Dança e pessoas com deficiência em
periódicos brasileiros da Educação Física (1979-2019)
Danza y personas con discapacidad en revistas
brasileñas de Educación Física (1979-2019)
Dance and people with disabilities in Brazilian
journals of Physical Education (1979-2019)
Beatriz Gomes de Souza[i]
Universidade Federal de Juiz de Fora
Juiz de Fora, MG, Brasil
https://orcid.org/0000-0001-9870-0192
Neil Franco[ii]
Universidade Federal de Juiz de Fora
Juiz de Fora, MG, Brasil
neilfranco010.hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1276-8901
Os
autores contribuíram igualmente na elaboração do manuscrito.
Recebido em: 19/11/2021
Aceito em: 29/03/2022
Publicado
em: 11/04/2022
Linhas
Críticas | Periódico científico
da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Brasil
ISSN: 1516-4896 |
e-ISSN: 1981-0431
Volume 28, 2022
(jan-dez).
http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas
Referência
completa (APA):
de Souza, B. G., & Franco, N. (2022). Dança e pessoas com
deficiência em periódicos brasileiros da Educação Física (1979-2019). Linhas
Críticas, 28, e40833. https://doi.org/10.26512/lc28202240833
Link alternativo:
https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/40833
Licença Creative Commons CC BY 4.0.
Resumo: Objetiva-se analisar, por meio de revisão
sistemática de literatura, os significados adquiridos pela produção de
conhecimento em Educação Física (EF) sobre dança e pessoas com deficiência
entre 1979 e 2019. A pesquisa justifica-se por se tratar de um tema dissidente
na EF, considerando que uma série de investimentos sociais e políticos no campo
da inclusão tem ocorrido. Almeja-se saber quais aspectos, sobre dança e
deficiência, têm gerado interesse investigativo na área da EF, com isso, 25
artigos integram a amostra descrita e analisada. Conclui-se que há baixa
produção na área, em uma vertente não escolar, com maior evidência para dança e
deficiência física.
Palavras-chave: Dança. Deficiência. Pessoas com Deficiência. Educação. Educação
Física.
Resumen: A través de una revisión sistemática de la
literatura, se analizaron los significados atribuidos a la producción de
conocimiento en Educación Física (EF) sobre danza y personas con discapacidad
entre 1979 y 2019. La investigación se justifica por tratarse de un tema
disidente en EF, considerando que se han producido una serie de inversiones
sociales y políticas en el ámbito de la inclusión. El objetivo es conocer qué
aspectos, sobre la danza y la discapacidad, han generado interés investigativo
en el área de la EF, con eso, 25 artículos forman parte de la muestra descrita
y analizada. Hay baja producción en la zona, en un aspecto no escolar, con
mayor evidencia de danza y discapacidad física.
Palabras
clave: Danza. Deficiencia. Personas con deficiencia. Educación. Educación
Física.
Abstract: The aim is to analyze, through a systematic literature
review, the meanings attributed by the production of knowledge in Physical
Education (PE) about dance and people with disabilities between 1979 and 2019.
The research is justified because it is a dissident topic in PE, considering
that a series of social and political investments in the field of inclusion
have taken place. The aim is to know which aspects, about dance and disability,
have generated investigative interest in the PE area, with this, 25 articles
are part of the sample described and analyzed. It is concluded that there is
low production in the area, in a non-school aspect, with greater evidence for
dance and physical disability.
Keywords: Dance.
Disability. People with disability. Education. Physical Education.
Considerações
Iniciais
A dança é elemento constituinte da cultura popular e faz parte do
cotidiano social, como uma forma de expressão presente em todas as camadas
sociais. O movimento e o gesto são as configurações elementares e primitivas da
dança e constituem a primeira forma de manifestação das emoções do ser humano e
a exteriorização delas (Franco & Ferreira, 2016). É considerada por autores
como um acervo de formas de representação do mundo, exteriorizada pela
expressão corporal, assim como o jogo, a ginástica, o esporte, a luta, e outras
manifestações corporais que podem ser identificadas como representações
simbólicas de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e
culturalmente desenvolvidas (Coletivo de
Autores, 1992).
Historicamente, a dança esteve
presente na Educação Física (EF), inicialmente por meio da ginástica, com o
intuito de desenvolver o organismo e educar e doutrinar o corpo (Santiago &
Franco, 2015). Vertentes mais atuais consideram os seus benefícios como
facilitadores no processo de inclusão, na dimensão escolar ou comunitária,
pelas suas características de desenvolvimento da comunicação, expressão de
sentimentos e elaboração de senso de coletividade (Santos & Figueiredo, 2003).
Nessa perspectiva, os benefícios e as contribuições
que a dança pode proporcionar às Pessoas com Deficiência (PCD) são largamente discutidos,
ampliando-se às dimensões formais e não formais da Educação. Envolve aspectos
referentes à estética, à criação, à socialização e à cultura, os quais, pela
via do movimento rítmico, possibilitam profundas transformações no campo
emocional e motor. Dessa forma, saúde, qualidade de vida e o alargamento de
linguagens são desencadeadas pela reabilitação ou pela reeducação da
motricidade, levando o corpo da PCD a se tornar uma ferramenta da imaginação
(Mauerberg-deCastro, 2005).
Tais benefícios e
contribuições desencadearam uma vertente específica para as PCD: a dança
adaptada, consolidada por meio da dança educacional e de seus elementos como
dança criativa. Sendo assim, um cenário mundial de inserção da PCD no universo
da dança passa a ser viabilizado, com viés esportivo, terapêutico, educacional,
artístico e de lazer. No Brasil, esse movimento tem como marco os anos de 1980,
porém, em termos literários, há registros desde o ano de 1957 (Mauerberg-deCastro,
2005).
Dessa forma, entende-se a deficiência
como um fenômeno representativo na sociedade, e a luta pelo reconhecimento dos
seus direitos teve início:
[…] após o fim da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) e o Holocausto, quando houve ascensão do movimento dos
Direitos Humanos (DH), que desaguou na Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948) e em Novos Movimentos Socias (NMSs – 1960), fortalecendo o
movimento da PCD. (Lacerda, 2020, p. 2)
Assim, a educação de PCD nas escolas
regulares e nas salas comuns foi muito influenciada pelo movimento dos direitos
humanos, inicialmente com o foco na igualdade, deslocando-se, em seguida, para
o tema da “diferença” (Candau, 2008). Entretanto, muitas das vezes,
atualmente, atribui-se a essa educação um sentido equivocado: de assistência às
PCD (Mazzotta, 2011).
Corroborando o exposto, há eventos como a Conferência Mundial de
Educação para Todos em 1990, na Tailândia, que resultou na criação da
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (DMSEPT, 1990), e a Conferência
Mundial sobre necessidades Educativas Especiais, em 1994, em Salamanca, na
Espanha, culminando na Declaração de Salamanca (DS, 1994), que contribuíram
para a construção de diversas reflexões, nos âmbitos nacional e internacional,
sobre o assunto. Nesse movimento, em 2015, foi sancionada a Lei Brasileira de
Inclusão da PCD (Brasil, 2015). Deve-se mencionar, ainda, a existência do Fundo
das Nações Unidas para a Infância (Unicef), criado pela Organização das Nações
Unidas (ONU), presente no Brasil desde 1950, influenciando na efetivação dessas
iniciativas legais em defesa das PCD que se exaltam a partir dos anos 2000.
Diante dessa breve contextualização,
referente à Dança e às PCD, questiona-se o porquê de existirem poucos estudos
sobre essa temática, sobretudo no que se refere à sua relação com a dança e com
seus possíveis benefícios. Partindo desse questionamento e considerando o
processo multifacetado de constituição dos sujeitos em sociedade,
estabeleceu-se como questão central deste estudo: Quais interfaces são
estabelecidas entre dança e PCD na produção científica em periódicos
brasileiros da EF?
Segundo Rossi e Munster (2013),
pesquisas envolvendo a interface “dança e deficiência” no Brasil tiveram início
na década de 1980, e três motivos influenciaram esse fato: 1) a instituição de
políticas públicas e a promulgação de leis direcionadas à educação de PCD na
sociedade; 2) os benefícios que a dança proporciona a esse público; e, 3) a
implantação de cursos de graduação e pós-graduação na área, incentivando
pesquisas acerca da Educação Especial e das PCD.
Esse estudo problematiza, portanto, como
a relação entre dança e PCD tem sido evidenciada em periódicos brasileiros da
EF, no período de 1979 a 2019. O recorte temporal justifica-se por dois
aspectos: 1) o Movimento Renovador da EF brasileira, que, com a perspectiva de
distanciamento da EF da eminente vertente da aptidão física e do alto
rendimento, lança um olhar sobre essa área pautado nas ciências humanas e
sociais, tornando-se um marco importante a partir da década de 1980 (Bracht, 1999;
Machado & Bracht, 2016); 2) a afirmativa de Rossi e Munster (2013) de que
as publicações nessa área começaram a surgir na década de 1980, influenciadas
pelas políticas públicas e pelas leis direcionadas à inclusão da PCD, fato
também confirmado por Santos e Figueiredo (2003) e Oliveira et al. (2019).
Com isso, este estudo justifica-se por
se tratar de um tema de relevância para a área de EF, tanto no contexto escolar
quanto no não escolar, considerando que, nas últimas décadas, uma série de
investimentos sociais e políticos no âmbito da inclusão tem ocorrido e gerado
estudos científicos, ainda que inexpressivos, em especial, sobre dança e
deficiência.
Apresentadas as considerações
iniciais, o estudo se divide em 5 seções: Metodologia; Dança e PCD nos
periódicos brasileiros da EF: o panorama geral; Dança e PCD nos periódicos
brasileiros da EF: tempo e espaço; Considerações finais; e Referências.
Metodologia
Este estudo consiste em pesquisa
indireta, descritiva, de caráter bibliográfico e em abordagem
quanti-qualitativa, uma vez que analisou os significados atribuídos pela
produção de conhecimento sobre EF em relação às discussões referentes à dança e
às PCD. Fundamenta-se na busca de estudos realizados e publicados por autores
que se dedicam às referidas temáticas em periódicos da EF (Mattos et al., 2008),
portanto, trata-se de uma revisão sistemática de literatura, por apresentar uma
questão específica, fontes e estratégias de busca de dados explícitas,
estabelecendo a relação entre abordagens quantitativas e qualitativas (Rother,
2007).
Identificar dados numéricos referentes
à dança e às PCD nos periódicos, assim como verificar que dimensões dessa
temática são mais evidenciadas neles, aproxima-nos de uma abordagem
quantitativa. Por outro lado, apresentar a descrição dos estudos levantados,
entender o trajeto da inserção da dança e da deficiência como categorias
investigativas na construção de conhecimento em EF e buscar relações com outros
marcadores históricos, sociais, culturais e legais nos situam em uma abordagem
qualitativa (Gomes & Araújo, 2005; Mattos et al., 2008).
O estudo se define metodologicamente
em três etapas:
1ª) Coleta de dados – selecionaram-se 14
periódicos brasileiros da área de EF, com ênfase nas dimensões escolar e não
escolar, que disponibilizam suas edições em formato eletrônico. O fácil acesso
a essas fontes e a visibilidade delas justificaram sua escolha como lócus de
pesquisa. Analisaram-se os periódicos desde suas primeiras edições, buscando
estudos que priorizam a temática sobre a dança e a PCD. Assim, o recorte
temporal foi delimitado entre 1979 – em razão da criação da Revista Brasileira
de Ciências do Esporte (RBCE, 2021) – e 2019 – período de encerramento da
coleta. O ano de 2009 demarca o período mínimo para criação dos periódicos
investigados, uma vez que configura quase 10 anos de sua existência, período
satisfatório para sua consolidação como espaço de divulgação de conhecimento.
Também, como critério de seleção, buscou-se por periódicos sediados nas 5
regiões do país, com o intuito de ampliar o espectro investigativo, entretanto
esses não foram encontrados na região Norte do país.
Tabela
1
14
Periódicos Brasileiros da área de EF
Revista |
Sigla |
Ano criação |
Instituição |
Sigla |
Revista Brasileira de Ciências do
Esporte |
RBCE |
1979 |
Universidade de Brasília |
UnB |
Revista Brasileira de Ciência e
Movimento |
RBCM |
1987 |
Universidade Católica de Brasília |
UCB |
Motrivivência Revista de EF, Esporte
e Lazer |
MREFEL |
1988 |
Universidade Federal de Santa
Catarina |
UFSC |
Revista de EF |
REF |
1989 |
Universidade Estadual de Maringá |
UEM |
Movimento Revista de EF |
MREF |
1994 |
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul |
UFRGS |
Motriz Revista de EF |
MREF |
1995 |
Universidade Estadual Paulista |
UNESP |
Revista Corpoconsciência |
RCC |
1997 |
Universidade Federal do Mato Grosso |
UFMT |
Revista Pensar a Prática |
RPP |
1998 |
Universidade Federal de Goiás |
UFG |
Revista Conexões |
RC |
1998 |
Universidade Estadual de Campinas |
UNICAMP |
Caderno de EF e Esporte |
CEFE |
1999 |
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná |
UNIOESTE |
Revista Mackenzie de EF e Esporte |
RMEFE |
2002 |
Universidade Presbiteriana Mackenzie |
UPM |
Revista Brasileira de EF e Esporte |
RBEFE |
2004 |
Universidade São Paulo |
USP |
Revista Arquivos em Movimento |
RAM |
2005 |
Universidade Federal do Rio de
Janeiro |
UFRJ |
Cadernos de Formação Revista
Brasileira de Ciências do Esporte |
CFRBCE |
2009 |
Universidade de Brasília |
UnB |
Fonte: os autores.
O processo de busca do material
consistiu-se em dois momentos. Primeiro, o levantamento das publicações via
leitura dos sumários de cada edição das revistas. Tal procedimento se justifica
pelo fato de algumas revistas, em especial aquelas criadas na década de 1980,
apresentarem suas primeiras edições em arquivos Portable Document Format
(PDF) único, impossibilitando o acesso aos dados por descritores. Segundo,
utilizou-se da ferramenta de pesquisa por descritores com o intuito de reduzir
a chance de que alguma publicação fosse excluída. Os descritores utilizados
foram “deficiência” e “deficiência or dança”, com e sem o uso de aspas,
como orientado para refinamento de busca por descritores, sugerido pela maioria
dos periódicos.
Foram encontradas 26 publicações que
evidenciam a temática, contudo uma delas apresentava somente o título, o resumo
e as palavras-chaves, portanto foi excluída. Com isso, 25 artigos definiram
nossa amostra.
2ª) Categorização e elaboração da
descrição dos estudos – procedeu-se à leitura cuidadosa e ao fichamento do
material, filtrando informações como instituição de origem dos pesquisadores,
palavras-chave, objetivo do artigo, metodologia da pesquisa, discussão dos
dados e conclusões. Em seguida, realizou-se o levantamento quantitativo do
material, na tentativa de elencar o movimento epistemológico de constituição desse
campo, destacando: 1) os anos em que as publicações passaram a integrar o
panorama investigativo dos periódicos e a relação com outros possíveis
demarcadores (legais, por exemplo); 2) sobre quais contextos (escolar e/ou não
escolar) versavam essas investigações; 3) identificação de em que vertentes a
temática “dança e PCD” era evidenciada e, com isso, levantamento de possíveis
lacunas investigativas; 4) destaque dos tipos de abordagens investigativas
(empíricas e/ou bibliográficas); 5) as bases de formação dos autores.
3ª) Análise qualitativa dos dados – a
partir dos dados quantitativos levantados nas 1ª e 2ª etapas, os 25 artigos que
integram a amostra foram categorizados, descritos e contextualizados à luz de
referenciais teóricos e documentos legais específicos das áreas da EF e
deficiências. Antecipamos que o estudo aponta para mudanças de perspectivas nos
campos teóricos sobre dança e PCD, exaltando estudos recentes sobre Dança
Esportiva em Cadeira de Rodas (DECR) e possíveis influências de legislações na
área da educação inclusiva.
Dança e PCD nos periódicos brasileiros da EF:
o panorama geral
A discussão sobre dança é apontada por
diversos autores como restrita ao campo da EF, e, quando relacionada às
discussões sobre deficiência, os dados tornam-se ainda mais inferiores. Em
consonância com essa afirmativa, no levantamento realizado nos 14 periódicos,
foram evidenciadas 237 publicações sobre deficiência e 290 sobre dança. Dentre
essas, 25 relacionam “dança e deficiências”, em contexto educacional e não
educacional, e concentram-se em 8 periódicos, como descrito na Figura 1.
Figura
1
Relação
revistas, publicações, contexto educacional e não educacional
Fonte: os autores.
Vieira e Tavares (1997, p. 2008) destacam que o encontro entre
dança e deficiência foi possível a partir de “[…] paradigmas emergentes da
modernidade e da pós-modernidade.” Nossa perspectiva, de um modo geral, os
trabalhos refletem sobre o universo da dança e deficiência, seus significados,
emoções, expressões, em uma perspectiva de corpo para além do físico, mas que
também visa à melhora da qualidade de vida, da autonomia, da inclusão, e assim
por diante, por meio de análises e
interpretações que avaliam a linguagem verbal e não verbal. Tais estudos contribuem
“[…] para a ampliação da
aprendizagem e a formação humana” (Santos &
Figueiredo, 2003, p. 107), tendo em vista uma provável transformação social e
pessoal.
De acordo com os dados da Figura 1, observa-se que as publicações,
maioritariamente, estão voltadas para o contexto não educacional, com 14
publicações, com maior interesse para a dança em perspectivas artísticas, seus
significados e possibilidades.
Onze publicações exaltam o contexto
educacional enfocando o processo de ensino e aprendizagem, a arte, a reabilitação,
o esporte, com finalidades pedagógicas, terapêuticas, entre outras. Dentre
elas, 1 abrange a dimensão formal da educação e 10, a não-formal, através de
atividades extracurriculares, como projetos e pesquisas.
Este fato coincide com o apontado por
Santos e Figueiredo (2003), ao afirmarem que a dança como conteúdo educacional
prevalece na perspectiva extracurricular, incitando interpretá-la como um
conteúdo negado e, possivelmente, não inserido no currículo. Seria esse o
motivo de não atrair a atenção de pesquisadores da área educacional?
Em relação à questão anterior, vários são os fatores que podem
influenciar no baixo número de pesquisas na área de EF e dança no contexto
formal. Sousa
et al. (2010) afirmam que, predominantemente, os docentes de EF ensinam a
dança na escola sem experiências teórico-práticas suficientes, tendo vivenciado
práticas dançantes na formação inicial ou na vida pessoal, favorecendo a
perpetuação do modelo esportivo e biologicista. Consequentemente, isso levanta
indícios sobre o baixo interesse de pesquisadores em relação à área.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), das áreas de EF e Artes, a dança está inserida entre seus conteúdos. No
primeiro, abrangendo os temas da cultura corporal de movimento, das atividades
culturais como jogos, esportes, lutas e ginásticas; no segundo, faz parte das
linguagens artísticas: artes visuais, dança, música e teatro (Brasil, 1997;
2016). Portanto, em ambos os casos, a dança não está inserida no currículo
escolar como uma disciplina autônoma, dessa forma, esse pode ser um dos motivos
pelos quais ela prevaleça na perspectiva extracurricular e não formal.
Sobre a dimensão educacional não formal,
os 10 estudos enfocam majoritariamente finalidades pedagógicas, com foco no
processo ensino-aprendizagem, trabalhando a dança em estabelecimentos como associações
de apoio a PCD, academias, centros e companhias de dança etc. Rossi e Munster (2013)
afirmam que essas investigações, de maneira geral, preocupam-se em envolver a
ação docente no intuito de orientar e estimular o aluno para o movimento livre
e para técnicas de diversas danças, havendo movimento consciente, reflexivo e
que respeite suas individualidades.
Os 25 artigos foram alocados em 10
categorias, sendo elas: Deficiência Física (DF) com 9 estudos, Deficiência
Intelectual (DI) com 05, Deficiência Visual (DV) com 3, Revisão de Literatura (RL)
com 2, DI e DF, Deficiência Auditiva (DA), Deficiência Geral (DG), Deficiência
Múltipla (DM), Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Mães de PCD com 1 estudo
cada. Ver Figura 2.
Figura
2
Categorias
de Análise
Fonte:
os autores.
De acordo com o objetivo desta
pesquisa, descrever esses estudos é um dos focos, o que será realizado para, em
seguida, prosseguir com as análises e com as discussões. A Figura 3, abaixo, apresenta
a divisão dos artigos por categorias.
Figura 3
Categorias/Artigos
Fonte: os autores.
Publicados entre 1997 e 2019, os 9
artigos da categoria Dança e DF problematizam sobre o universo da Dança em
Cadeiras de Rodas (DCR) e Dança Esportiva em Cadeiras de Rodas (DECR), a saber,
8 no contexto não educacional e 1 no contexto educacional não formal.
Seis deles são de viés humanista,
fundamentados em abordagens qualitativas. A importância para o desenvolvimento
humano pela via da prática da DCR e DECR é o foco desses estudos, sendo a
maioria deles abrangendo a dimensão artística. A exceção é o estudo de Silva et
al. (2009), que, através de uma pesquisa-ação, problematiza as possibilidades
da DCR como auxiliar para o desenvolvimento educacional de uma menina de 9
anos, com paralisia cerebral, pesquisa que envolveu também mães e docentes.
Os demais estudos de caráter empírico
tiveram como população jovens e adultos praticantes de DECR e atletas dessa
modalidade, como especificado em Ferreira (2000), Ferreira e Ferreira (2004) e
Freitas e Tolocka (2005).
Também de abordagem qualitativa, mas
de caráter bibliográfico, Vieira e Tavares (1997) refletem sobre a dança e as
PCD, concluindo que ela pode revelar a significação de um ser interagindo com o
mundo que o cerca. Nesse trajeto, o corpo substancial e o corpo relacional foram
olhares lançados por Rigo et al. (2019) ao pesquisarem as possibilidades e as implicações
desses conceitos no movimento de dançarinos na DECR.
Três estudos empíricos ressaltam viés
biológico e abordagem quantitativa, com enfoque em dançarinos jovens e em adultos,
que são eles: Peres et al. (2007), Barreto et al. (2010) e Paula et al. (2011).
O primeiro avaliou a contribuição da amplitude de movimento para o tronco em
paraplégicos; o segundo identificou as qualidades físicas necessárias à
realização dos passos básicos de DECR; e o terceiro estudou o comportamento da frequência
cardíaca em atletas do gênero masculino do VII Campeonato Brasileiro de DECR,
realizado em 2008, em Santos - São Paulo (SP).
Cinco artigos integram a categoria Dança
e DI. Três deles possuem enfoque na Síndrome de Down (SD), e 2 na DI de forma
mais abrangente. Dois focam no contexto não educacional, e 3, no educacional
não formal, desenhando um recorte temporal entre 2008 e 2019 e fazendo abordagens
qualitativas de pesquisa.
No sentido mais amplo, os 3 estudos
que enfocam a SD destacam a dança como fator importante na melhoria da
qualidade de vida dessas pessoas, independente da faixa etária. Com viés
empírico, Maia e Boff (2008) verificaram o auxílio oferecido pela dança na coordenação
motora de crianças com SD, e Flores e Bankoff (2009) estudaram a influência da
dança expressiva sobre o equilíbrio corporal estático em adolescentes com SD.
Em estudo bibliográfico, Furlan et al. (2008) pesquisaram o desenvolvimento do
esquema corporal em pessoas com SD na dança.
Destacando a DI de forma mais ampla,
Alves et al. (2012) buscaram uma visão multidisciplinar em benefício de
crianças e adolescentes com DI matriculadas em uma escola de ensino
especializado para PCD de Juiz de Fora - MG. Lopes et al. (2019), por sua vez,
identificaram possíveis contribuições da dança e da expressão corporal ao
processo de ensino-aprendizagem de 2 discentes de 11 anos, um com DI e outro
com transtornos de aprendizagem (TA). Ambas investigações adotaram abordagens
qualitativas pautadas em estudos empíricos.
Destacando o período de 1999 a 2008, 3
estudos discutem a relação Dança e DV, assumindo abordagens qualitativas, em
um contexto não educacional. Em um estudo empírico, com jovens e adultos que
praticavam dança, e em outro bibliográfico, Figueiredo et al. (1999a; 1999b) ressaltam
a dança como meio de olhar o corpo para além do que os olhos enxergam. Essa
percepção permeia as reflexões teóricas de Cazé e Oliveira (2008) ao refletirem
sobre as possibilidades do corpo cego e sobre a interação com a dança na
construção da autonomia. Com isso, a dança é interpretada como parte do
conhecimento humano e como um espaço de construção de saberes na inter-relação entre
corpo, ambiente e cultura.
Sob abordagem qualitativa e de caráter
bibliográfico, Santos e Figueiredo (2003) exaltam a dança sem especificar as
deficiências, portanto alocados na categoria Dança e DG. Esses autores analisaram
a dança na educação formal e destacam a necessidade de pensar formas de
propiciar sua inclusão.
De abordagem qualitativa, 5 pesquisas
empíricas destacam a dança sob temáticas diferenciadas, sob perspectivas não
formais de educação, categorizadas como DA, DM, TEA, Mães de PCD e DI e DF,
respectivamente.
Lopes e Araújo (2009) focaram no
ensino de sapateado para 5 crianças surdas e 1 ouvinte, através da compreensão
das estruturas rítmicas e da percepção da vibração dos sons emitidos pelas batidas
dos pés. O grupo conseguiu executar as atividades propostas, adaptando-se a um
ritmo comum ou satisfatório.
Relatar e analisar os processos de
ensino e aprendizagem da dança de salão para uma jovem com DA e DV foi o
objetivo de Zaniboni e Rodrigues (2013). O aprendizado ultrapassou os limites
da técnica e possibilitou a superação física, emocional e social, além de viabilizar
a inclusão e a realização social.
Boato et al. (2014) verificaram as
contribuições de um trabalho de expressão corporal e dança no desenvolvimento
sócio emocional de uma criança com TEA. Comprovaram que a criança se comunicava
e relacionava-se com o meio quando respeitadas suas possibilidades e que a
dança pode influenciar significativamente no processo de inclusão social e
educacional.
Lopes e Araújo (2015) pesquisaram mães
de crianças e jovens com DF e DI que participavam de atividades práticas de
dança, via proposta de contato e improvisação, junto a seus filhos. Notou-se
interações significativas mediadas pelo movimento corporal, evidenciando
benefícios nos aspectos motores, emocionais e afetivos, das mães e dos filhos.
Oliveira et al. (2019) verificaram a
percepção de crianças sem deficiência sobre a performance de um grupo de
dançarinos com DI e DF, através da dança e por intermédio de atividades
interativas. Indícios de superação de preconceitos e construção de
conhecimentos acerca das PCD foram evidenciados.
Finalizando as descrições das
categorias e partindo para a análise do material, destacam-se 2 estudos de Revisão de Literatura que se situam na
interface entre as perspectivas educacional e não educacional.
Com ênfase no potencial da dança como
elemento de transformação pessoal e social para PCD, Santos et al. (2019) levantaram
essa temática nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Base Acervus (UNICAMP).
Não foi estabelecido recorte temporal para as buscas, e o estudo não apresenta
descrição sistematizada dos dados, aproximando-se de uma revisão narrativa de
literatura (Rother, 2007).
Rossi e Munster (2013) analisaram a
produção científica sobre dança e PCD em teses e dissertações nacionais em uma
abordagem quanti-qualitativa, utilizando uma revisão sistemática de literatura
(Rother, 2007), assim como a pesquisa apresentada aqui, realizada em periódicos
da EF, que se identificou como “Nosso Estudo”. Dessa forma, a seguir, serão
delineados aproximações e distanciamentos entre esses dois estudos.
Entende-se que os 2 estudos se
complementam, assumindo representatividade para a área investigativa, mesmo
enfatizando lócus diferenciados: o primeiro, dissertações e teses, o segundo,
periódicos brasileiros da EF. Sobre o recorte temporal, Rossi e Munster (2013) encerram
em 2012, e o Nosso Estudo abrange até o ano de 2019, representando, assim,
perspectiva de continuidade investigativa em relação ao primeiro, mesmo não se
tratando da mesma fonte de coleta de dados.
Rossi e Munster (2013) evidenciaram
que as pesquisas que envolvem dança e deficiência têm se desenvolvido em
diferentes contextos e finalidades, em que o contexto se refere a “onde” a
dança se insere, e a finalidade diz respeito ao “porquê” de essa dança se
desenvolver. Em suma, os contextos podem ser artístico, educacional, esportivo
e de reabilitação; e as finalidades, de performance, pedagógica, terapêutica e
competitiva/alto rendimento.
Rossi e Munster (2013) identificaram
predominância da dança no contexto educacional e artístico, com finalidades
pedagógicas e performáticas, respectivamente. O Nosso Estudo descreve a
predominância da dança desenvolvida no contexto não educacional, artístico e
com finalidades pedagógicas, performáticas e gerais. Em relação aos contextos, portanto,
os trabalhos diferem no quesito “onde” as pesquisas foram realizadas, porém se
aproximam nas finalidades, pois apresentam fins pedagógicos e performáticos, em
sua maioria.
De acordo com os resultados
apresentados por Rossi e Munster (2013), houve aumento de produção
(dissertações e teses) nos 5 anos anteriores a 2012, aspecto evidenciado também
nas publicações de Nosso Estudo, que, de acordo com o Figura 3, indica uma
regularidade anual de publicações entre 2007 e 2015, sendo interrompido em 2016
e retomado em 2019.
Em Rossi e Munster (2013), os estudos
prevalecem com ênfase em populações de adultos com DF, aporte teórico
predominantemente embasados na teoria de Rudolf Laban, perspectivas de
ensino-aprendizagem da dança, sendo a contemporânea e a DECR as mais acionadas.
Tais dados também coincidem com o Nosso Estudo, cuja categoria mais evidente
foi a DF com 09 estudos, com enfoque em DECR, e, para aquelas anunciadas, a
vertente contemporânea foi a mais destacada.
A DECR internacional surgiu nos anos
de 1960, na Europa, e teve sua primeira competição em 1977. No Brasil, a DCR
desenvolveu-se no final da década de 1980, por influência de grupos
estrangeiros de viés competitivo. Criou-se, a partir da iniciativa da UNICAMP,
ao promover o I Simpósio Internacional de DCR, em 2001 (Confederação Brasileira de Dança Esportiva em
Cadeira de Rodas [CBDCR], 2021).
Diante disso, esse maior número de
pesquisas sobre DECR pode ser explicado no Brasil por ser uma modalidade
esportiva, relativamente nova, que ainda necessita de mais pesquisas para sua
ampliação, sustentadas em contextualizações mais aprofundadas, como afirmam
Freitas e Tolocka (2005) e Rigo et al. (2019).
Por fim, os 2 estudos se diferem na
perspectiva estrutural. Enquanto Rossi e Munster (2013) apresentam e discutem
em vários aspectos as 35 produções identificadas, sem referenciá-las, Nosso
Estudo avança no sentido de descrever e referenciar os 25 artigos encontrados,
oportunizando maior proximidade com o conteúdo e acesso a ele.
Da mesma forma, outras vertentes de
problematização foram adotadas aqui, quais sejam, o estabelecimento de relações
com a produção na área e possíveis afinidades com demarcadores históricos,
sociais, culturais e legais e, também, identificação de quais instituições e
regiões do Brasil têm se dedicado à temática, assim como o perfil acadêmico de
suas autorias.
Dança e PCD nos periódicos brasileiros
da EF: tempo e espaço
Nota-se a prevalência de pesquisas empíricas
na amostra, 17 delas, e 8 de caráter bibliográfico. A predominância de
abordagens qualitativas de pesquisa é outro aspecto identificado em 20 dos
estudos, o que indica a valorização de aspectos subjetivos ressaltando a dança
como “[…] um elemento de transformação pessoal e social pois permite
experiências e reflexões sobre a aceitação de diferentes corpos e expressões,
sem atribuir juízo de valores negativos a qualquer tipo de diversidade.” (Santos et al., 2019, p. 271).
A aceitação de
diferentes corpos e expressões se evidencia ao observarmos a variedade de
deficiências e temáticas relativas aos estudos, assim como os sujeitos envolvidos, uma vez que, dos 17 estudos
empíricos, 9 enfocam isoladamente crianças, jovens e adultos, e 08, a
correlação entre essas gerações.
Considerando o recorte entre 1979 a 2019, a análise dos dados
demonstrou que o interesse investigativo sobre dança e deficiência se manifesta
nos periódicos a partir do ano de 1997, estendendo-se até 2019.
Observa-se uma linearidade de
publicações que varia entre 1 e 2 estudos anuais. Em 2008, o número de
publicações aumentou para 3, e, em 2019, foram contabilizadas 4. Presume-se que
as publicações tenham sido motivadas e influenciadas por legislações voltadas
às PCD criadas nos anos de 1990, em especial, no campo da educação, como afirma
Santos e Figueiredo (2003), tais como o Plano Decenal de Educação para Todos
(PDEPT), Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e, posteriormente, o Plano Nacional de
Educação (PNE) etc. (Brasil, 1993; 1996, 2014), como evidenciado na Figura 4.
Figura 4
Publicações/Ano
Fonte:
os autores.
Sobre o destaque, ainda que tímido,
para o maior número de publicações em 2019, não foi encontrada nenhuma relação
específica para tal fato, porém alguns pontos podem ser levantados. Os 4
estudos, Rigo et al. (2019), Lopes et al. (2019), Oliveira et al. (2019) e
Santos et al. (2019), apontam mudanças de perspectivas históricas sobre o corpo
e as PCD e discutem os processos de ensino e aprendizagem da dança e suas
possibilidades para comunicação, interação, contato, conhecimento, participação
e transformação. Dos 11 autores responsáveis pelas pesquisas, apenas 4 não têm
formação inicial em EF, mas trabalham com o conteúdo ou na área de educação,
assim como “[…] as discussões sobre corpo, linguagem corporal na Educação
Física, no Brasil, encontram-se, entre outros, ancoradas nos debates sobre a
fenomenologia […]” (Gehres et al., 2020, p. 4), com autores como Elenor Kunz. Esses
estudiosos exaltam uma perspectiva de corpo que vai além do biológico, aspecto
fortemente evidenciado na área de EF.
Outra variável que pode ser indicativo
de influência do número de publicações são as instituições de origem dos
pesquisadores e as respectivas regiões em que se encontram. Identificaram-se 4 das
5 regiões do Brasil: Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Sudeste, sendo esta última
com 19 estudos, destacando 13 instituições. Ver Tabela 2.
Publicações por Regiões do Brasil
Regiões |
Publicações |
Norte |
0 |
Nordeste |
1 |
Sul |
2 |
Centro-Oeste |
3 |
Sudeste |
13 |
Total |
19 |
Fonte: os autores.
Pode-se justificar esses valores pelo
fato de que no Sudeste encontram-se os núcleos e os grupos de pesquisas mais
representativos nessa área, destacando a UNICAMP e, respectivamente, a Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), UFRJ e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
confirmando que o crescimento da produção científica está diretamente
relacionado ao investimento na melhoria da infraestrutura de universidades e
institutos de pesquisa, investimentos que são destinados potencialmente à
região Sudeste, com destaque para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais (Sidone et al., 2016).
Em número mais reduzido, temos na
sequência a região Centro-Oeste, com publicações da UnB, da UFG e a da UCB,
convergidas em 4 publicações. A região Sul evidenciou 2 publicações, 1 pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) e outra da UFSC. A Universidade Federal da Bahia
(UFBA) demarca a região Nordeste com 1 publicação.
Por fim, saber a formação acadêmica
das autorias também é interessante. Das 25 publicações, evidenciaram-se 48
pesquisadores, dos quais 30 são graduados em EF, 6, em EF e ouros cursos, 3, em
Fisioterapia, 1, em Fisioterapia e outro curso, 1, em Pedagogia, 1, em
Pedagogia e outro curso, e 6, em outras áreas como Fonoaudiologia, Medicina,
Arte Educação, Dança, Administração de Empresas e Engenharia elétrica.
Entende-se que a área de maior interesse no tema é a EF,
resgatando a dança como um importante tema da cultura corporal, ainda que
negado historicamente por esta área (Coletivo de Autores, 1992). Por outro
lado, a correlação com outras áreas de conhecimento ressalta a “[…]
versatilidade da dança, capaz de envolver diferentes contextos e finalidades, a
caracteriza como agente interdisciplinar, pois pode abranger duas ou mais áreas
do conhecimento.” (Rossi & Munster, 2013, p. 185).
Considerações finais
Na análise de significados atribuídos
pela produção de conhecimento, em periódicos da EF, sobre dança e PCD, de 1979
a 2019, foram evidenciados 25 estudos, entre 1997 e 2019, em 8 dos 14
periódicos investigados.
Perspectivas não educacionais foram
eminentes na amostra, assim como olhares mais humanísticos sobre a temática,
destacando a DF. A região Sudeste se destaca na produção, assim como a formação
em EF nas autorias, relacionando-se ao fato de os periódicos serem da EF.
Diante do que foi apresentado,
conclui-se que ainda existem poucas publicações envolvendo dança e PCD na
literatura brasileira. É importante apontar essa questão, uma vez que, segundo
legislações específicas e referências teóricas da área, quando se trata das
PCD, a dança é um elemento que possibilita o desenvolvimento e poderia
impulsionar perspectivas inclusivas nos mais variados contextos sociais. Os
resultados indicam que os estudos com viés educativo e pedagógico estão
presentes tanto no contexto formal de educação quanto no não formal, reiterando
a importância dos estudos nos dois contextos, pois, como destaca Severo (2015),
a formação humana, como processo de ensino e aprendizagem, pode ser
diversificada e complexa e necessita de mais estudos.
Como limitações do estudo, dissertações
e teses, livros, textos completos e resumos em anais de eventos, não somente da
EF, são outras fontes para discussão da temática não contemplados aqui, mas
que, posteriormente, serão foco de nossas investigações. Portanto, longe de
esgotar as lacunas expostas, almejamos contribuir de forma positiva com essa
área de conhecimento, a fim de que o processo de inserção de PCD na sociedade
seja menos demarcado pela exclusão.
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[i] Especialista em Esportes e
Atividades Físicas Inclusivas para Pessoas com Deficiência pela Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF) (2018). Mestranda em Educação pela UFJF.
[ii] Doutor em Educação pela
Universidade Federal de Uberlândia (2014). Professor Adjunto da Faculdade de
Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora.