PELO RETORNO À ÁFRICA: MEMÓRIAS SOBRE PAI ADÃO EM TERRITÓRIOS TRANSATLÂNTICOS (RECIFE, 1877-1936)
DOI:
https://doi.org/10.26512/ciga.v10i2.33654Resumo
Felipe Sabino da Costa, o Adão, nasceu em 1877, no engenho Itaguary, na Madalena, arredores do Recife, onde passou a mocidade. Filho de um escravo, casou com Maria da Hora Ananias e teve cinco filhos. Por razões religiosas circulou entre o Recife, Salvador e Maceió. Também foi à África para atualizar seus saberes. Passou anos em Lagos até desentender-se com sua parentela islâmica e rumar para a região central da África. De regresso ao Brasil, instalara-se em Água Fria, na Catimbolândia - maior concentração de xangôs entre as cidades do Recife e de Olinda, no começo do século XX, com mais de 35 casas de culto. Em 1919, assume a liderança do terreiro Ilê Axé Obá Ogunté, após a morte da ialorixá Tia Inês, exercendo sua trajetória de babalorixá até 1936 quando ocorre sua morte. As veredas e lugares do carismático Pai Adão (ou Adamaci - seu nome muçulmano), seus “retornos à África” por territórios transatlânticos no Nordeste do Brasil e em Lagos, suas redes de relações e tramas de poder são resgatadas no artigo ora descrito, apreendendo os marcos biográficos do afrorreligioso como memórias contextualizadas num período de profundas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais no Brasil.
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Referências
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