Impactos sobre a corporalidade negra: as poéticas que resistem em Conceição Evaristo e Luedji Luna
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40187313Palavras-chave:
mulher negra; Conceição Evaristo; Luedji Luna; sistemas econômicos.Resumo
Este artigo tem como principal objetivo evidenciar consequências impostas ao corpo negro feminino por projetos/execuções dos sistemas econômicos brasileiros. Partindo da leitura do poema Vozes-mulheres, de Conceição Evaristo (2017), passando pela das canções: Ain't Got No e Chororô, presentes no álbum Bom mesmo é estar debaixo d’água, da cantautora Luedji Luna (2020), analisa-se a miserabilidade à qual a população negra é socialmente relegada como resultado da escravidão, com seus resquícios ecoantes na contemporaneidade. Por meio da metodologia qualitativa, enseja-se corroborar o quanto a precariedade imposta a pessoas negras e as desigualdades que a provocam ganharam contornos evidentes durante a pandemia da COVID-19 no Brasil. O empobrecimento da população negra é analisado, à luz de pesquisas de Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg (1982) e Neusa Souza (2021), como uma configuração social, um lugar natural. Enquanto constatação, evidenciam-se mulheres negras subvertendo, por meio de suas intelectualidades, artes e Escrevivência, essas imposições sociais naturalizadas, resultando na resposta à seguinte indagação: é possível vencer a escassez econômica e a violência abundante as quais os sistemas econômicos brasileiros impõem aos corpos negros?
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