A arte como refúgio: intertextualidade, espaço e (imagi)nação em “Aqueles dois”, de Caio Fernando Abreu
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-40186010Palavras-chave:
sexualidade, intertextualidade, espaço, cosmopolitismo, Ditadura MilitarResumo
Este artigo analisa a intertextualidade em “Aqueles dois”, do livro Morangos mofados (1982), de Caio Fernando Abreu. Diversos estudos investigam o conto por meio da teoria queer, mas só alguns examinam atentamente suas diversas referências intertextuais à arte, à poesia, à música e ao cinema. As obras de arte e cultura que são referenciadas, aliás, tendem a vir do exterior, contribuindo para visão cosmopolita do conto para um Brasil que ainda estava em plena transição de Ditadura Militar à democracia. Portanto, o artigo argumenta que a intertextualidade em “Aqueles dois” não somente sugere a atração homoerótica entre os protagonistas, Raul e Saul, mas também enriquece o significado simbólico dos espaços públicos e íntimos do conto. Especificamente, as referências ao quadro “Quarto em Arles”, de Vincent Van Gogh, reforçam o senso de segurança e tranquilidade que os protagonistas gozam enquanto estão juntos em casa ”“ e fora do olhar público. Além de pintura, as referências à poesia de Walt Whitman, aos boleros hispano-americanos e ao cinema de Hollywood não apenas intensificam a temática homoafetiva do conto, mas também representam um refúgio aonde os protagonistas fogem da repressão da sociedade brasileira, mesmo só através da arte e da imaginação. Deste modo, a intertextualidade é fundamental para a dimensão social da obra de Caio Fernando Abreu. Apesar da abertura da vida cultural do Brasil, depois da promulgação da Lei de Anistia em 1979, “Aqueles dois” atesta a homofobia como legado da ditadura durante o período da transição, e continua sendo uma leitura relevante na atualidade.
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