Trapos que aconchegam: o envelhecimento feminino em Lygia Fagundes Telles
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-4018569Palavras-chave:
Lygia Fagundes Telles, As horas nuas, velhice, literaturaResumo
Lygia Fagundes Telles publicou As horas nuas no ano de 1989, entregando-nos Rosa Ambrósio, uma personagem marcante que se confronta com o cotidiano da velhice após uma carreira profissional toda dedicada à arte. Atriz e intérprete da vida, Rosa Ambrósio, ao sair dos palcos, percebe-se sendo interpretada a partir de preconceitos alheios: o olhar que lhe dirigem agora vê nela o outro, a idosa, sobre a qual é comum ter uma opinião generalista e estereotipada ou sequer ter opinião, a indiferença poupando-nos do medo de ver. Personifica-se na figura de Rosa Ambrósio uma trajetória do palco para o esquecimento, do público para o privado. Observar o seu percurso permite vislumbrar a importância do exercício mediador da literatura para a conscientização do modo como lidamos com a velhice, em especial com o envelhecimento feminino. Nossa análise parte da seguinte questão: até que ponto os novos papeis hoje assumidos pelos idosos se opõem a estereótipos e preconceitos e em que medida revalidam em novos formatos posicionamentos perniciosos que há muito deveriam ter sido ultrapassados? Para a elaboração do artigo, foram pesquisados textos de Simone de Beauvoir, Ecléa Bosi e Robert Burtler, publicados nas décadas de 60 e 70, mas ainda hoje referências no estudo da velhice, e obras de publicação mais recente, como, entre outras, as de Guita Debert, António Fonseca, Miriam Goldenberg e Sibila Marques. Conclui-se que a visão negativa da velhice, se ainda fortemente enraizada, já se comprovou como equívoco e que estereótipos excludentes começam a ser substituídos por uma mudança gradativa de viés, resultante também da ampliação de pesquisas na área, que envolvem diferentes setores, métodos e linhas de pensamento, enfatizando a variedade e inconclusividade de definições sobre o tema.
Downloads
Referências
BACHELARD, Gaston (2008). A poética do espaço. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes.
BEAUVOIR, Simone de (1990). A velhice. Tradução de Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
BOSI, Ecléa (1994). Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras.
BURTLER, Robert (1969). Age-Ism: another form of bigotry. The Gerontologist, Oxford, v. 9, n. 4, p. 243-246. Disponível em: https://academic.oup.com/gerontologist/article-abstract/9/4_Part_1/243/569551. Acesso em: 10 fev. 2018.
CARVALHO, Alfredo L. C. (2016). A fascinante ficção de Lygia Fagundes Telles: seis estudos críticos. São Paulo: Vitrine Literária.
DEBERT, Guita (1999). A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Fapesp.
ELIAS, Norbert (2001). A solidão dos moribundos seguido de “Envelhecer e morrer”. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
FONSECA, António Manuel (Coord.) (2004). Desenvolvimento humano e envelhecimento. Lisboa: Climepsi.
GOLDENBERG, Miriam (2013). A bela velhice. São Paulo: Record.
MARQUES, Sibila (2011). Discriminação da Terceira Idade. Lisboa: FFMS.
PEIXOTO, Clarice (1998). Entre o estigma e a compaixão e os termos classificatórios: velho, velhote, idosos, terceira idade. In: BARROS, Myriam Moraes Lins de (Org.). Velhice ou terceira idade? Rio de Janeiro: FGV. p. 69-84.
RODRIGUES, José Carlos (2006). Tabu da morte. Rio de Janeiro: Fiocruz.
SONTAG, Susan (1972). The double standard of aging. The Saturday Review, New York, p. 29-38, 23 Sep.
TELLES, Lygia Fagundes (1998). Seminário dos ratos. Rio de Janeiro: Rocco.
TELLES, Lygia Fagundes (1999). As horas nuas. Rio de Janeiro: Rocco.
TELLES, Lygia Fagundes (2009). A noite escura e mais eu. São Paulo: Companhia das Letras.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a) Os(as) autores(as) mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons de Atribuição-Não Comercial 4.0, o que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
b) Os(as) autores(as) têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d) Os(as) autores(as) dos trabalhos aprovados autorizam a revista a, após a publicação, ceder seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais e similares.
e) Os(as) autores(as) assumem que os textos submetidos à publicação são de sua criação original, responsabilizando-se inteiramente por seu conteúdo em caso de eventual impugnação por parte de terceiros.