A literatura com a tesoura na mão:

sobre Brandão, Burroughs e Gysin

Autores

  • Joaquim Adelino Dantas de Oliveira Universidade Federal do Rio Grande do Norte

DOI:

https://doi.org/10.1590/2316-40185028

Resumo

Zero, de Loyola Brandão, é um romance que desperta desconforto e estranhamento em seus leitores. A violência e o caos, tanto temáticos quanto estéticos, e o próprio procedimento de composição a partir de fragmentos e retalhos, são elementos que causam esse estranhamento. Nesse artigo, partimos da hipótese de que a voz experimental que rege o texto de Zero luta não somente contra a Ditadura Militar brasileira (seu contexto histórico), mas sim se insere numa esteira de obras que, histórica e perpetuamente, posicionam-se contra um discurso ”“ ou qualquer discurso ”“ de opressão. Nosso diálogo crítico se foca na composição estético-estrutural de Zero e nas suas consequências crítico-políticas. Portanto, optamos por trazer à tona a relação entre essa obra e a experimental e libertária técnica literária desenvolvida por Burroughs e Gysin, tentando enxergar, assim, Zero enquanto uma espécie de romance cut-up.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AUERBACH, Erich (2011). Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva.

BAKHTIN, Mikhail (2009). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec.

BARTHES, Roland (1996). Aula. São Paulo: Cultrix.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola (1986). Zero. São Paulo: Clube do Livro.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola (2006). Zero, ou como escrever livros debaixo de uma ditadura. In: DEL VECHIO, Angelo; TELAROLLI, Sylvia (Org.). Literatura e política brasileira no século XX. São Paulo: Cultura Acadêmica, p. 15-45.

BRANDÃO, Ignácio de Loyola (2010). Zero. 13. ed. rev. e ampl. São Paulo: Global.

BURROUGHS, William S. (1992). The soft machine. New York: Groove Press.

BURROUGHS, William S. (1994a). Nova Express. New York: Groove Press.

BURROUGHS, William S. (1994b). The ticket that exploded. New York: Groove Press.

BURROUGHS, William S. (2001). Naked lunch. New York: Groove Press.

BURROUGHS, William S. (2005). Almoço nu. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

BURROUGHS, William S.; GYSIN, Brion (1978). The third mind. New York: The Viking Press.

CALEGARI, Lizandro Carlos (2010). A ficção brasileira pós-64: notas sobre o autoritarismo e a fragmentação em A festa de Ivan Ângelo. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 35, n. 58, p. 54-73, jan./jun.

CALEGARI, Lizandro Carlos (2011). Uma estética fragmentária: a perspectiva crítica em Zero e a organização da linguagem literária. Interdisciplinar, Itabaiana, ano 6, v. 13, p. 165-175, jan./jun.

CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo (1975). Teoria da Poesia Concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo: Duas Cidades.

CANDIDO, Antonio (2006). Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul.

CASTILHO, Pedro Teixeira (2005). O mais além da escrita na obra “The ticket that exploded” de William Burroughs. Em tese, Belo Horizonte, v. 9, p. 245-252, dez.

DALCASTAGNÈ, Regina (1996). O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro. Brasília: Editora da UnB.

LAVORATI, Carla; TEIXEIRA, Níncia Cecília Ribas Borges (2008). O romance reportagem e a crítica social. Revista Voos, Guairacá, n. 5, p. 77-84, mar.

PECCIOLI, Marcelo Romani (2012). Drogas: experimentações estéticas e literárias. Aurora, São Paulo, v. 5, n. 15, p. 107-126.

PEREIRA, Helena Bonito Couto (2005). Semelhanças que não são meras coincidências: narrativas pós-modernas no Brasil e no México. Todas as letras, São Paulo, ano 7, n. 7 (ed. esp.), p. 65-74.

REIMÃO, Sandra (2008). Dois livros censurados: Feliz ano novo e Zero. Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo, ano 29, n. 50, p. 149-161.

ROBINSON, Edward S. (2011). Shift linguals: cut-up narratives from William S. Burroughs to the present. New York: Rodopi.

VASCONCELOS, Mauricio S. (1996). Rimbaud cut-up Burroughs. Revista de Estudos de Literatura, Belo Horizonte, v. 4, p. 241-257.

VERTUAN, Ederson (2013). Gênero, fragmentação e montagem em Zero, de Ignácio de Loyola Brandão. E-scrita, Nilópolis, v. 4, n. 1, p. 134-152, jan./abr.

WILLER, Claudio (2009). Geração Beat. Porto Alegre: L&PM. (Coleção L&PM Pocket, v. 756).

Downloads

Publicado

01/28/2017

Como Citar

Oliveira, J. A. D. de. (2017). A literatura com a tesoura na mão:: sobre Brandão, Burroughs e Gysin. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (50), 488–512. https://doi.org/10.1590/2316-40185028

Edição

Seção

Seção Tema Livre