A direção da utopia: uma leitura do romance Oiobomé, de Nei Lopes

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DOI:

https://doi.org/10.1590/2316-40185717

Palavras-chave:

épico, nação, racismo, utopia

Resumo

Este artigo faz uma crítica do romance juvenil Oiobomé: a epopeia de uma nação, do escritor carioca Nei Lopes (1942-). Partindo do pressuposto de que a obra foi concebida como narrativa de utopia e, ao mesmo tempo, narrativa pedagógica, com vistas a combater o racismo, a crítica mostra que as limitações criadas pela lógica da nação dirimem o tom utópico do romance, possibilitando mesmo que seja lido como uma narrativa de distopia. Pari passu, com base em ideias de Paul Gilroy e, principalmente, de Édouard Glissant a respeito da maneira mais produtiva de, hoje em dia, serem concebidas narrativas utópicas que vislumbrem um mundo onde o racismo e outras desigualdades sociais estejam superadas, chega-se aos conceitos de novo épico e de lógica da relação. As ideias que tais expressões definem são ilustradas pelo confronto entre os universos ficcionais do romance Oiobomé e do filme Pantera Negra, ao final do qual se evidencia por que o primeiro, ao contrário do segundo, não se encaixa nesses conceitos.

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Publicado

07/10/2019

Como Citar

Fernandes, B. (2019). A direção da utopia: uma leitura do romance Oiobomé, de Nei Lopes. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (57), 1–14. https://doi.org/10.1590/2316-40185717