Referências em estudo

Controvérsias sobre natureza, cultura e etnicidade dos povos indígenas isolados em Rondônia

Autores

  • Felipe Vander Velden UFSCar

DOI:

https://doi.org/10.26512/rbla.v14i1.43435

Palavras-chave:

Povos isolados, Rondônia, Natureza, Cultura, Etnicidade

Resumo

As florestas de Rondônia abrigam um conjunto significativo de referências a povos indígenas isolados. Como a região abriga considerável diversidade linguística e cultural, a definição do pertencimento etnolinguístico desses povos-referências é bastante problemática. Para além desta indefinição em nível etnolinguístico, várias das referências aos isolados – sobretudo aquelas “em estudo” ou “não confirmadas”, ou chamadas simplesmente de “informação” – têm se prestado também à discussões em níveis que chamaremos de interétnico e específico, que discutem tanto a indianidade como a própria humanidade desses coletivos. Tratam-se de casos em que o caráter fantasmagórico desses povos parece ainda mais pronunciado, e de discussões não apenas sobre se vestígios são produtos de indígenas, mas mesmo se são resultantes de ações humanas. Entretanto, as denominadas “referências não confirmadas” têm sido pouco estudadas em suas múltiplas dimensões. Este artigo advoga por uma maior atenção a tais cenários como forma de expandir nossa reflexão sobre a natureza do que pode constituir um coletivo indígena e humano.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Albert, Bruce. 1992. A fumaça do metal: história e representações do contato entre os Yanomami. Anuário Antropológico 89, 151-189.

Altini, Emília & Bavaresco, Volmir. 2011. Povos indígenas isolados ameaçados pelos grandes projetos em Rondônia. In G. Loebens & L. Neves (orgs.), Povos indígenas isolados na Amazônia: a luta pela sobrevivência (pp. 87-98). Manaus: EDUA/CIMI.

Arnt, Ricardo; Pinto, Lúcio Flávio; Pinto, Ricardo & Martinelli, Pedro. 1998. Panará: a volta dos índios gigantes. São Paulo: Instituto Socioambiental.

Beltrão, Luiz. 1977. O índio, um mito brasileiro. Petrópolis: Vozes.

Bessire, Lucas. 2014. Behold the black cayman: a chronicle of Ayoreo life. Chicago: University of Chicago Press

Canuto, Marcello-Andrea & Yaeger, Jason (eds.). 2000. The Archaeology of Communities: A New World Perspective. London: Routledge.

Cartagenes, Rosa & Lobato, João Carlos. 1991. À espera do desastre. In C. A. Ricardo (ed.), Povos indígenas no Brasil, 1987/88/89/90 (pp. 445-446). São Paulo: Centro Ecumênico de Documentação e Informação.

Crevels, Mily & van der Voort, Hein. 2008. The Guaporé-Mamoré region as a linguistic area. In P. Muysken (ed.), From linguistic areas to areal linguistics (pp. 151-179). Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.

Everett, Daniel. 2019. Linguagem: a história da maior invenção da humanidade. São Paulo: Editora Contexto.

Fabian, Johannes. 1983. Time and the other: how anthropology makes its object. New York: Columbia University Press.

Forth, Gregory. 2012. Images of Wildman in Southeast Asia: an anthropological perspective. London: Routledge.

Giucci, Guillermo. 1992. Viajantes do maravilhoso – O Novo Mundo. São Paulo: Companhia das Letras.

Gomes, Denise M. Cavalcante. 2008. Cotidiano e poder na Amazônia pré-colonial. São Paulo: Edusp/Fapesp.

Gow, Peter. 2011. “Me deixa em paz!” Um relato etnográfico preliminar sobre o isolamento voluntário dos Mashco. Revista de Antropologia 54(1), 11-46.

Heckenberger, Michael; Neves, Eduardo Góes & Peterson, James. 1998. De onde surgem os modelos? As origens e expansões Tupi na Amazônia Central. Revista de Antropologia 41, 69-96.

High, Casey. 2015. Lost and found: contesting isolation and cultivating contact in Amazonian Ecuador. HAU – Journal of Ethnographic Theory 39(3), 195-221.

Kirksey, S. Eben & Helmreich, Stefan. 2010. The emergence of multispecies ethnography. Cultural Anthropology 25(4), 545-576.

Kroeber, Theodora. 1964. Ishi in two worlds: a biography of the last wild Indian in North America. Berkeley: University of California Press.

Leonel Jr., Mauro. 1995. Etnodicéia Uruéu-au-au. San Pablo: Edusp/IAMÁ.

Lévi-Strauss, Claude. 2004 [1967]. O cru e o cozido. São Paulo: Cosac Naify.

Magaña, Edmundo & Mason, Peter (eds). 1986. Myth and the Imaginary in the New World - Latin American Studies no. 34. Amsterdam: CEDLA.

Mason, Peter. 1990. Deconstructing America: representations of the other. London: Routledge.

Meireles, Denise Maldi. 1991. O complexo cultural do marico: sociedades indígenas dos rios Branco, Colorado e Mequens, afluentes do Médio Guaporé. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Série Antropologia 7(2), 209-269.

Mendes da Rocha, Adelino. 2014. Guerreiros do norte – memórias de um tempo histórico – para uma etnografia Yawalapiti. Dissertação de Mestrado em Antropologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Milanez, Felipe & Shepard Jr., Glenn. 2016. The few remaining: genocide survivors and the Brazilian state. Tipití: Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America 14(1), 131-134.

Milanez, Felipe (org.). 2015. Memórias sertanistas. São Paulo: SESC Edições.

_____. 2020. Tragédia na floresta: morte de sertanista da Funai é reflexo do massacre aos índios isolados. Carta Capital, 11/09/2020 (disponível em https://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/tragedia-na-floresta-morte-de-sertanista-da-funai-e-reflexo-do-massacre-aos-indios-isolados/, acesso em 04/05/2022).

Mota, Rogério Vargas. 2011. Relatório de Expedição na Terra Indígena Karitiana e na Floresta Nacional do Bom Futuro, Referência Nº 45. Porto Velho: FPEM/FUNAI, não publicado.

Nimuendajú, Curt. 1981. Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Nossa, Leonencio. 2007. Homens invisíveis. Rio de Janeiro: Record.

Novais, Juliene Moreira; Mendonça, Andreza; Marinho, Lorena Estevão; Corti, Adrielen & Ferreira, Raissa Fonseca. 2014. Manutenção dos recursos naturais na Floresta Nacional do Bom Futuro e seu entorno, Rondônia, Brasil. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental – REGET 18(1), 587-606.

Octavio, Conrado Rodrigo; Coelho, Maria Emilia & Alcântara e Silva, Victor (orgs.). 2020. Proteção e isolamento em perspectiva: experiências do Projeto Proteção Etnoambiental de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato na Amazônia. Brasília: Centro de Trabalho Indigenista.

Pedroso, Dulce M. Rios. 1994. O povo invisível: a história dos avá-canoeiros nos séculos XVIII e XIX. Goiânia: UCG/Furnas Centrais Elétricas S.A..

Peggion, Edmundo. 2011a. Relações em perpétuo desequilíbrio: a organização dualista dos povos Kagwahiva da Amazônia. São Paulo: Annablume/Instituto Socioambiental.

_____. 2011b. Conflitos e alianças indígenas no sul do estado do Amazonas. O caso dos Tenharim do rio Marmelos (Tupi-Kagwahiva). In E. C. Lima & L. Córdoba (orgs.), Os outros dos outros: relações de alteridade na etnologia sul-americana (pp. 71-81). Curitiba: Editora UFPR.

Pereira, Amanda Villa. 2018. Demarcando vestígios: definindo (o território de) indígenas em isolamento voluntário na Terra Indígena Massaco. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal de São Carlos.

Pinto de Oliveira, Odenir2013. Sinais de chegadas. Cuiabá: Carlini & Caniato Editorial.

Pratt, Mary Louise. 1999. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: Edusc.

Raffles, Hugh. 2007. Jews, lice, and history. Public Culture, 19(3): 521-566.

Ramirez, Henri. 2006. As línguas indígenas do Alto Madeira: estatuto atual e bibliografia básica. Língua Viva, 1(1), 1-16.

_____. 2010. Etnônimos e topônimos no Madeira (séculos XVI-XX): um sem-número de equívocos. Revista Brasileira de Linguística Antropológica 2(2), 13-58.

Reel, Monte. 2011. O último da tribo. São Paulo: Companhia das Letras.

Ribeiro, Darcy. 1996 [1970]. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. São Paulo: Companhia das Letras.

Ricardo, Fany & Gongora, Majoí Fávero (orgs.). 2019. Cercos e resistências: povos indígenas isolados na Amazônia brasileira. São Paulo: Instituto Socioambiental.

Rodrigues, Aryon D. 1964. classificação do tronco linguístico Tupí. Revista de Antropologia 12(1/2), 99-104.

_____. 2007. Tupí languages in Rondônia and in eastern Bolivia. In L. Wetzels (ed.), Language endangerment and endangered languages (pp. 355-363). Leiden: CNWS Publications.

Santos, Marcelo dos. 1996. Índios acossados em Rondônia. In C. A. Ricardo (org.), Povos Indígenas no Brasil 1991–1995 (pp. 550-553). São Paulo: Instituto Socioambiental.

Schmitt, Jean-Claude. 1999. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São Paulo: Companhia das Letras.

Shiratori, Karen. 2019. O homem que falava cantando: um panorama da presença de povos indígena Kagwahiva em isolamento na bacia do rio Madeira. In F. Ricardo & M. Gongora (orgs.), Cercos e resistências: povos indígenas isolados na Amazônia brasileira (pp. 196-204). São Paulo: Instituto Socioambiental.

Silva, Adnilson. 2010. Territorialidades e identidade do coletivo Kawahib da Terra Indígena Uu-Eu-Wau-Wau em Rondônia: ‘orevaki are’ (reencontro) dos ‘marcadores territoriais. Tese de Doutorado em Geografia, Universidade Federal do Paraná.

Tavares, Luciana Keller. 2020. Vivendo no “vazio” – relações entre os sobreviventes Kanoê e Akuntsú da Terra Indígena Rio Omerê (RO). Dissertação de Mestrado em Antropologia, Universidade de Brasília.

Teófilo da Silva, Cristhian. 2010. Cativando Maíra: a sobrevivência dos índios avá-canoeiros no alto rio Tocantins. São Paulo/Goiânia: Annablume/PUC Goiás.

Toral, André. 1984/1985. Os índios negros ou os Carijó de Goiás – a história dos Avá-Canoeiro. Revista de Antropologia 27/28, 287-325.

Vander Velden, Felipe. 2015. Los niños perdidos de Yjko: historia y alteridad en las relaciones de los karitianas con los ‘bajitos’ aislados de la FLONA de Bom Futuro (Rondonia, Brasil). In C. Martínez & D. Villar (eds.), En el corazón de América del Sur Antropología, Arqueología, Historia - Volumen 2 (pp. 213-228). Santa Cruz de la Sierra: Biblioteca del Museo de Historia/UAGRM.

_____. 2016. Serão eles o que a gente foi? Karitiana, Puruborá e dois povos indígenas isolados em Rondônia. Revista Brasileira de Linguística Antropológica 8, 105-120.

Vander Velden, Felipe & Lolli, Pedro. 2020. Das áreas culturais às redes de relações. Os sistemas regionais ameríndios em análise. In I. J. de R. Machado, S. Fleischer. D. L. Montardo & J. Cavignac (orgs.), Ciências Sociais Hoje: Antropologia (pp. 352-407). São Paulo: Zeppelini Publishers.

Vaz, Antenor. 2011. Isolados no Brasil. Políticas de estado: da tutela para a política de direitos – uma questão resolvida? Informe IWGIA 10, 1-64.

_____. 2013. Brazil. State policy: from custody to the policy of rights — a solved issue? In IWGIA/IPES (org.), Indigenous peoples in voluntary isolation and initial contact (pp. 12-55). Copenhagen/Pamplona Iruñea: IWGIA/IPES.

Walker, Robert; Kesler, Dylan & Hill, Kim. 2016. Are isolated indigenous populations headed toward extinction? PLoS ONE 11(3), e0150987. doi:10.1371/ journal.pone.0150987 .

Waskul, Dennis & Waskul, Michele. 2016. Ghostly encounters: the haunting of everyday life. Philadelphia: Temple University Press.

White, David Gordon. 1991. Myths of the Dog-Man. Chicago: The University of Chicago Press.

WRM (World Rainforest Movement). 2013. Brasil: Os povos indígenas isolados continuam ameaçados. Boletim Mensal WRM, no 194 (disponível em https://www.wrm.org.uy/pt/boletins/nro-194, acesso em 10/04/2022).

Downloads

Publicado

2022-12-29

Como Citar

Vander Velden, F. (2022). Referências em estudo : Controvérsias sobre natureza, cultura e etnicidade dos povos indígenas isolados em Rondônia. Revista Brasileira De Linguística Antropológica, 14(1), 241–276. https://doi.org/10.26512/rbla.v14i1.43435

Edição

Seção

Dossiê