A pandemia de COVID-19 e os efeitos do discurso obscurantista instaurado nas redes sociais digitais

Autores

  • Anderson Nowogrodzki da Silva Universidade de Brasília/GEPLE/NELIM

Palavras-chave:

Ecolinguística; Discurso obscurantista; Redes sociais digitais; Pandemia; Fake news.

Resumo

O presente artigo tem por objetivo discutir os efeitos da disseminação do discurso obscurantista no Brasil durante a pandemia de COVID-19, além de enfatizar suas implicações e reflexos para o discurso científico e para a sua legitimidade social. Observou-se que as redes sociais digitais (WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter etc.) se tornaram ambientes virtuais em que se proliferam em grande escala e com extrema velocidade enunciados que possibilitam constituir e reafirmar as identidades dos usuários. Tomou forma, desse modo, um sistema em que o que se diz importa menos do que o modo como o dizer reitera a face criada para o usuário. A interação comunicativa virtual pressupõe que se compartilhe com velocidade, já que as informações não cessam em se atualizar, e as redes sociais virtuais propiciam um ambiente confortável para que se leiam apenas textos curtos (sem ser necessário procurar fontes ou fazer uma leitura crítica) e para que se possa compartilhá-los com apenas um toque, que é condicionado pela imagem de si que se busca criar para a audiência invisível com quem se está conectado. Abre-se espaço, assim, para a reprodução massiva de enunciados que não compactuam com fatos (as chamadas Fake News). A democratização dos ambientes virtuais aliada ao cenário político-social instaurado no Brasil em 2020 possibilitou a emergência de um forte negacionismo científico, sustentado pela difusão das Fake News, já que uma série de perspectivas discursivas que permeiam a atualidade se alicerçam na oposição ao discurso científico. Partindo da perspectiva da Linguística Ecossistêmica e da Análise do Discurso Ecossistêmica, propostas por Couto (2013), Couto, Couto & Borges (2015) e Couto & Fernandes (2021), e dos princípios da interação comunicativa virtual proposta por Nowogrodzki da Silva (2018), observa-se que o discurso obscurantista virtual e sua legitimação feita por figuras públicas, tendo por base fake news ou a distorção dos fatos, estabeleceram e disseminaram valores de verdade que se opõem ao que já era tido como axioma pela ciência. Deslegitima-se o discurso científico a fim de exaltar elementos ideológicos que perpassam identidades, como o conservadorismo, a moralidade cristã, a ideologia neoliberal, o nacionalismo e a idolatria da força militar na condução do Estado. Para clarificar essas relações, analisam-se enunciados compartilhados via redes sociais digitais diversas que reproduzam o discurso obscurantista, buscando entender o impacto que causam nos diversos âmbitos da sociedade durante um momento calamitoso, como a pandemia de COVID-19, no Brasil.

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Biografia do Autor

Anderson Nowogrodzki da Silva, Universidade de Brasília/GEPLE/NELIM

Doutorando em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Brasília (2017 - Atual). Mestre em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (2015 - 2016). Graduado em Letras, habilitação em português e inglês, pela Universidade Estadual de Goiás (2011 - 2014). Pesquisador da área de Estudos Linguísticos, concentrando-se no campo da Ecolinguística, Análise do Discurso de Linha Francesa e Análise do Discurso Ecológica. Interessa-se, também, pelos estudos relacionados à Linguística Aplicada. Pesquisador do Núcleo de Estudos de Ecolinguística e Imaginário (NELIM) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Linguística Ecossistêmica, cadastrados no CNPq.

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Publicado

2021-08-17

Como Citar

Nowogrodzki da Silva, A. . (2021). A pandemia de COVID-19 e os efeitos do discurso obscurantista instaurado nas redes sociais digitais . Ecolinguística: Revista Brasileira De Ecologia E Linguagem (ECO-REBEL), 7(2), 46–65. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/erbel/article/view/39371

Edição

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Artigos