A materialidade corporificada das relações entre seres humanos e não-humanos: considerações a partir das obras de Marília Floôr Kosby e Soledad Castresana
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187207Palavras-chave:
animais não-humanos; ecocrítica; Marília Floôr Kosby; Soledad CastresanaResumo
As obras Mugido [ou diário de uma doula], da poeta brasileira Marília Floôr Kosby (2017), e Carneada, da poeta argentina Soledad Castresana (2007), aceitam o convívio tanto com a indeterminação da vida que se inicia quanto com a inevitabilidade da morte, sem se furtar ao questionamento sobre nossa responsabilidade e participação em sistemas de dominação, reducionismo e expropriação. Ao questionarem a cisão entre humano e animal, que organiza o modo como vivemos, tomando o mundo e os demais seres vivos como recurso, as poetas nos convocam a pensar, também, as relações de gênero em que a ordem patriarcal separa e hierarquiza homens e mulheres, aproximando-as dos seres não humanos. Os poemas se corporificam, nos pedem que os habitemos enquanto corpo — carne — e nos colocam diante da relação com a morte e a violência, mas também das dores e alegrias de quem gera vida, da multiplicação de um amor multiespecífico que prolifera entre fêmeas inespecíficas. A reflexão aqui proposta busca estabelecer diálogo entre os dois poemários citados e a pesquisa de Raj Patel e Jason Moore (2017), Vinciane Despret (2021) e Donna Haraway (2022), além de outras autoras e autores, que indicam horizontes para um bem viver e um morrer com dignidade, convocando-nos à desarticulação, numa comunicação sempre imprevista, porém profusa de significados.
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