Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas (LAGERI):

20 anos de atuação

Stephen Grant Baines

Organizador[1]

O Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas (LAGERI), grupo de pesquisa e atividade de Extensão da Universidade de Brasília (UnB) no Departamento de Antropologia (DAN), foi criado em 1997, como o Grupo de Estudos em Relações Interétnicas (GERI) no DAN/UnB, por minha iniciativa junto com o então doutorando no DAN/UnB, Maxim Repetto, atualmente professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) em Boa Vista, Roraima. O GERI foi transformado em LAGERI por decisão do colegiado do DAN/UnB a partir de março de 2012, e se tornou uma Atividade de Extensão Universitária no mesmo departamento. Ao longo dos vinte anos da sua existência, entre 1997 e 2017, o LAGERI vem servindo como laboratório de pesquisas e palco para a discussão em equipe de trabalhos dentro da temática de relações interétnicas. É um espaço, em suas reuniões, para a apresentação e discussão de pesquisas individuais tanto de alunos, em níveis de doutorado e mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) no DAN/UnB, quanto de alunos da Graduação, pesquisadores que estão realizando estágios de pós-doutorado no DAN/UnB, professores da UnB, alunos indígenas, lideranças indígenas, e acadêmicos de outras instituições, pesquisadores internacionais que realizam pesquisas na área de etnologia indígena no Canadá, na Austrália, na Argentina, e em outros países. O LAGERI é uma atividade estreitamente relacionada às pesquisas do seu coordenador para unir as atividades de alunos da Pós-Graduação e da Graduação, além de colegas do corpo docente do DAN/UnB, do Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA/UnB), e de outros departamentos e Universidades nacionais e internacionais.

Após apresentar os objetivos e atividades do LAGERI, apresentarei, brevemente, alguns dos pesquisadores que participam deste laboratório e finalmente comentarei, sucintamente, os seis trabalhos deste dossiê, que incluem artigos escritos por mestrandos, doutorandos e doutores em antropologia.

Desde seu início em 1997, o atual LAGERI organiza programas de reuniões no DAN/UnB, com intervalo aproximado de três em três semanas durante os períodos dos semestres da UnB. O objetivo, diferente de seminários, é de abrir espaço para a apresentação de pesquisas que estão em elaboração e em andamento, além de trabalhos finais, para dar espaço a alunos e pesquisadores de diversos níveis para apresentar e discutir seus trabalhos em um grupo de pesquisa dinâmico. Além de ter consolidado uma equipe de pesquisadores em etnologia indígena com site na Internet (http://lageri.webnode.com). As referidas reuniões servem como um espaço crítico de diálogo acerca de temas referentes à etnologia indígena, à etnicidade e às relações interétnicas em termos abrangentes sendo estimulada a divulgação de trabalhos em nosso Boletim on-line. A elaboração e manutenção da página do LAGERI (anteriormente no site do DAN/UnB e atualmente na webnode) contam com o apoio de vários alunos do DAN/UnB.

Não é possível citar aqui todos os participantes do LAGERI, ao longo dos últimos vinte anos, entretanto, para mencionar apenas alguns, destaco a participação de vários alunos indígenas do PPGAS/DAN. Gersem José dos Santos Luciano, do povo Baniwa, que participou intensivamente no LAGERI, defendeu sua tese de doutorado, “Educação para Manejo e Domesticação do Mundo - entre a escola ideal e a escola real - os dilemas da educação escolar indígena no Alto Rio Negro”, em 2011, sob a minha orientação, sendo o primeiro indígena doutor em antropologia no Brasil. O mesmo ganhou menção honrosa no Prêmio CAPES de Tese 2012. Em 2008, Gersem Baniwa fez parceria com o LAGERI no Curso de Formação Política de Lideranças Indígenas do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas (CINEP).

Em anos mais recentes, com o ingresso de mais alunos indígenas no DAN/UnB, houve uma participação destacada destes no LAGERI. Em 02 de setembro de 2016, Jósimo da Costa Constant, graduado em antropologia do DAN/UnB, apresentou o trabalho, “As Práticas Médicas Puyanawa e os Serviços de Saúde” no LAGERI. Em 07 de abril de 2017, Francisco Sarmento, indígena Tukano, mestrando em antropologia social pelo PPGAS/DAN/UnB apresentou o trabalho, “Povos Indígenas e mudanças climáticas no Rio Negro, Amazonas” e, em 22 de setembro de 2017, o aluno Felipe Sotto Maior Cruz, do povo Tuxá, apresentou o trabalho, "Memórias do desterro memórias da resistência: O povo indígena Tuxá e a Barragem de Itaparica." Atualmente, três orientandos meus, o doutorando Franklin Paulo Eduardo da Silva, do povo Baniwa, a doutoranda Léia da Silva Ramos, do povo Makuxi, e o mestrando José Carlos Batista Magalhães, do povo Tupinambá. estão colaborando na reestruturação do site do LAGERI, junto com outros orientandos do PPGAS e da Graduação/DAN/UnB.

As atividades de cooperação internacional, facilitadas e promovidas pelo LAGERI, enriquecem os Projetos de Pesquisa que coordenei e coordeno no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) como o projeto vigente, “Etnologia Indígena em Países Diversos: Brasil, Canadá, Austrália (com pesquisas etnográficas)”, Processo: 308864/2015-8, Produtividade em Pesquisa - PQ 1A, com vigência de março de 2016 a fevereiro de 2021, e os projetos de pesquisa anteriores como, “Estilos de Etnologia Indígena: Brasil, Austrália, Canadá (com pesquisas etnográficas)” – vigência de março de 2012 a fevereiro de 2016, Proc.: 305002/2011-2 PQ Nível: 1A. Sou bolsista de pesquisa do CNPq desde 1991 e bolsista PQ 1A desde 2008.

O projeto de pesquisa atual realiza uma comparação dos estilos de etnologia indígena que se constituíram historicamente em contextos de Estados nacionais diferentes, focalizando, sobretudo, os estilos de etnologia indígena que se praticam na Austrália (pesquisa iniciada em 1992) e no Canadá (pesquisa iniciada em 1995) a partir do estilo de etnologia indígena que se faz no Brasil, país em que realizei o doutorado em antropologia na UnB sob a orientação do professor Julio Cezar Melatti. Desde o segundo semestre de 2016, a partir de um estágio de pesquisa de três meses, realizada em licença de capacitação, na Universidade de Buenos Aires (UBA), a comparação está sendo ampliada para incluir a etnologia indígena que se faz na Argentina, para abranger países de colonização britânica (Austrália), britânica e francesa (Canadá), e dois países da América do Sul (Brasil e Argentina) de colonização portuguesa e espanhola respectivamente, todos esses quatro países com histórias e culturas muito distintas. Os objetivos incluem também pesquisas etnográficas com povos indígenas no Brasil, enfocando o tema de nacionalidade e etnicidade em fronteiras internacionais, a partir do caso dos povos Makuxi e Wapichana na fronteira Roraima/Brasil-Guiana (uma das minhas áreas de pesquisa desde 2001), em que realizo etapas de pesquisa de campo em recessos de aulas na UnB em janeiro/fevereiro. Os objetivos incluem, também, uma pesquisa etnográfica junto a indígenas presos no sistema penitenciário de Roraima (RR), a partir de um levantamento sobre a Situação Prisional de Índios em Roraima, a convite do professor Cristhian Teófilo da Silva pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), realizado em 2008, que também venho desenvolvendo, desde então, todos os anos durante o recesso de aulas da UnB.

Os participantes do LAGERI

Todos os meus alunos orientandos do DAN/UnB e do ELA/UnB (departamento onde estou credenciado para orientar alunos e ministrar disciplinas do Programa de Pós-Graduação desde 2008) participam como membros ativos do LAGERI, além de alguns profissionais ex-orientandos, e pesquisadores nacionais e internacionais. Menciono aqui apenas alguns dos pesquisadores, como o professor Bruce Granville Miller da University of British Columbia (UBC), Canadá, especialista em etnologia indígena no Canadá, professora Barbara Glowczewski do College de France, especialista em etnologia indígena na Austrália, e professor Sebastián Valverde da Universidade de Buenos Aires (UBA/CONICET), Argentina, especialista em etnologia indígena junto aos povos Mapuche no sudoeste da Argentina em região de fronteira com o Chile, que também segue uma linha de pesquisa com indígenas na cidade de Buenos Aires. O professor Maxim Repetto, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), co-fundador do LAGERI em 1997, vem colaborando em parceria com o LAGERI junto à UFRR, inclusive no Curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena e o Programa de Pós-graduação em Sociedade e Fronteira (PPGSOF).

Participo do Grupo de Pesquisa “Povos Indígenas, Populações Amazônicas e Estudos Transdisciplinares”, cadastrado no CNPq, coordenado pelo professor Maxim Repetto, da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

O professor Luis Eugenio Campos Muñoz, professor da Universidad Academia de Humanismo Cristiano (UAHC)/ Centro de Estudios Interculturales e Indígenas (CIIR), presidente do Colegio de Antropólogos de Chile e bolsista do FONDECYT, que defendeu sua tese de doutorado sob a minha orientação em 2000, no DAN/UnB, intitulada, “Pertencemos a um Grupo Étnico chamado Mixteco”, vem colaborando com o LAGERI desde que foi doutorando, na organização de eventos internacionais e em projetos de cooperação internacional.

Ao longo dos anos, o LAGERI vem contando com a participação de vários acadêmicos internacionais como os professores mencionados Miller, Valverde desde 2008, e Glowczewski, pesquisadora com mais de trinta e seis anos de experiência junto a povos indígenas na Austrália, Directeur de Recherche (DR1), Laboratoire d'Anthropologie Sociale, EHSS, CNRS, Collège de France, Paris, França e também, membra do International Advisory Board do Cairns Institute da James Cook University, Austrália. Além desses pesquisadores que participaram em reuniões do LAGERI, em seminários e em aulas do PPGAS/DAN/UnB, houve a participação de pesquisadores/as na forma de apresentações do LAGERI, como a visita em 09 de outubro de 2014, da professora Dra. Emma Kowal, Principal Research Fellow, Centre for Citizenship and Globalisation; Associate Professor of Anthropology, School of Humanities and Social Sciences, Deakin University, Melbourne, Austrália, que resultou em uma apresentação com o título, “Trapped in the Gap: Doing Good in Indigenous Australia”, sobre a política indigenista no Território do Norte da Austrália. Emma Kowal é professora da Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais em Deakin University, Melbourne, Austrália, concluiu a Graduação em Medicina e Cirurgia, na University of Melbourne em 2000, e obteve o PhD em antropologia médica pela University of Melbourne em 2007.

No primeiro semestre de 2015, a professora Barbara Glowczewski (França) e o professor Bruce Granville Miller (Canadá) que realiza pesquisas junto ao povos indígenas Salish do litoral oeste do Canadá e noroeste dos Estados Unidos da América há mais de trinta anos, participaram em atividades do LAGERI no DAN/UnB e também participaram em quatro aulas de uma disciplina de “Estilos de Antropologia”, ministrada por mim, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UnB, consolidando ainda mais os laços estabelecidos ao longo dos últimos anos com dois pesquisadores internacionais de excelência acadêmica, e incorporando novos alunos do PPGAS/UnB em linhas de pesquisa relacionadas à etnologia indígena nestes dois países.

Em 20 de março de 2015, a Dra. Glowczewski apresentou o trabalho: “Indigenous criminalization and the endless struggle for social justice and sovereignty in Australia”, no LAGERI, além de apresentar no Seminário do DAN/UnB.

Em 24 de abril de 2015, o Dr. Miller, Departamento de Antropologia, University of British Columbia (UBC), Vancouver, BC, Canadá, apresentou o trabalho: “Canadian Indians at the US-Canadian Borderlands,” no LAGERI. Em seguida o professor Bruce Miller apresentou junto comigo palestra no Centro de Estudos Ameríndios (CEstA), Universidade de São Paulo (USP), em 27 de abril de 2015, sobre Etnologia no Canadá enquanto eu apresentei sobre “Pesquisa sobre estilos de etnologia indígena em contextos nacionais - Brasil, Canadá, Austrália”.

No segundo semestre de 2017, o LAGERI contou com uma apresentação do professor Adjunto IV, Elias Nazareno, da Faculdade de História e do Curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás (UFG), que estava realizando um estágio de pós-doutorado sob a minha supervisão entre setembro e dezembro de 2017. Em 06 de outubro de 2017, o professor Elias Nazareno apresentou, “História, Tempo e Lugar entre o povo indígena Bero Biawa Mahãdu (Javaé)”.

Entre os pesquisadores colaboradores, o professor Maxim Repetto, co-fundador do LAGERI em 1997, atua na área de antropologia e educação indígena no Curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena. É professor Associado nível III permanente e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteira (PPGSOF) e professor colaborador no Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde (PROCISA) na Universidade Federal de Roraima (UFRR). Após concluir a graduação em História na Universidad de Chile em 1994, Maxim realizou o mestrado, “Política Indigenista en el Cono Sur: Argentina Y Chile frente a los Mapuche, Siglos XIX y XX (1997) e o doutorado com tese intitulada, “Roteiro de uma etnografia colaborativa: as organizações indígenas e a construção de uma educação diferenciada em Roraima” (2002), sob a minha supervisão, e desde o início mantem uma forte colaboração com o LAGERI, mantendo a cooperação junto à UFRR, inclusive no Curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena e o PPGSOF, em que venho colaborando em 2002, e em janeiro e em julho de 2005, em janeiro de 2006, 2007, 2008, 2009, fevereiro de 2011, 2012, 2014 e janeiro/fevereiro de 2015 e 2017. O professor Maxim vem realizando pesquisa sobre educação indígena e políticas indígenas no estado de Roraima, além de participar de um levantamento sobre índios na cidade de Boa Vista em colaboração com a Organização de Índios na Cidade (ODIC). Em 2009-2010 o professor Maxim Repetto realizou um estágio de Pós-doutorado no México, focalizando educação intercultural indígena.

Outro pesquisador colaborador que tem uma associação longa e estreita com o LAGERI é o professor Cristhian Teófilo da Silva, que trabalhou sob a minha orientação acadêmica no DAN/UnB na Graduação (1998), Mestrado (2001) e Doutorado (2005), e posteriormente foi bolsista do PRODOC/CAPES no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC/UnB - atualmente o Departamento de Estudos Latino-Americanos - ELA/UnB) a partir de junho de 2005, e foi concursado em 2007 como professor, onde foi diretor. O professor Cristhian colaborou estreitamente com as atividades do LAGERI desde que foi estudante do DAN/UnB e coordenou o LAGERI durante um ano, quando estive em licença de pós-doutorado no Canadá e na Austrália em 2009-2010. Depois criou, em 2011, o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Movimentos Indígenas Políticas Indigenistas e Indigenismo (LAEPI), no âmbito do ELA/UnB que tem forte parceria com o LAGERI. Em 2009, professor Cristhian realizou um estágio de pesquisa no Canadá, com parte do auxílio financeiro do CNPq recebido pelo coordenador deste projeto de pesquisa através do Edital MCT/CNPq 15/2007 – UNIVERSAL – FAIXA A, (Processo 476102/2007-3) que foi aplicado também com alunos da pós-graduação em Antropologia da UnB. Posteriormente professor Cristhian realizou um estágio de pós-doutorado de um ano de duração na Université Laval, Canadá (2013) focalizando políticas indigenistas no Canadá. É Professor Associado I e bolsista de Produtividade de Pesquisa nível 2, do CNPq e, em 2017, criou o Observatório dos Direitos e Políticas Indigenistas (OBIND) no ELA/UnB em que participo.

Relativo aos professores/pesquisadores de universidades do exterior, Bruce Granville Miller é professor titular no Departamento de Antropologia da University of British Columbia, Vancouver, com Ph.D. da Arizona State University, 1989, com tese intitulada, “A Sociocultural Explanation of the Election of Women to Formal Office: The Upper Skagit Case”. Seus projetos de pesquisa incluem pesquisas sobre povos indígenas em fronteiras internacionais, o uso de Tribunais de Direitos Humanos por povos indígenas, maneiras em que processos jurídicos redefinem povos indígenas e seus direitos, e o não reconhecimento de povos indígenas pelo Estado. Professor Bruce Miller e eu mantemos contatos profissionais de pesquisa desde 1995, na UBC, Canadá. Desde 2008 participamos juntos na coordenação de simpósios e Grupos de Trabalhos (GTs) em eventos internacionais de Antropologia no Brasil, no Canadá e nos Estados Unidos da América. Ofertamos em conjunto, uma disciplina de leitura de dois meses de duração sobre “Etnologia Indígena no Canadá” no PPGAS/DAN no 2º semestre de 2009 e Bruce Miller apresentou em seminário do LAGERI, DAN, UnB no mesmo semestre, e foi meu supervisor acadêmico no estágio de pós-doutorado na UBC, Canadá em 2009. Dr. Miller também participou de aulas da disciplina do PPGAS/DAN/UnB, “Estilos de Antropologia: Etnologia Indígena no Brasil, Canadá e Austrália” no 1º semestre de 2015, apresentando, também, um seminário, no LAGERI/DAN/UnB, em 24.04.2015, intitulado, “Canadian Indians at the US-Canadian Borderlands”, e ambos apresentamos trabalhos no seminário do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA), Universidade de São Paulo (USP), em 27 de abril de 2015, sobre Etnologia no Canadá na USP, São Paulo.

Professora Barbara Glowczewski, Directrice de Recherche (DR1) no CNRS, Doutora em Letras e Ciências Humanas (1988), membra do Laboratoire d'Anthropologie Sociale desde 1992. Compara a situação dos Aborígines da Austrália com aquela de outros grupos subalternizados e invisibilizados por sua história. Realiza pesquisas de campo regulares junto ao povo Warlpiri do deserto central da Austrália (desde 1979), ao povo Yawuru e seus vizinhos na região Kimberley (1991-2004) e junto aos habitantes de Palm Island (desde 2004). Autora de vários livros e muitos artigos sobre mitos ritos, arte, criação onírica, transformações sociais, culturais e políticas de Aborígines da Austrália. A mesma leciona na l'EHESS. É autora de produções audiovisuais e membro do International Advisory Board do Cairns Institute em James Cook University onde também é professora adjunta. Em 2013 ela lecionou na UFSC, ocasião em que visitou o DAN/UnB pela primeira vez, voltando em 2015. Seus interesses são Antropologia, História, Estudos do Gênero, Mídia Digital, Etnologia Indígena, pensamento decolonial, e Gilles Deleuze and Felix Guattari. Barbara Glowczewksi apresentou palestra no DAN/UnB em 2013, e em 2015, quando apresentou a palestra, “Indigenous criminalization and the endless struggle for social justice and sovereignty in Australia”, no LAGERI/DAN/UnB em 20.03.2015, e em Seminário do DAN, e participou em duas aulas da disciplina do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, “Estilos de Antropologia: Etnologia Indígena no Brasil, Canadá e Austrália”, ministrada por mim no 1º semestre de 2015.

Professora Francesca Merlan, Professora Titular de Antropologia, Australian National University (ANU) College of Arts and Social Sciences, Camberra, Austrália, que concluiu seu PhD na Universidade de New Mexico, Estados Unidos da América. Suas áreas de interesse abrangem antropologia do desenvolvimento, antropologia linguística, relações raciais e étnicas, pesquisas sobre sociedades aborígines e ilhéus do Estreito de Torres, indianidade, nacionalismo, e transformações no norte da Austrália, a construção da identidade nacional australiana em relação a povos indígenas, reivindicações territoriais indígenas. Foi minha supervisora acadêmica durante o pós-doutorado na ANU, Austrália em 2010.

Professor Sebastián Valverde, do Instituto de Ciencias Antropológicas (ICA), Faculdad de Filosofia y Letras (FFyL), Universidad de Buenos Aires (UBA), Argentina e pesquisador adjunto do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Buenos Aires é doutor em antropologia pela UBA. Realizou visitas ao DAN/UnB e apresentou seminários no LAGERI. Coordenou diversos eventos científicos em antropologia e temos organizados publicações. Participou da coordenação da Mesa Redonda 26, “Movilizaciones sócio-étnicas y Estados Nacionales en el Mercosur: transformaciones, reconfiguraciones y paradojas actuales”, na XI Reunião de Antropologia do Mercosur (RAM), em Montevideo, Uruguai em 30.11.2015 a 04.12.2015, e co-coordenar um simpósio “Pueblos indígenas y tradicionales, movilizaciones étnicas y Estados Nacionales: transformaciones, reelaboraciones culturales y paradojas contemporáneas”, junto também com o professor Luis Eugenio Campos Muñoz (UAHC/CIIR, Chile), no Segundo Congreso Internacional “Los pueblos indígenas de América Latina siglos XIX-XXI” (CIPIAL) em Santa Rosa, Argentina, em 20 a 23 de setembro de 2016 do qual participo do Comité Organizador. Luis Eugenio Campos Muñoz e Sebastián Valverde, organizaram juntos comigo em Mesa Redonda e Grupo de Trabalho na XII RAM, em Posadas, Argentina, em dezembro de 2017, além da RAM em Córdoba em 2013.

O professor Valverde também me incorporou como pesquisador colaborador, representando o LAGERI, em projetos de extensão universitária da FFyL/UBA: “Proyecto UBANEX - Indígenas en la ciudad: articulación y fortalecimiento de espacios etnopolíticos en él Área Metropolitana de Buenos Aires - UBA/FFyL” (2017-2018), e no anterior “Proyecto UBANEX - Del territorio a la ciudad: movimientos indígenas, políticas públicas y acceso a los derechos en los ámbitos urbanos - UBA/FFyL” (2016-2017).

O professor Giovani José da Silva é professor adjunto do curso de História da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Possui graduação e mestrado em História pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1995 e 2004) e doutorado em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em 2009. Foi pesquisador colaborador pleno do DAN/UnB, onde realizou estágio pós-doutoral em Antropologia sob a minha supervisão acadêmica (2012-2013). Colaboro também com o Grupo de pesquisa, “História, Antropologia e Ensino de História em fronteiras”, coordenado pelo professor Giovani José da Silva da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). 

O professor Rodrigo Grünewald, é professor titular em Antropologia, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Paraíba, e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Tradições (LETRA/UFCG). Concluiu o doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2000. Atuou como visiting scholar no Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia em Berkeley (2005-2006), e realiza pesquisas junto a sociedades indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, tanto ligados à educação indígena quanto ao de reconhecimento étnico e territorial de quilombos e ainda em questão de conflito socioambiental envolvendo uma comunidade ribeirinha. Sou membro do LETRA e professor Grünewald é membro do LAGERI.

Professora Isis Maria Cunha Lustosa, doutora em Geografia (2012) pela Universidade Federal de Goiás (UFG)/Instituto de Estudos Socioambientais (IESA), pesquisadora externa do Laboratório de Estudos Pesquisas das Dinâmicas Territoriais (Laboter)/IESA/UFG, e membro do “Proyecto UBANEX”/UBA/FFyL/ICA. Apresentou sua pesquisa de doutorado em reunião do LAGERI em 2008, e em 2014, foi incorporada ao LAGERI como pesquisadora colaboradora a partir de sua pesquisa junto aos povos indígenas Tremembé da Barra do Mundaú e Jenipapo-Kanindé, do Ceará. No LAGERI, atua nas linhas de pesquisa Turismo em Terras Indígenas, Movimentos Indígenas e Políticas Públicas a partir das pesquisas que realizamos com povos indígenas do Nordeste do Brasil. Dra. Lustosa é uma das idealizadoras/coordenadoras do Colóquio de Turismo em Terras Indígenas e de Comunidades Tradicionais (CTurTI), evento internacional itinerante na América Latina, que tem estreita parceria com o LAGERI, onde participo como membro da Comissão Organizadora/Científica em todas as edições no Brasil e exterior, o qual gerou a linha de pesquisa em Turismo em Terras Indígenas no LAGERI. O CTurTI originou-se em 2013 por meio da UFG/IESA/Laboter, e atualmente encontra-se em organização da quinta edição, a ser realizada no Chile em 2018. Em 2016, houve parceria do LAGERI e o Laboter em disciplina de doutorado que ofertamos em conjunto no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, na UBA/FFyL/ICA.

O LAGERI é desenvolvido em cooperação com outros pesquisadores de diversas instituições nacionais e internacionais. O projeto de pesquisa em questão nasceu de dois projetos iniciados em colaboração estreita com o Professor Roberto Cardoso de Oliveira nos anos 1990, e vem se desdobrando a partir de pesquisas etnográficas. O projeto envolve cooperação internacional com o Departamento de Antropologia da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), Vancouver, Canadá, com a colaboração do professor Bruce Granville Miller, onde como coordenador do LAGERI realizei um estágio de pós-doutorado na UBC, de cinco meses, em 2009, sob a supervisão acadêmica do professor Bruce Miller, e atividades acadêmicas no Brasil e no Canadá e EUA junto com este professor ao longo dos últimos nove anos, e com o Departamento de Antropologia da Australian National University (ANU) em Camberra, Austrália, onde realizei um estágio de pós-doutorado de seis meses em 2010, sob a supervisão acadêmica da professor Francesca Merlan, além de outros pesquisadores interessados como a professora Barbara Glowczewski do College de France, especialista em etnologia indígena na Austrália, e professor Sebastián Valverde da Universidade de Buenos Aires UBA/CONICET, Argentina, que realiza pesquisas junto aos Mapuche no sudoeste da Argentina em fronteira com o Chile, e com indígenas na cidade de Buenos Aires e com quem realizei um estágio de pós-doutorado na UBA de três meses, em 2017. Esses exemplos de cooperação internacional também contribuem para a internacionalização do DAN/UnB.

Desde 1985, estou tendo um intercâmbio muito proveitoso que inclui participação em atividades acadêmicas com o professor João Pacheco de Oliveira do Museu Nacional/UFRJ, cujos trabalhos na linha de pesquisa de povos indígenas e Estados nacionais têm sido de grande valia desde o período em que estava escrevendo minha tese de doutorado (1986-88). Em 2016, o mesmo participou de um seminário organizado pelo LAGERI no DAN/UnB. Desde 2013, venho realizando parcerias com a professora Eliane Cantarino O’Dwyer, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro, na co-coordenação de eventos.

Por meio da minha coordenação do Comitê Povos Tradicionais, Meio Ambiente e Grandes Projetos, da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), gestão 2017-2018, e vice-coordenação do mesmo Comitê da ABA na gestão 2015-2016, o LAGERI também contribui na atuação deste Comitê.

O dossiê LAGERI 20 anos – contribuições

É um grande prazer reunir neste dossiê os trabalhos de seis membros do LAGERI que realizaram apresentações em reuniões deste laboratório ao longo dos últimos anos. Apesar de representar apenas alguns dos muitos membros do LAGERI, esses seis artigos apresentados neste dossiê mostram a variedade de pesquisas realizadas, por alunos e ex-alunos meus, embora todos compartilhem um interesse em estudos sobre relações interétnicas. O trabalho de Lidiane da Conceição Alves, que ingressou no mestrado em antropologia da UnB em 2017, e realiza pesquisa sobre o tema de professores indígenas e educação escolar indígena entre o povo indígena Apinajé no Norte do Estado do Tocantins, aborda a relação do povo indígena Panhi (melhor conhecido na literatura como Apinajé) com a instituição escolar. A autora busca uma interpretação da escola como espaço de fronteira simbólica, como espaço privilegiado de diálogo entre os mundos indígena e não indígena.

Alessandro Roberto de Oliveira, ex-aluno do DAN/UnB, e atualmente professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB, defendeu sua dissertação de mestrado “Política e Políticos Indígenas: a experiência Xakriabá” em 2008, e sua tese de doutorado, “Tempo dos netos: Abundância e escassez nas redes de discursos ecológicos entre os Wapichana na fronteira Brasil-Guiana”, em 2012. Sua contribuição ao dossiê é um trabalho fundamentado em sua pesquisa realizada para o mestrado entre os Xakriabá, e aborda o impacto da mistura nas concepções interétnicas acerca da indianidade, a partir de um foco etnográfico que é um episódio de interpelação à identidade de um lavrador Xakriabá. A partir da noção de “colonialidade do poder” do sociólogo peruano, Aníbal Quijano, o autor examina um momento em que o movimento indígena começou a desestabilizar a colonialidade do poder no município de São João das Missões, no norte do estado de Minas Gerais. O autor descreve a experiência da etnicidade Xakriabá como um microcosmo da crise do colonialismo interno, em que um movimento de descolonização das relações de poder visa eliminar a exploração e a servidão afirmando que uma perspectiva decolonial está sendo inscrita e vivida pelos jovens Xakriabá.

O artigo de Jurema Machado de Andrade Souza, que ingressou no doutorado em antropologia da UnB em 2015, sobre o tema dos indígenas da Reserva Caramuru-Paraguassu e o Estado Brasileiro, busca demonstrar os arranjos étnicos concernentes à coletividade autodenominada Pataxó Hãhãhãi, na Reserva Indígena Caramuru-Paraguassu, no sul do estado da Bahia. O foco deste artigo, fruto de muitos anos de pesquisa junto a esses indígenas, está nas implicações políticas e territoriais, procurando discutir de que maneira as distintas percepções sobre as histórias de cada grupo/família e etnia produziram uma narrativa de luta que possibilitou a retomada integral do território indígena ao longo das três últimas décadas. A autora ressalta que a escassez de terra e a desterritorialização imputaram a esses indígenas novos reordenamentos de ocupação a partir de novas alianças e denominações étnicas em uma situação atual em que a tensão em torno das chamadas origens e etnias está ficando ainda mais evidente.

O artigo de João Francisco Kleba Lisboa, que defendeu sua tese de doutorado no DAN/UnB, “Acadêmicos Indígenas em Roraima e a Construção da Interculturalidade Indígena na Universidade: entre a formação e a transformação”, em 2017, retoma o debate em torno da noção de etnogênese, estendendo-o ao contexto histórico da América Latina e do Caribe e relacionando-o à categoria de Povos Indígenas, utilizada por movimentos indígenas de cunho étnico-político em diversas partes do mundo.

Walison Vasconcelos Pascoal defendeu sua dissertação de mestrado no DAN/UnB, intitulada, “Imagens da Sociopolítica Borum e suas Transformações” em 2010, e atualmente é doutorando em antropologia social da Universidade Federal de Minas Gerais, onde continua sua pesquisa junto aos Borun/Krenak. Seu artigo neste dossiê aborda a experiência histórica de resistência do povo Krenak a uma longa trajetória de violências estatais, presente em suas narrativas na palavra luta. O artigo aborda os diferentes significados de luta para o povo Krenak, dando ênfase à luta que está ancorada em uma consciência histórica, em que os jovens que passam a assumir a função de líderes buscam desenvolver projetos culturais focados nos conhecimentos tradicionais, fenômeno que chamam “ressurgência cultural”. Os projetos são pensados enquanto lutas que se orientam para o futuro, focado em aspectos culturais como a língua e a religião. O artigo é fundamentado na pesquisa colaborativa que está sendo realizada pelo autor para o registro dos conhecimentos associados à estátua sagrada do povo Krenak.

Lediane Fani Felske defendeu sua tese de doutorado intitulada, “Dança e imortalidade. Igreja, festa e xamanismo entre os Ikólóéhj Gavião de Rondônia”, no DAN/UnB, em 2017. O artigo, que versa sobre esse povo indígena, visa compreender, após uma convivência com missionários da Missão Novas Tribos do Brasil desde 1965, e uma decisão tomada por eles em 2006 de levar as danças para a igreja durante os cultos festivos, os múltiplos significados das festas da igreja para os Ikólóéhj. A autora sugere que as festas da igreja constituam uma forma atualizada das festas tradicionais que estão em constante transformação, onde a igreja se tornou um dos principais instrumentos para que os Ikólóéhj exerçam sua criatividade.

Estes seis trabalhos, dentro muitos outros, impossíveis de ser inseridos nesse dossiê, são exemplos da riqueza de produção acadêmica que resulta do LAGERI e contribuem para os estudos sobre relações interétnicas.



[1] Professor titular, Universidade de Brasília (UnB), Departamento de Antropologia (DAN); Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA/UnB); pesquisador PQ 1A do CNPq; Coordenador do Comitê Povos Tradicionais, Meio Ambiente e Grandes Projetos, Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Gestão 2017-2018; Coordenador do Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas (LAGERI). e-mail: stephen@unb.br.