Entre Exu e Ogum: políticas do sagrado no teatro de Abdias do Nascimento

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DOI:

https://doi.org/10.1590/2316-4018597

Palavras-chave:

drama, mitologia dos Orixás, Abdias do Nascimento

Resumo

Estudo crítico das determinantes míticas na caracterização das personagens e na composição da ação em Sortilégio II, drama de Abdias do Nascimento. O teatro de Abdias obedece a paradigmas de composição da cena que não se baseiam mais na organicidade sintagmática da fábula, mas, apresentando os complexos e paixões de Emanuel, busca uma organização descontínua e paradigmática, para dar conta da vida de uma única e dominante subjetividade em cena. Em Sortilégio II, essa configuração teatral pós-catástrofe é ideal para tecer os processos rememorativos de Emanuel, na tentativa de projetar no presente da cena o passado traumático do personagem, marcado pela violência social, pelos complexos raciais e pelas contraditórias relações eróticas com Ifigênia e Margarida. Na peça, além das definições estruturais da ação, o sagrado afro-brasileiro e a mitologia dos Orixás são importantes modulações culturais que interferem nas relações de poder entre os agentes e nos processos de subjetivação que acometem Emanuel. Uma rede social e simbólica que, sob a tutela de Exu e Ogum, concorre para a libertação e deificação do personagem. Por meio do reconhecimento da cultura negra, do pertencimento étnico-racial e do sacrifício mítico, Emanuel deixa o mundo racista dos homens para habitar o Orún, o plano divino dos Orixás.

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Publicado

01/24/2020

Como Citar

Lima, R. dos S. . (2020). Entre Exu e Ogum: políticas do sagrado no teatro de Abdias do Nascimento. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (59), 1–10. https://doi.org/10.1590/2316-4018597