O drama trágico do desdobramento da personalidade em Crime e Castigo
DOI:
https://doi.org/10.26512/dramaturgias.v0i10.24891Palavras-chave:
Drama trágico. Aflição e terror. Revolução ficcional. Crime e Castigo. Dostoiévski.Resumo
O presente estudo interpreta o romance de Dostoiévski, Crime e Castigo, em intercá‚mbio dialógico com o drama trágico. Defendemos a tese de que a conduta transgressora de Raskólnikov não se fundamenta no ambiente ideológico de seu tempo, mas tem como móbil recoÌ‚ndito a sua personalidade demoníaca, insuflada por desenfreada vontade de potência. O satanismo que o subjuga não irrompe como determinação exterior, mas emerge do profundo desejo de mando e comando, que remonta ao antigo mitologema grego do homem e ao moderno filosofema da subjetividade. Em consoná‚ncia com a disposição do protagonista, o drama romanesco se concentra, do início ao fim, na representação das emoções trágicas de aflição e terror, suscitadas pelo plano inicial e pela execução final do morticínio. Na representação da cons- ciência trágica de Raskólnikov, Dostoiévski submete a história do romance a uma revolução radical. A sutileza artística da correlação isomórfica do tema da personalidade cindida em polêmica consigo mesma e da forma monodia- lógica da narrativa singulariza o ficcionista russo. Conforme demonstramos, a revolução ficcional do romance em foco não se limita ao monodiálogo originário do drama teatral, sempre recitado pelo personagem na forma pronominal da primeira pessoa, mas também se atesta no monodiálogo especificamente narrativo, expresso na terceira pessoa e caracterizado pela interação da consciência do narrador e da experiência passional do protagonista.
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