ‘Baixa Preta’, município de Sátiro Dias-BA. E, meu pai ficava na estrada esperando os colegas saírem da escola para ensinar a ‘lição do dia’. E, foi assim que aprendeu a ler e a escrever. Depois que começou a trabalhar foi para a escola e conseguiu superar parte das dificuldades. [...] Meu pai repetiu a sua história comigo quando logo cedo comprou um ‘ABC’ para mim e ensinou as primeiras lições ‘duras’ da alfabetização escolar, recheada de castigos e cópia sem sentido e intermináveis. Hoje compreendo que esse comportamento se traduzia em proteção, para minimizar o processo de perda e dor. Na verdade, ele queria que eu chegasse à escola já sabendo ler e escrever [...]. (Pereira, 2009, pp. 2-4)
Assim escreveu a professora Pereira (2009) em suas primeiras linhas do memorial acadêmico. Ela inicia seu memorial se reportando à importância da escrita desse dispositivo reflexivo e avaliativo que se configura em uma injunção de falar de si para tecer reflexões sobre o objeto de pesquisa que fora apresentado à seleção de doutorado, no ano de 2009, justificando que o objeto de pesquisa tem relação direta com a história de letramento familiar. Esse excerto de sua narrativa deixa claro o quanto muitos objetos de pesquisa podem emergir das histórias que constituem a vida de uma pessoa, bem como das itinerâncias vividas.
Esse excerto da professora Pereira (2009) demarca o lugar de seu pai nos seus percursos de escolarização, na escolha da profissão e de sua condição de pesquisadora na área de educação, principalmente no que se refere aos processos de alfabetização de adultos e idosos, objetos estes que foram investigados nos seus estudos de mestrado e de doutorado no PPGEduC da UNEB. Isso fica claro quando afirmou que seu pai repetiu a história dele com ela, quando comprou uma cartilha de ABC e lhe ensinou as primeiras lições recheadas de castigos e cópias intermináveis para ela aprender a ler e escrever antes de ir para escola.
Mulher, negra, nordestina e professora, nascida em 1972, em Capanema, distrito do município de Maragogipe, Recôncavo Baiano, sendo ainda a mais velha de quatro filhos, posso dizer que tive uma infância feliz e fui criada com muito carinho e desvelo dos meus pais. Mesmo com tantos afazeres, meu pai e minha mãe não se descuidavam de nós. Ambos, de origem pobre, queriam proporcionar aos filhos tudo àquilo que não tiveram na infância. Eles não concluíram o ensino fundamental. [...]. Desde muito cedo ouvia sobre a necessidade e importância da leitura e da escrita no contexto social. Na concepção dos meus pais, a educação escolar sempre foi primordial na vida dos filhos. Aos cinco anos fui alfabetizada em casa por meu pai, brincávamos de ensinar e aprender. No período de minha inserção na escola regular já sabia decodificar as palavras. A minha primeira escola era uma típica escola da roça [...] sem infraestrutura adequada, sem cadeiras e carteiras suficientes e sem livros [...] não havia merenda escolar e, muitas vezes, compartilhávamos o lanche com alguns colegas que não levavam [...]. Aos oito anos de idade vivi um dos momentos mais significativos da minha vida, saímos de Capanema, distrito de Maragogipe, e viemos morar em Salvador. Meu pai havia adoecido e precisava submeter-se a uma cirurgia de alta complexidade. Estávamos em meados do ano de 1980 e não havia condições de entrar na escola. Diante da situação, minha mãe nos colocou num reforço escolar e sempre que podia nos levava à creche para a qual ela havia sido transferida para trabalhar. […]. Entre 1983 a 1989 estudei numa escola pública tida como referência, o Colégio Polivalente do Cabula. Este foi um período importante da minha vida […]. Muitas amizades foram construídas e aprendizagens significativas foram internalizadas, sendo uma delas, acreditar que existe espaço e possibilidade de (re)construir uma escola pública preocupada com a emancipação humana. (Faria, 2009, pp. 2-3)
A professora Faria (2009) iniciou o seu memorial se reportando às suas características identitárias, à mulher negra que é, de família pobre, oriunda de um contexto familiar de baixo capital cultural letrado, que necessitou realizar um movimento migratório muito cedo, ainda na infância, por causa de um tratamento de saúde do pai. Nesse fragmento narrativo, a professora também demarca a importância dos pais na condução da formação escolar e nos permite articular com as afirmações de Lahire (1997) quando diz que o sucesso escolar de crianças e jovens, das classes populares, decorre do incentivo dado pela família durante os percursos e processos de escolarização de seus filhos e, consequentemente, isso se reverbera no sucesso profissional dos professores protagonistas das histórias que compõem o enredo desta escrita.
As histórias narradas pelas professoras Faria (2009), bem como por Pereira (2009), enfatizam a importância dos pais e do apoio familiar, sobretudo nos primeiros anos de formação escolar, pois, segundo Lahire (1997, p. 29), “Os efeitos sobre a escolaridade da criança podem variar segundo as formas para incitar a criança a ter ‘sucesso’ ou a estudar para ter ‘sucesso’, segundo a capacidade familiar de ajudar a criança a realizar os objetivos que lhe são fixados”.
Nasci e vivi até aos dezoito anos numa comunidade denominada Saco do Capim, situada na zona rural do município de Irará, estado da Bahia. Lá vivenciei as conflituosidades inerentes ao espaço agrário brasileiro: disputa por terras; concentração fundiária; privatização dos recursos naturais; valorização da cultura urbana; relação de poder de mando e coerção dos latifundiários sobre os camponeses; preconceito espacial, sociocultural e racial. [...]. Ingressei na escola no ano de 1982, no meio do mesmo ano completei sete anos. [...] Todo o meu ensino fundamental foi ministrado por professores leigos […]. No ano de 1987 ingressei no curso de magistério, numa escola situada na sede do município. Sofri o preconceito de ser oriunda de escola da zona rural e moradora do campo. No entanto, foi neste mesmo período que passei a entender que a condição de negra, pobre, camponesa e que moradora de casa de barro não seria motivo de me envergonhar e de me senti inferior aos outros. Aprendi isto nas aulas de Geografia e no contato com a Teologia da Libertação via Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, especificamente nos movimentos da Pastoral da Terra. (Santos, 2009, pp. 2-3)
Do mesmo modo que a professora Faria (2009), a professora Santos (2009) inicia seu memorial também com elementos identitários, ao afirmar que é negra, oriunda de uma comunidade camponesa, de uma família com baixo capital econômico e cultural letrado e que sofreu preconceitos quando migrou da escola rural para a urbana para dar continuidade aos seus processos de escolarização. Esses elementos identitários resultam de uma construção temporal, mediada pelas relações sociais estabelecidas no lugar de vivência dos sujeitos, pois toda identidade social é, também, uma identidade territorial porque é “[…] definida fundamentalmente através do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta, o espaço geográfico constituindo assim parte fundamental dos processos de identificação social” (Haesbaert, 1999, p. 172).
Desse modo, podemos afirmar que as identidades das professoras – Pereira, Faria e Santos – decorrem de “[...] uma construção histórica e relacional dos significados sociais e culturais que norteiam o processo de distinção e identificação de um indivíduo ou de um grupo” (Cruz, 2007, p. 15). Ou seja, suas identidades resultam de uma construção inacabada, aberta e que está em movimento, que ocorre na sociedade estando em curso e se realizando constantemente.
A partir desses fragmentos narrativos, recolhidos nos memoriais dessas professoras, constatamos que a identidade, além de múltipla, é também fragmentada, pois um mesmo sujeito e os grupos sociais possuem não somente uma, mas várias expressões identitárias, vivendo num único território – o baiano – cujas relações locais e regionais, englobam diferentes e singulares modos de ser e de viver, como o de ser negro, marisqueiro, vaqueiro, quilombola, campesino e nordestino, dentre tantos outros modos porque não é algo pronto, acabado, hierárquico, superior ou inferior, único e imutável, e sim, dinâmico, processual porque é diferente, cultural, simbólico e complexo.
Apesar das professoras Pereira (2009), Faria (2009) e Santos (2009) terem nascido em espaços geográficos diferentes – Sátiro Dias (BA), Maragogipe (BA) e Irará (BA), respectivamente – e fazerem parte do quadro efetivo docente da UNEB de diferentes departamentos – campus II, em Alagoinhas; campus XIV, em Conceição do Coité; e campus XI, em Serrinha – e possuírem formações acadêmicas diversas – licenciada em Letras Vernáculas, licenciada em Pedagogia e licenciatura em Geografia –, elas possuem elementos identitários convergentes, como ser da roça, ter vivido e estudado em contextos rurais, migrado para a cidade para dar continuidade aos processos de escolarização e terem escolhido o curso de magistério como profissão, ainda na escola. Elas retrataram, também, em seus memoriais acadêmicos, elementos singulares em suas histórias, como a forte presença dos pais em suas vidas, as dificuldades encontradas durante seus processos de escolarização, as professoras charneiras que tiveram, as mobilidades geográficas vinculadas à formação inicial e continuada e os modos de ser docente e as implicações de suas histórias de vida e de formação com os objetos de pesquisas acadêmicas que têm efetivado.
Sobre essas e outras questões, sobretudo envolvendo os percursos e as geo(bio)travessias realizadas, a professora Pereira disse:
Terminei o curso de Magistério ou Normal em 1985, no antigo Colégio de Alagoinhas […], naquele tempo o magistério só era oferecido em colégios particulares. Em 1986, iniciei as minhas atividades de uma docente ‘concursada’ pelo primeiro concurso da Prefeitura de Alagoinhas, em março de 1986, e fui lecionar na Escola Ângelo Magalhães, distrito de Riacho da Guia, povoado de Quizambu, ali iniciei minha experiência de professora alfabetizadora [...]. Bem, como alfabetizadora aprendi muito com meus alunos, como também tive que ir buscar outros conhecimentos para então construir outros saberes juntamente com aquelas crianças. O curso de magistério não preparava as alunas para alfabetizar crianças e adultos. [...] E me deparei com uma turma que precisava alfabetizar [...]. De 19 alunos, consegui alfabetizar 14 alunos. Naquela turma, percebi os desafios que teria de enfrentar com a pouca experiência ou quase ‘nada’. Tive que aprender a aprender. Lembro-me que naquela época já me questionava sobre alfabetização e letramento escolar, porém a palavra ‘letramento’ ainda não existia. E conheci as obras de Paulo Freire e comecei a me despertar para uma professora/educadora militante e comecei a participar de movimentos sociais [...]. Para trabalhar com alfabetização de adultos, fiz um curso de capacitação para professores alfabetizadores de adultos, oferecido pela UNEB – Campus II […]. Esse curso foi de grande valia porque pude transformar parte dos conhecimentos aprendidos, construindo outros saberes para, então, atender às necessidades individuais e coletivas daqueles alunos operários, donas de casa, vendedores ambulantes, empregadas domésticas e alunos excluídos do diurno [...]. Com os alunos adultos percebi que o maior desejo deles era ler, escrever e aprender a resolver as quatro operações da matemática. Percebi que o desejo daqueles alunos estavam além da escola. A leitura e a escrita tinham outras funções que extrapolavam os limites da escola. Aqueles alunos queriam reconstruir suas identidades, buscando um referencial que era o aprender a ler e a escrever, bem como resolver as questões do letramento matemático e letramento social e plural. Aqueles alunos da EJA não queriam apenas se alfabetizar, seus desejos extrapolavam a decodificação e codificação. Apaixonei-me pelo curso de Letras, apesar dos entraves do próprio currículo. Tive o prazer de ser aluna da Professora Stella Rodrigues [...] no segundo semestre [...], elaboramos projetos, fizemos pesquisa e por fim, uma monografia que versava sobre Evasão e Repetência Escolar. Naquela pesquisa fiz entrevistas com alunos e professores para entender as causas dessas duas questões tão assustadoras que incomoda a todos [...]. Terminei a graduação em 1996 e em 1997 ingressei no curso de Pós-Graduação (Latu Sensu) de Linguística aplicada ao ensino da Língua Portuguesa na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), e conclui em 1998 [...]. Em 2004, prestei o concurso público para magistério superior na disciplina Língua Portuguesa e fui convocada para assumir vaga na UNEB, no Campus II [...]. Em 2006, participei da seleção do mestrado para aluno regular do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade e fui aprovada e o objeto de estudo em foco foi: A construção do letramento na comunidade de Saquinho. Retornei agora, neste semestre [2009.1], como aluna especial para o PPGEduC, da UNEB, Campus I e estou cursando a disciplina: Abordagem (Auto) biográfica e Formação de Professores [...]. O desejo de cursar tal disciplina parte do meu objeto de estudo. E nesta investigação científica, pretendo trabalhar com a abordagem da Pesquisa (Auto) biográfica. (Pereira, 2009, pp. 5-12, grifos da autora)
Nesse fragmento do memorial da professora Pereira, ela apresenta as experiências vivenciadas, as dificuldades encontradas durante os percursos formativos e da atuação profissional, bem como as inquietudes que emergiram durante o período inicial de sua atuação docente, quando ainda tinha apenas a formação de Magistério a nível médio, bem como a influência de uma professora charneira (Josso, 2010) que apostou na sua potencialidade como pesquisadora. Essas situações vivenciadas durante o início da atuação profissional docente, a formação inicial e a continuada mobilizaram esforços que possibilitaram a professora Pereira realizar pesquisas de mestrado e de doutorado no campo do letramento, cujos objetos de pesquisas se relacionam com sua história de vida, pois as discussões sobre letramento estão presentes na vida familiar dessa professora desde quando narrou vivências e dificuldades que seu pai passou para aprender a ler e a escrever na infância.
Para Josso (2010, pp. 90-91):
[...] os contextos e situações da vida, das mais diversas atividades, de encontros que marcam a vida – as pessoas significativas da família, os acontecimentos pessoais e sócio-históricos –, começam a desenhar os contornos da singularidade de um percurso de formação, e começa a evidenciar aprendizagens; momentos-charneira e desafios que os atravessavam; valores ou valorizações que orientaram escolhas, bem como preocupações e temas recorrentes.
Os contos e as histórias, sobretudo de nossa infância, são os primeiros elementos de uma aprendizagem e decorrem das primeiras recordações e representações simbólicas da nossa compreensão das coisas vividas nos primeiros anos de vida, assevera Josso (2004). Portanto, o ato de rememorá-las e narrá-las, como no memorial acadêmico, constitui-se travessias, sobretudo quando falamos de nossas experiências que foram construídas historicamente através de um processo de entrecruzamento de aprendizagens adquiridas no decurso de uma vida. Sobre isso, Souza (2006b, p. 121) afirma que elas podem revelar:
[...] os sentidos e significados que são vinculados ao processo de interiorização e exteriorização eleito por cada atriz da pesquisa ao falar de si, das suas aprendizagens, dos valores construídos e internalizados em seus contextos social e histórico, por caracterizar subjetividades e identidades.
Daí o reconhecimento da riqueza que a narrativa (auto)biográfica proporciona pelo entrelaçamento existente entre o mundo interior e exterior, com destaque maior para quem expressa as suas experiências de vida e formação, a partir da escrita do memorial, pois essa escrita pode revelar e contribuir para o processo educativo emancipatório dos sujeitos narradores, bem como de outros que leem, pois “[…] a narrativa congrega e entrelaça experiências muito diversas, é possível interrogarmo-nos sobre as escolhas, as inércias e as dinâmicas.” (Josso, 2004, p. 41).
As histórias e andanças que envolvem a vida, a formação, a profissão e a condição de Pereira (2009), como professora pesquisadora e formadora, estão relacionadas aos modos como viveram/vivem seus familiares, seus contextos de vida, de formação, bem como as relações sociais construídas no decurso de sua vida-formação-profissão, os quais deram forma à sua identidade pessoal e profissional, cujas vivências e experiências impulsionaram ela ser quem é, escolher a carreira docente como profissão e temáticas de pesquisas ligadas à educação. Em seu memorial, essa professora marca a forte influência da professora formadora Stella Rodrigues, a qual tivera no curso de graduação em Letras que evidenciou a potente pesquisadora que ela viria a ser.
Então, a partir do narrado, podemos afirmar que o modo como a professora Pereira (2009) se constituiu, a sua vida-formação-profissão decorre de seus percursos pessoais, dos modos como foi se reinventando, dos itinerários percorridos, das suas geo(bio)travessias, sobretudo de suas mobilidades espaciais, das superações de dificuldades e aprendizagens construídas nos diferentes espaços geográficos vividos – Alagoinhas, Sátiro Dias, Inhambupe, Feira de Santana, Salvador, no estado da Bahia, e São Paulo (SP) – que possibilitaram essa professora chegar à docência universitária e ser a formadora e pesquisadora que é na área de letramento, atuando na formação inicial e continuada de outros professores e profissionais no Departamento de Educação do campus II da UNEB de Alagoinhas (BA).
A professora Faria (2009) grafou, em seu memorial acadêmico, a sua inserção no universo acadêmico, o qual ela considerou como um tempo fecundo de novos saberes e perspectivas. Assim narrou que:
Entre 1989 e 1991 fiquei sem estudar, não tinha condições de frequentar um curso pré-vestibular. Sendo assim, comecei a estudar com módulos e livros emprestados dos amigos que faziam cursinho […]. Nasceu, nesse período, o desejo de tornar-me professora e, acima de tudo, pesquisadora desde o ingresso na graduação em 1992, no curso de Pedagogia, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mesmo depois da conclusão do curso em 1996, esse desejo permaneceu latente, pois na minha trajetória acadêmica e profissional a pesquisa é vista como elemento constitutivo fundamental dentro do fazer docente. Durante a graduação, participei ativamente de atividades científicas ligadas às questões sociais, particularmente com pesquisas na área da escola pública e movimentos sociais em vários municípios baianos [...] também desenvolvendo capacitações, formação de professores leigos e alfabetização de jovens e adultos em diferentes contextos. Estive sempre procurando ampliar e aprofundar meu olhar de pesquisadora para compreender os contextos históricos, sociais, culturais, políticos e organizacionais nos quais se dava minha atividade docente, como condição para nela intervir. Minha experiência, atuação e engajamento em Educação de Jovens e Adultos tem início com a minha participação em dois programas de alfabetização de jovens e adultos que foi fundamental para a sistematização das minhas inquietações no desenvolvimento da pesquisa. Atuei no Programa Cresce Bahia, em 2000, no município de Jacobina e, particularmente em 2004, no Programa AJABahia, no município de Conceição do Coité. Daí a gênese do meu desejo em investigar e militar na seara da Educação de Jovens e Adultos no cenário baiano, particularmente nos municípios pertencentes ao Território do Sisal da Bahia. […] O desejo em aprofundar-me nesta área veio depois da minha inserção como docente em escolas públicas e comunitárias de bairros populares de Salvador, além da militância que exercia e que ainda continuo atuando na seara das causas dos setores populares, seja na cidade como no campo. […] Dentro da minha trajetória profissional e acadêmica sempre busquei estabelecer uma relação de pertencimento e identificação com as questões sociais [...]. O cotidiano me desafia no que se refere à prática da pesquisa, pois, mais que buscar novos enfoques metodológicos necessários e requeridos para explicar a relação educação x sociedade na contemporaneidade, subsidia-me a tecer novas configurações teórico-metodológicas que apontem para outras possibilidades interpretativas do(s) saber(es) e fazer(es) de crianças, jovens e adultos dos setores populares. [...] Como formar professores(as) /pesquisadores(as) desejosos e comprometidos com o que ocorre no meio popular, no cotidiano das periferias das cidades, dos campos, enfim envolvidos na prática da Educação Popular? Como contemplar os desafios e problemáticas que a contemporaneidade vem acrescentando à educação, as quais extrapolam a dimensão da sala de aula e envolvem tantos processos de exclusão, como também de emancipação e desenvolvimento de comunidades? Essas questões movem meu fazer docente e me impulsionam a continuar minha trajetória profissional, auxiliando-me nas minhas reflexões e investigações. (Faria, 2009, pp. 3-5, grifos da autora)
Nesse excerto narrativo da professora Faria (2009), ela definiu que iria ser professora no período preparatório para o vestibular, e a escolha pelos objetos de pesquisa no mestrado e doutorado decorreu de seus envolvimentos formativos na graduação quando optou por fazer o curso de licenciatura em Pedagogia na UNEB de Salvador. Já a professora Pereira (2009) se reportou ao processo de letramento marginal que seu pai vivenciou, e a professora Faria (2009) ao apoio e incentivo familiar nos estudos, situações que envolvem os pais e que as impulsionaram a percorrer os itinerários da formação, do exercício profissional docente e levaram-nas à condição de pesquisadoras.
Do mesmo modo que a professora Pereira (2009), a professora Santos (2009) fez curso profissionalizante de Magistério a nível médio, migrou para Feira de Santana para graduar-se na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), superou dificuldades no início da atuação profissional docente na Educação Básica e se constituiu uma professora pesquisadora dos movimentos sociais e da educação do campo. Assim narrou em seu memorial acadêmico:
[...] o curso de Magistério me permitiu pensar criticamente a educação, apontando suas falhas e refletindo e compreendendo o processo educacional como consequência de uma Política Nacional [...]. Este fato associado à militância no movimento social me proporcionou consciência política, sendo assim, passei a me enxergar como igual aos outros. Isto me fez acreditar que eu também poderia entrar na academia e realizar o grande desejo de ser professora de Geografia e compreender melhor as contradições do espaço agrário brasileiro. Pedi ajuda financeira aos meus professores, me inscrevi no vestibular na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e fui aprovada em quarto lugar. Meu percurso pelo curso de Geografia da UEFS, de 1994 a 1998, foi marcado por muitas contradições. Inicialmente o curso não satisfez os meus anseios, pois desejava me constituir professora, mas passei cinco semestres sem ter contato com nenhuma disciplina pedagógica; só tive uma disciplina voltada para o espaço agrário que no seu currículo privilegiou o estudo do latifúndio e da agricultura de exportação, em nenhum momento foi lida ou discutida uma frase sobre a agricultura camponesa e as contradições deste espaço agrário brasileiro; estudei com professores bacharéis que desvalorizavam a profissão docente [...]. Porém, os caminhos que já vinha trilhando na educação me permitiram uma boa reflexão dos saberes presentes nas poucas disciplinas pedagógicas estudadas e elas contribuíram significativamente para me constituir professora [...]. Os professores defendiam o bacharelado, mas não investiam em pesquisa [...]. Participava dos eventos científicos apenas como ouvinte [...]. Hoje consigo compreender que a constituição profissional docente, longe de ser uma trajetória linear ou limitada a um intervalo de tempo, é um processo contínuo e sempre inconcluso, permeado por dimensões subjetivas e socioculturais que influenciam o modo de vir a ser de cada professor. No entanto, logo que ingressei na academia fui contratada pra lecionar Geografia […]. Isto aconteceu no ano de 1995. A diretora me apresentou o livro didático e as turmas ao mesmo tempo [...]. Tremi, respirei fundo e entrei na sala, folheei o livro e pensei nos testes de sondagem, pensei em cinco questões lancei no quadro e exigi que todos respondessem. Foi o primeiro contato com a sala de aula, logo achei que teria que ser uma professora que impusesse respeito, por isso escolhi o modo tradicional, me espelhei em antigas professoras [...]. Neguei toda a prática libertadora que havia discutido no curso de Magistério. A transição de aluno a professor foi muito tensa, repleta de dilemas e incertezas. Isto gerou um sentimento de insegurança, de medo e de despreparo profissional [...]. Passei a vivenciar um sentimento de angústia [...], pois ser professora envolveu exposição de mim e grande responsabilidade, pois os saberes de aluna iniciante não deram conta da realidade encontrada na sala de aula. A partir do sexto semestre, as discussões nas disciplinas de Didática, Prática de Ensino e Estágio propiciaram uma reflexão sistemática sobre a prática docente [...]. Acabei experienciando um processo de formação que rompeu com o modelo da racionalidade técnica fortemente presente na estrutura curricular dos cursos de licenciatura da UEFS, pois pude vivenciar a prática desde o início do curso. […] No último semestre da graduação eu já estava exercendo a docência na disciplina Geografia em uma das grandes escolas particulares de Feira de Santana. Neste mesmo ano, 1998, fui aprovada em segundo lugar num concurso para docente da Prefeitura Municipal de Irará. Logo que fui nomeada fui indicada pra assumir o cargo de Coordenadora da área de Geografia na rede Municipal de Educação [...]. Daí surgia um novo desafio, trabalhar com formação de professores. […] fiz seleção no Departamento de Educação pra o curso de Especialização em Supervisão Escolar, em 2003 na UEFS [...] foi quando tive o primeiro contato com a pesquisa. Logo em 2005 parti para mais uma pós-graduação lato sensu [...] em Metodologia do Ensino de Geografia. Foi no decorrer das aulas deste curso, acrescido de toda experiência anterior, que me fez refletir e repensar a minha função enquanto educadora da área de Geografia e oriunda do campo. Assim questionei: tenho contribuído para construir uma educação mais justa e libertadora? O que posso fazer para mudar o quadro do ensino de Geografia? E a educação do campo, o que tenho feito para mudá-la? E os grupos historicamente marginalizados? Descobri que precisava assumir um compromisso político com a educação e em especial a educação do campo […]. Retornei para o movimento social do campo, passei a lutar na coletividade contra as injustiças sociais, trabalhei na organização comunitária com projetos que viessem a promover a consciência política e cidadã daqueles indivíduos historicamente marginalizados. […] Diante desta luta política, em meados do ano 2005, conheci o Projeto Integrado de Pesquisa ‘A Geografia dos Assentamentos na Área Rural’ – Projeto GeografAR do Mestrado em Geografia da Universidade Federal da Bahia. E nele, dediquei-me a investigar os procedimentos de educação não-formal existentes nas comunidades quilombolas baianas [...]. No Projeto GeografAR – passei a discutir e refletir o processo de apropriação/produção/organização do espaço geográfico no campo baiano, assim como as diferentes espacialidades e territorialidades que emergem ao longo deste processo. […] E neste contexto, adotei a causa quilombola como foco do meu olhar. Atualmente continuo vinculada ao grupo GeografAR sendo a responsável por acompanhar a questão quilombola na Bahia. No ano de 2006 ingressei no Mestrado em Geografia da UFBA, no qual defendi a dissertação intitulada: A Territorialidade dos Quilombolas de Irará (BA): Olaria, Tapera e Crioulo [...]. O ingresso no curso de mestrado me deu acesso ao exercício da docência no Ensino superior. A minha primeira experiência se efetivou no ano de 2006 no Curso de Pedagogia para professores em exercício da UNEB, no Programa UNEB 2000, especificamente no município de Coração de Maria [...]. Além desta experiência, desde 2007 atuo em duas faculdades particulares: na Faculdade Nobre de Feira de Santana e na Faculdade Maria Milza, localizada na Cidade de Cruz das Almas [...]. No início de 2008 fui aprovada numa Seleção para professor Visitante no Campus XI da UNEB – Serrinha [...]. Diante desta exposição, tenho constantemente revisitado o vivido no passado e refletindo sobre o seu significado no presente. Esta minha história de vida de filha de semi-analfabetos, negra, camponesa e aluna no campo me fazem questionar: Como consegui chegar até aqui? Por que os meus colegas de infância não chegaram? [...] E, hoje compreendo que é preciso se fazer uma leitura do mundo, ou seja, buscar compreender as lógicas internas deste grupo no que englobava sua prática social, produção material e simbólica das condições de vida [...]. Sendo assim, a consciência política é chave pra a solução das muitas questões sociais, no entanto, o acesso a ela depende muito de um projeto de educação libertadora, comprometida com os grupos historicamente excluídos. (Santos, 2009, pp. 4-10)
As narrativas da professora Santos (2009) revelam muitas questões relacionadas à formação, à atuação docente, à prática da pesquisa na universidade, reflexões tecidas, sobretudo, durante o início do seu processo formativo inicial, os quais ela se reporta no final da escrita de seu memorial para justificar o seu interesse em ocupar o cargo docente efetivo da UNEB de Serrinha, no ano de 2010. Nas entrelinhas do seu memorial, a professora Santos também sinaliza o seu objeto de pesquisa de doutorado – a educação do campo –, o qual foi concluído posteriormente ao seu ingresso na UNEB de Serrinha, após sua aprovação no concurso público docente. Tais narrativas evidenciam que a docência é uma “[…] atividade teórico-prática constituidora da identidade profissional do professor” (Guimarães, 2011, p. 18), pois a identidade profissional do professor envolve a pessoa do professor – sua forma individual e coletiva de produção da existência – e o desenvolvimento institucional.
À medida que relatou as dificuldades e superações, do sair da roça, estudar na cidade para concluir a escolarização, migrar de Irará para Feira de Santana para graduar-se, o tornar-se professora da Educação Básica ainda em processo de formação inicial, os conflitos entre o ser e o fazer docente e o de se constituir professora no ensino superior, a professora Santos (2009) teceu a injunção da figura de si, dos processos e mobilidades geográficas e econômicas que viveu para se colocar como uma profissional apta para assumir a função docente do quadro efetivo no Departamento de Educação da UNEB de Serrinha, na condição de professora formadora no curso de licenciatura em Geografia.
A partir do exposto pelas professoras Pereira (2009), Faria (2009) e Santos (2009), podemos afirmar que a narrativa impressa nos memoriais acadêmicos dessas professoras se caracteriza como uma arte de evocar e de lembrar porque remete à pessoa:
[...] eleger e avaliar a importância das representações sobre sua identidade, sobre as práticas formativas que viveu, de domínios exercidos por outros sobre si, de situações fortes que marcaram escolhas e questionamentos sobre suas aprendizagens, da função do outro e do contexto sobre suas escolhas, dos padrões construídos em sua história e de barreiras que precisam ser superadas para viver de forma mais intensa e comprometida consigo próprio. (Souza, 2006b, p. 61)
Muitas foram as dificuldades encontradas pelas professoras para se tornarem professoras formadoras e pesquisadoras na/da UNEB e suas narrativas se constituem como relevantes dispositivos para analisar as histórias de vida e as itinerâncias formativas para compreenderem como elas têm se constituído professoras, bem como conhecer um pouco o perfil do quadro docente da maior universidade estadual multicampi do estado da Bahia, pois esse trio de professoras possui um elemento identitário singular que é ser oriundo da roça, cujos processos de escolarização foram iniciados em uma escola rural, multisseriada, que superaram todas as barreiras, dificuldades e preconceitos para serem professoras universitárias e potentes pesquisadoras da área de educação. Além disso, os fatos, acontecimentos e informações contidos nos memoriais acadêmicos dessas três professoras possibilitam mapear as geo(bio)travessias realizadas, os espaços e tempos de suas itinerâncias pessoais e formativas no processo de constituição do ser e do tornar-se professora universitária oriunda do contexto rural de diferentes municípios baianos.
Terceiro episódio: notas conclusivas
A partir do exposto, das narrativas impressas nos memoriais, podemos afirmar que eles se constituem como importantes fontes biográficas que podem ser utilizadas nos percursos investigativos. A intenção desta escrita foi evidenciar a importância do memorial acadêmico como fonte inesgotável de informações possíveis de serem exploradas porque ele retrata a arte profissional da pessoa tecer uma figura pública de si, bem como a de mapear as geo(bio)travessias de professoras universitárias oriundas de contextos rurais.
Então, o que as professoras universitárias narram em seus memoriais acadêmicos? Quais geo(bio)travessias realizaram para se constituírem professoras de uma IES?
As professoras Pereira (2009), Faria (2009) e Santos (2009) narram, em seus memoriais acadêmicos, elementos identitários, os lugares onde viveram, onde iniciaram suas vidas e suas escolarizações, os modos de serem, de viverem e de se constituírem professoras, além de evidenciarem como surgiram os seus objetos de pesquisas e as relações estabelecidas entre eles e suas histórias de vida, de formação inicial e continuada, os espaços e tempos de formação. Portanto, os memoriais acadêmicos são importantes fontes de informações para pesquisas, sobretudo na área de educação, com temáticas relacionadas à formação de professores(as).
Os memoriais acadêmicos possibilitam conhecer as histórias de vida dos narradores, de sua formação, do seu exercício da profissão. Esses três memoriais das professoras universitárias Pereira (2009), Faria (2009) e Santos (2009), que compõem o quadro efetivo da UNEB, permitiram compreender, a partir das memórias evocadas e das histórias narradas, as itinerâncias geográficas, sociais e culturais pelas quais passaram as docentes e, ao narrarem seus percursos de vida e de formação, teceram a arte de falar de si, articulando seus modos de ser, seus lugares de origem, seus modos de viver, de aprender e de se reinventar, pois a escrita do memorial acadêmico se caracteriza como um tempo-espaço singular, o da injunção da pessoa falar de si, desvelando-se para se revelar para o outro.
Ao tecerem representações de si, as professoras Pereira (2009), Faria (2009) e Santos (2009) relembraram seus percursos e trajetórias vividas ao longo do tempo, narraram sobre as experiências, situações e aprendizagens que marcaram as suas travessias pessoais e profissionais no decurso de suas vidas, cujas histórias reafirmam a importância da escrita do memorial, pois a pessoa que narra faz uma autorreflexão que “[...] transforma uma narrativa privada em uma narrativa civil, na qual o narrador, ao buscar compreender a sua historicidade, faz uso de suas margens de manobra reais para inserir sua ação na História” (Passeggi, 2011b, s/p.) e permite ao leitor imaginar e mapear os lugares por onde o(a) narrador(a) viveu e exerceu a profissão docente, bem como identificar elementos identitários e vinculados às transformações socioeconômicas e culturais pelas quais passou.
Vale salientar que na contemporaneidade, enquanto prática de investigação, as histórias de vida e as narrativas (auto)biográficas, impressas nos memoriais acadêmicos, têm contribuído de forma significativa com o processo de compreensão dos modos como nos constituímos professores(as), tendo a memória como um legado do que foi vivido e que, a partir da narração das experiências vividas, as pessoas se reinventam ao tecerem uma figura pública de si, desvelando-se para o outro, pois a escrita do memorial acadêmico envolve
[...] recortes da vida: o processo de formação intelectual e o de inserção profissional no magistério. Percurso que inclui obrigatoriamente considerações sobre a vida familiar, escolar, profissional e coloca em foco questões como a formação inicial e continuada, o (des)emprego, a empregabilidade, as mudanças estatutárias, identitárias que fazem parte da história de vida ativa do adulto. (Passeggi, 2008b, p. 27)
O memorial retrata a vida ativa adulta refletida em palavras, cujas escritas revelaram medos, dificuldades, superações e desafios vividos pelos autores/escritores/narradores em suas variadas situações de fronteira que ligou o vivido, o refletivo e o narrado, buscando evidenciar para a banca avaliadora, para os leitores que tiveram/terão acesso às histórias narradas, o drama vivido pelos narradores quando eles se desvelaram, teceram uma figura pública de si, nascendo de novo, através da escrita reflexiva, a qual foi/será apresentada e apreciada por uma banca avaliadora nos processos de seleções para alunos regulares nos programas de pós-graduação stricto sensu ou nos processos de avaliação de concursos públicos docentes que utilizam o memorial acadêmico como um importante dispositivo avaliativo durante esses processos.
Os memoriais das professoras Pereira (2009), Faria (2009) e Santos (2009) revelam inúmeras questões, fatos e situações, como a complexidade que envolve a vida, a formação, o exercício da profissão, o tornar-se professora da Educação Básica e do Ensino Superior, como surgiram os objetos de pesquisas nos programas de pós-graduação, as relações familiares e sociais, a formação identitária desses sujeitos, dentre outras importantes questões que poderão ser exploradas, mas a intenção desta escrita foi, de fato, evidenciar a importância do memorial acadêmico como fonte inesgotável de informações possíveis de serem exploradas porque ele retrata a arte profissional da pessoa tecer uma figura pública de si, bem como mapear as geo(bio)travessias de professoras universitárias oriundas de contextos rurais de três municípios baianos – Sátiro Dias, Maragogipe e Irará.
Portanto, os modos como foram escritos os memoriais acadêmicos dessas três professoras universitárias retratam a dimensão política que carregam consigo, do que defendem como sujeitos sociais e profissionais da educação. Os memoriais também possuem uma dimensão estética que, mesmo singular, própria de quem escreve, possui rigor acadêmico, sem perder de vista que devem conter dados pertinentes ao que foi solicitado, informações vinculadas à seleção no programa de pós-graduação ou concurso público docente, evidenciando, através da escrita narrativa, como essas pessoas se constituíram professoras. Além disso, os memoriais possuem uma dimensão poética das narradoras, ao articularem o vivido, o experienciado e o desejado, possibilitando o leitor imaginar lugares, cenários e situações vividas por essas professoras.
Enfim, os percursos pessoais, formativos e profissionais dessas três professoras são importantes porque retratam elementos singulares, como o de sair do espaço rural, a cerca de quarenta/cinquenta anos atrás, quando as escolas em contextos rurais eram quase que inexistentes, de um lugar pouco provável e propício para a construção da cultura letrada, acadêmica e irem para o espaço urbano, realizarem mobilidades geográficas para continuar os estudos, superar as dificuldades de toda ordem, como as socioeconômicas e culturais, e se tornaram professoras doutoras que exercem a profissão docente em uma IES pública, diferentemente de outros(as) professores(as) que nasceram e viveram nas pequenas/médias/grandes cidades baianas e tiveram acesso à escola, à cultura material e imaterial e ao mundo letrado.
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Simone Ribeiro Santos
Universidade do Estado da Bahia, Serrinha, BA, Brasil
https://orcid.org/0000-0001-5477-6216
Doutora em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (2017). Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia. E-mail: ssoliveira_valentec3@yahoo.com.br
Elizeu Clementino de Souza
Universidade do Estado da Bahia, Salvador, BA, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-4145-1460
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2004). Pesquisador 1B CA-ED/CNPq. Professor Titular da Universidade do Estado da Bahia. E-mail: esclementino@uol.com.br
Contribuição na elaboração do texto: autora 1 – análise dos memoriais e redação do texto; autor 2 – escrita, revisão e consolidação do texto.
Este texto tiene dos intenciones: evidenciar la importancia del memorial académico como fuente de informaciones posibles de ser exploradas porque retrata el arte profesional de la persona al tejer una figura pública de sí; y mapear las geo(bio)travesías de profesoras universitarias oriundas de contextos rurales. Los principios teórico-metodológicos de esta escritura se anclan en la investigación (auto)biográfica, teniendo el memorial académico de tres profesoras como fuente de investigación. Los memoriales revelan informaciones sobre cómo se constituyeron profesoras/investigadoras de la Universidad del Estado de Bahia (UNEB), Brasil, y sobre sus movilidades geográficas, socioeconómicas y culturales, a partir de sus geo(bio)travesías.
Palabras clave: Memoriales académicos. Profesoras universitarias. Contextos rurales.
This text has two intentions: to highlight the importance of the academic memorial as a source of information that can be explored because it portrays the professional art of the person to weave a public figure of him/herself; and to map the geo(bio)crossings of female university professors from rural contexts. The theoretical-methodological principles of this writing are anchored in the (auto)biographical research, having the academic memorial of three female professors as a source of investigation. The memorials reveal information about how professors/researchers at the Bahia State University (UNEB) were constituted and about their geographic, socioeconomic and cultural mobilities, based on their geo(bio)crossings.
Keywords: Academic memorials. University professors. Rural contexts.
Linhas Críticas | Periódico científico da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, BrasilISSN eletrônico: 1981-0431 | ISSN: 1516-4896
http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas
Referência completa (APA): Santos, S. R., & Souza, E. C. (2023). Geo(bio)travessias de professoras universitárias de contextos rurais: memoriais acadêmicos em diálogos. Linhas Críticas, 29, e47828. https://doi.org/10.26512/lc29202347828
Referência completa (ABNT): Santos, S. R.; SOUZA, E. C. Geo(bio)travessias de professoras universitárias de contextos rurais: memoriais acadêmicos em diálogos. Linhas Críticas, 29, e47828. 2023. DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202347828
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1O texto insere-se como ação da pesquisa “Multisseriação e Trabalho docente: diferenças, cotidiano escolar e ritos de passagem”, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito da Chamada Universal Edital nº 28/2018 (Processo nº 423515/2018-7), coordenada pelo Grupo de Pesquisa (Auto)Biografia, Formação e História Oral (Grafho) da UNEB.
2As professoras universitárias autorizaram a identificação de seus nomes e uso de fragmentos textuais de seus memoriais em produções acadêmicas vinculadas à pesquisa de (autora supressão).
3Atualmente, tem 56 anos de idade e 20 anos de exercício profissional no ensino superior. O memorial acadêmico foi construído em 2009 para ser submetido ao processo de seleção para os estudos de doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus I/Salvador.
4Tem 51 anos de idade e 21 anos de exercício docente no ensino superior, sendo 19 anos de UNEB. O memorial acadêmico foi construído em 2009 para ser submetido ao processo de seleção para os estudos de doutoramento no PPGEduC da UNEB, campus I/Salvador.
5Tem 48 anos de idade e 18 anos de exercício profissional no ensino superior, sendo 16 anos na UNEB de Serrinha. O memorial acadêmico foi construído em 2009 e submetido ao processo de avaliação do concurso público para o provimento de cargo efetivo docente da UNEB, campus XI/Serrinha.
6 Uma espécie de cartilha/caderno de atividades para ser utilizado no período de alfabetização.