Mundos da morte: Representação e transição do morrer em Tolstói

Autores

  • João Paulo Campos Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.26512/cmd.v3i2.8890

Palavras-chave:

Mundos da morte; Medicalização da morte; Literatura Russa; Leon Tolstói.

Resumo

Este estudo introduz uma discussão sobre a obra A morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói, considerando a experiência de sua personagem principal como formalização de uma transição paradigmática nas formas de relação com a morte na Rússia. A presente interpretação busca lançar novos olhares sobre esta obra canônica, demonstrando como o drama de Ivan Ilitch revela um momento em que a Rússia czarista se encontrava num processo de transição rumo a um contexto de medicalização da morte individualizada, características do processo civilizatório europeu. A obra explora um momento, parafraseando Michel Vovelle (1987), de reviravolta da “sensibilidade coletiva” entre os russos, momento em que formas de ver e experimentar a vida e a morte se encontravam em debate e transformação. Dessa maneira, Tolstói justapõe dois mundos distintos - a tradição campesina russa e o mundo burguês ocidental - numa narrativa tensionada, levando-nos a uma experiência próxima em relação a um importante dilema enfrentado pela sociedade russa oitocentista: a importação de ideias e modos de vida ocidentais através de uma elite cosmopolita frente a tradição campesina russa, fortemente influenciada pela vida comunitária e religiosa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves,v.1, 1989a.

______. Sobre a história da morte no ocidente: desde a Idade Média. Lisboa: Editorial Teorema, 1989b.

______. “Uma antiga concepção de além”. In: BRAET, Herman; VERBEKE, Werner. A morte na Idade Média. São Paulo: Edusp, 1996.

BERLIN, Isaiah. Pensadores russos.São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

BOURDIEU, Pierre; CHARTIER, Roger. O sociólogo e o historiador. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade.Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. “Drama Social: Notas sobre um tema de Victor Turner”. Cadernos de campo, n. 16, p. 127-137, 2007.

COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1999.

DIDION, Joan. O ano do pensamento mágico.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

DOSTOIEVSKI, Fiódor. Correspondências (1838-1880).Porto Alegre: 8Inverso, 2011.

ECO, Umberto. Os limites da interpretação.São Paulo: Editora Perspectiva, 2010.

ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos.Rio deJaneiro: Zahar, 2001.

______. Envelhecer e morrer. In: A solidão dos moribundos.Rio de Janeiro: Zahar. 2001.

______. O processo civilizador.Rio de Janeiro: Zahar, v1, 1994.

FLORIANI, Ciro Augusto. Moderno movimento hospitace: kalotanásia e o revivalismoestético da boa morte.Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/849/919, último acesso em 11/04/2014.

FRANK, Jospeh. Pelo prisma russo.São Paulo: Edusp, 1992.

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia.São Paulo: Cosac Naify, 2011.

GOMIDE, Bruno Barreto (org.). Antologia do pensamento crítico russo (1802-1901).São Paulo: Editora 34, 2013.

GORER, Geoffrey. The pornography of death.Disponível em: http://www.romolocapuano.com/wp-content/uploads/2013/08/Gorer.pdf, último acesso em 12/04/2014.

GORKI, Maksim. Minhas universidades. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica.Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

MAUSS, Marcel. A expressão obrigatória dos sentimentos (rituais fúnebres australianos). In: Figueira, S (org.). Psicanálise e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alvez, 1974.

OEXLE. Otto Gerhard. A presença dos mortos. In: BRAET, Herman; VERBEKE, Werner. A morte na Idade Média.São Paulo: Edusp, 1996.

RÓNAI, Paulo. “Sobre Tolstói e a morte de Ivan Ilitch”. In: TOLSTÓI, Lev. A morte de Ivan Ilitch. São Paulo: Editora 34, 2009.

SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar. In: Ao vencedor as batatas. São Paulo: Editora 34, 2000.

TOLSTÓI, Lev. Anna Kariênina.São Paulo: Cosac Naify, 2013.

______. A morte de Ivan Ilitch. São Paulo: Editora 34, 2009.

______. Quem deve aprender a escrever com quem, as crianças camponesas conosco ou nós com as crianças camponesas? In: GOMIDE, Bruno Barreto (org.). Antologia do pensamento crítico russo (1802-1901).São Paulo: Editora 34, 2013.

TURNER, Victor.2008. Dramas, campos e metáforas.Rio de Janeiro: EdUFF.

VOVELLE, Michel. As almas do purgatório ou o trabalho de luto.São Paulo: Unesp, 2010.

______. Ideologias e mentalidades. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

Downloads

Publicado

2016-01-11

Como Citar

Campos, J. P. (2016). Mundos da morte: Representação e transição do morrer em Tolstói. Arquivos Do CMD, 3(2), 57–78. https://doi.org/10.26512/cmd.v3i2.8890

Edição

Seção

Artigos de Dossiê