Medeia escrava.

Sobre Amada de Toni Morrison

Authors

DOI:

https://doi.org/10.14195/1984-249X_22_11

Keywords:

infanticídio, trágico, escravidão, fantasma, Eros

Abstract

O ensaio traz uma leitura do romance Amada, de Toni Morrison, tendo como foco a evidente semelhança existente entre a história escrita pela autora contemporânea e o mito clássico de Medeia, e ressaltando as distinções de uma em relação à outra. A comparação entre as duas protagonistas já foi realizada mais de uma vez, e essa também não é a primeira obra que, por ter como protagonista uma mulher que assassina os próprios filhos, foi comparada à mítica personagem grega. O recurso das mulheres ao horrível infanticídio, como reação a uma situação trágica, tem sido recorrente ao longo da história: tanto da que realmente acontece, quanto da criada por ficções. E na dialética entre realidade e ficção pode ser percebida a primeira grande diferença entre as duas narrativas. Enquanto Medeia é uma personagem mítica, a personagem de Toni Morrison, Sethe, é uma ficção, mas uma ficção baseada em uma pessoa real, Margaret Garner, que de fato assassinou a filha e tornou-se, com esse gesto, personagem importante, quase mítica, na luta dos abolicionistas norte-americanos. A segunda diferença a ser destacada reside na motivação do ato em torno do qual a história gira: amor próprio, em um caso; amor materno, em outro. E a terceira e última grande distinção ressaltada está diretamente ligada à primeira, isto é, à dialética entre ficção e realidade. Por partir de uma história que realmente aconteceu, a personagem de Toni Morrison tem de encarar a reação a seu ato assassino no assim chamado mundo real, cumprir pena na cadeia e, depois, na vida. A solução deus ex-machina fica reservada às heroínas míticas. Se há um deus capaz de salvar Sethe, é um bastante fenomênico e atende pelo nome de Eros.

Downloads

Download data is not yet available.

Published

2017-12-22

How to Cite

Kangussu, I. (2017). Medeia escrava.: Sobre Amada de Toni Morrison. Revista Archai, (22), 283. https://doi.org/10.14195/1984-249X_22_11