Travestis na Pandemia de Covid-19: estratégias necropolíticas

Resumo

Partindo de um relato biográfico de uma travesti ativista, morta pelo novo coronavírus, este artigo pretende abordar as complexas intersecções entre Estado, cisgeneridade e necropolíticas no contexto da recente pandemia de covid-19. Ao refletirmos a respeito de seu impacto sobre os setores marginalizados da sociedade, pudemos pôr ao plano central os conceitos de biopolítica, de Michel Foucault, e necropolítica de Achille Mbembe. Argumentamos que, apesar de haver afetado todo o mundo, o vírus não é “democrático”, como foi comum dizer, mas ao contrário atingiu gravemente aquelas vidas que, como coloca Judith Butler, não são passíveis de luto. É nosso interesse com este artigo discutir, a partir do caso de travestis brasileiras durante a pandemia, as ramificações que uma crise humanitária e sanitária como a covid-19 tem sobre aqueles setores sociais que nada valem àqueles que gerenciam a vida e a morte.