Fronteiras e esquecimento: Noite dentro da noite, de Joca Reiners Terron
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-4018604Palavras-chave:
memória, esquecimento, fronteiras, escritas de si, Joca Reiners TerronResumo
Parte da literatura brasileira contemporânea evidencia um vigoroso esforço na luta contra o esquecimento sobre o período da ditadura civil-militar vivida entre os anos 1964 e 1985. Entre tal produção, encontram-se os trabalhos de uma nova geração de escritores que lidam com os restos do passado a partir, muitas vezes, do registro autobiográfico, de olhares permeados pela distância e pela perspectiva infantil. Em alguns desses relatos, a presença de personagens viajantes, desterritorializados, e deslocando-se entre fronteiras e idiomas parecem sugerir que o trabalho da memória se aprofunda a partir do trânsito, do caminhar e de desvios que frequentemente eludem os limites impostos por barreiras identitárias e de nacionalidade. É a partir dessa percepção e de uma reflexão sobre os conflitos em torno das memórias do último ciclo de ditaduras do Cone Sul que proponho a leitura de Noite dentro da noite (2017a), de Joca Reiners Terron. Apresentado como uma autobiografia, o romance é narrado pelo personagem Curt Meyer-Clason, o conhecido tradutor de Guimarães Rosa para o alemão. É esse narrador misterioso que lentamente enlaça a infância do protagonista amnésico ao passado recente do Brasil e do Paraguai sob ditaduras. Tal proposta de leitura é inevitavelmente atravessada pelo atual contexto de esgarçamento do horizonte democrático contemporâneo.
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